quando é lhe dado o dom da arte;
o gosto por ela;
a adoração à tal;
mas não é lhe dado um motivo para viver,
uma razão para amar...
você se torna um escravo do que lhe move.
Engula a tinta amarela, e sinta pela última vez, o gosto amargo da felicid...
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A tinta amarela...
Ela escorreu pela minha pele. Desceu por todo meu corpo. Me arrepiei como nunca, sentindo cada pelo do meu corpo subir e abaixar lentamente... Escorreu das minhas coxas até meus pés descalços. Escorreu dos meus pulsos até dentro da minha camisa... não pude conter uma risadinha baixa, de medo. Mas algo estava diferente... Dessa vez, doía. Machucava.
Nunca senti essa sensação antes. É nova para meu ser, a sensação de que arde e pulsa por onde aquela bela tinta vaza. Ela antes tão sorridente, que manchava meus aventais nos dias quentes de sol ao som de pássaros e folhas, ou que dava vida aos meus tão preciosos quadros tais quais eu vendi na rua ou guardei em minha garagem... Porém... todas essas vezes em que eu via o líquido brilhar... aquilo nunca me mutilava, então por que?
Meu pincel não é menos útil agora, apenas por ser uma lâmina. O estilete percorreu meu corpo como as cerdas dos pincéis percorreram minhas telas, então por que agora não é mais tão bonito? - Meus cortes pesam.
Eu olhei para baixo e ela pingava no chão onde estava. Me inclinei mais para frente, e vi cair junto com ela alguns pingos de tinta azul, que molharam meu rosto. De onde eles estão vindo, se não chove? Eles molham meu rosto e desabam lentamente, pingando no profundo rio que se encontra metros abaixo de mim. - Eu estou chorando?
Algumas pessoas andam atrás de onde eu me apoio, mas nenhuma delas sequer me olha... por quê?? Uma obra arte não deve ser... apreciada?
Por que? Por que? Por que? Por que? Por que? Por que? Po- Ink!
Ink?...
- Ink! Sai daí, por favor! - Essa era a voz de Swap, eu sabia que ele estava ali, apesar de só ser capaz de enxergar alguns borrões azuis e brilhantes. Têm formatos circulares e cheiro de sal. É lindo.
Mas não tanto quanto o borrão amarelo e branco ao lado dele. É grande, em formatos de estrelas. Cheiro de açúcar mas meio amargo... esse é Dream, pude ouvir sua voz gritar logo em seguida, e virei o rosto para frente mais um vez.
- Ink, você ouviu ele, por favor... venha para cá!
Ah, sim... agora eu me recordo. Eu estou em uma ponte, na cidade. O maior rio está abaixo de mim. Ele é um ponto turístico muito bonito e cá estou eu agora, apoiado do lado de fora do corrimão, me segurando fortemente. Eu não sei como vim parar aqui... mas eu sei o que estou fazendo.
Eu... eu não quero perder meus amigos. Swap não para de implorar para eu voltar para lá. O choro de Dream... eu posso sentir sua vibração... mesmo que não me doa tanto agora... eu já estou quase apagando.
- Ink, nós saímos daqui e podemos... i-ir comer tacos! E-eu te compro aqueles c-cupcakes coloridos! Por favor...
- Blue, m-minha pressão...
Dream sussurrou e caiu. Swap se abaixou para segurar ele no chão, o loiro chorava como uma criança... Pessoas começaram a cercar a ponte nas ruas e carros pararam no acostamento. Todos correram para o ponto turístico e começaram a me observar de longe. Tinham medo de se aproximar. Talvez pensassem que se estivessem longe, eu hesitaria... Olhei para o lado e vi Cross e Epic correndo em direção aos dois garotos.
