Capítulo 1: antes

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Eu estava sentado na frente do quarto dos meus pais lendo meu gibi, na minha pequena poltrona azul que batizei como:  the soothing blue armchair.

Quando é possível escutar o som dos passos do meu pai se aproximando de mim, automaticamente corrijo minha postura e faço com que minha coluna esteja totalmente correta, ele passa por mim sem nem trocar olhares ou ter um diálogo matinal comum, apenas saiu apressado para o quarto, possivelmente foi participar de alguma reunião on-line da sua empresa, ou foi reclamar algo com a minha mãe, como sujeira em algum móvel ou tempero exagerado no almoço. 

Meu pai sempre foi machista e sempre quis que minha mãe se submetesse a suas ordens escrotas, minha mãe nunca se submeteu, ela é extremamente feminista e ela sempre alega que "tá pra nascer um homem que vai mandar em mim!" ela está certa, afinal não há motivos para reclamar de algo que ele nunca fez, minha mãe sempre foi a frente do seu tempo, o que torna ela totalmente liberal.

Me direciono para meu quarto puxando a poltrona para ele, como meu pai terminara de ignorar minha presença, preferi prosseguir minha leitura sozinho para não correr o risco de atrapalhar o meu pai no que estiver fazendo, mas sou interrompido pelo barulho da notificação do meu celular que me intriga internamente, agarro meu celular com um certo nível de nervosismo que percorre meu corpo, quando vejo o remetente da mensagem que é o meu irmão me chamando para sair, automaticamente rejeito o convite. 

DYLAN: Sai desse quarto, vamos sair 

****: Não, preciso terminar de ler

DYLAN: Deixa de ser careta e vamos

****: Já disse que não!!!


É claro que é mentira, eu não pretendo sair com o meu irmão que só quer causar confusão em público, desisti da leitura enquanto arrastava minha poltrona para o meu quarto, decidi que vou escrever cartas para mim mesmo, relatando os meus sentimentos e se existir, talvez manifestar algo através da lei da atração, então procuro alguns papéis e canetas dentro das minhas gavetas, ao achar, corro para a the soothing blue armchair  e começo a escrever.

 Querido amigo

Não sei para quem exatamente esta carta é destinada, mas espero que seja para alguém especial, alguém que não julgue os meus sentimentos e pensamentos, até porque se eu gostar de me expressar escrevendo, você quem seja vai ter que me aturar pelo resto dos meus dias.

Não me sinto bem esses últimos dias, me sinto mal por ter que conviver com pessoas extremamente individualistas, apesar de não ser algo algo tão ruim, uma família não deveria viver nessa situação, afinal, deveríamos ser unidos.

Ultimamente falto muito na escola, pois não consigo me sentir feliz lá, sinto que todos estão me apunhalando pelas costas, não existe um "motivo" para ir  para a escola, muito menos um para voltar lá todos os dias úteis da semana, espero melhorar daqui pra frente, não quero permanecer nesse estado ansioso pra sempre.

Com amor

****.

Sinceramente não vi diferença em escrever os meus sentimentos, até porque não escrevi tanto, mas acho que isso já deve ajudar em algo, esse trabalho aparenta ser subjetivo, nós não o vemos sempre, mas sabemos que ele está lá. Como acho que não faz diferença alguma, largo o papel e a caneta e fico de pé, observando a minha prateleira com os livros que eu mais gosto, não li todos, mas o meu carinho por eles é maior que qualquer sentimento que eu sinto por algo ou alguém, até pela minha família.

 Não sei se devo ter esse sentimento pela minha família, poxa, se não fosse eles, acho que eu não estaria aqui, de qualquer forma eu fui criado a base de influências, meu irmão por ser mais velho sempre me ensinou tudo, já que meus pais nunca tiveram tempo, estavam sempre trabalhando para nos dar o do bom e do melhor, mas essa influência não foi boa, caso fosse boa, eu não estaria assim, pensando em formas de não incomodá-los, mas para isso acontecer, eu devo evitá-los.

Vejo a leitura como um meio de fuga, fugir da realidade, dos ambientes e de conversas, apesar dos meus livros serem de romance, a maioria, eu costumo não ter uma expectativa alta para o amor, geralmente os romances que leio são meio traumáticos, como é assim que acaba, o lado feio do amor, as mil partes do meu coração... Já deu pra perceber que minha autora favorita é a Colleen Hoover, me apeguei aos seus livros tem pouco tempo, o que mais gosto das obras de sua autoria é que ela deixa tudo de forma real, acho incrível a forma que ela coloca cada tema dentro da realidade, de forma exagerada, mas coloca. Me posiciono perto da prateleira e penso em qual livro devo ler, não consigo decidir nada esses últimos dias, é notório o meu nível de compras absurdamente altas na amazon, eu voltei a comprar livros compulsivamente, mas acho que não é uma boa hora para revelar a qualquer pessoa dentro dessa casa o motivo e a necessidade que tenho em fugir da realidade nesse exato momento da minha vida. 


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