3- Estrada

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  Após o motor dar os últimos trancos sendo forçado a continuar, ele finalmente desistiu e parou. Peguei o mapa que eu usava para anotar o caminho. Talvez uma sete ou nove horas de caminhada até eu estar completamente fora da cidade e depois mais um dia e meio de caminhada até estar em casa. Deitei a cabeça no volante frustrada, minha cabeça pesava e eu ainda sentia o gosto e o ardor da gasolina na boca, minha cabeça agora doía muito

- vamos parar por hoje, temos mais uma hora de luz do sol, vamos arrumar um lugar para passar a noite e ver se você consegue dormir um pouco - Adam se pronúncia depois de horas em silêncio

- é, vamos ver - Simon diz pegando sua mochila.

 Simon tinha o cabelo bem curto e loiro escuro, era mais magro do que deveria e tinha olheiras escuras em baixo dos olhos, sua aparência me lembrava o típico personagem de jogo apocalíptico, roupas escuras e descoladas, sempre com pequenas manchas de sangue.

 Saio do carro jogando a mochila nas costas e começo a caminhar, já não havia mais prédios, os poucos zumbis que apareciam era mais fácil de matar, eu entrei em três casas para vasculhar e não encontrei nada que fosse realmente ajudar. Na quarta casa, haviam uma coleção de gibis infantis com um cheiro forte de mofo. Histórias bobas sobre primeiro amor e escola, e foi por isso que decidi dormir ali.

[•••]

- não escuto nada, vou proteger a casa o máximo que conseguir e vou dormir - digo saindo de perto das janelas, eu não aguentava mais ficar de pé

- Grace, falta pouco mais de um dia para estarmos em casa - Simon advertiu

- você pode dormir quando chegarmos lá, você já foi tão longe - Georgia tenta me consolar

- não consigo mais, minha visão está turva e meus remédios pra dor de cabeça acabaram - digo estressada e já cansada demais

- Grace - Adam me chama - não estamos seguros ainda

- se não gostaram, fiquem vocês de vigia - digo por fim, me levanto e vou até o quarto. Arrasto uma cómoda pesada para frente da porta, uso o guarda roupa para tampar a janela e os cadarços do tênis para reforçar a trança da porta.

Me jogo na cama sem antes sacudir os lençóis, partículas de poeira voam me fazendo espirrar e o ato machuca minha garganta queimada. Poucos segundos depois, já estou dormindo.

[•••]

- isso foi perigoso - Simon é o primeiro a falar algo quando saio do quarto, todos estão prontos para sair, com as mochilas nas costas, parados de pé me olhando.

- eu não ligo - digo um pouco mais relaxada - preciso comer alguma coisa

  Ao saímos da casa é preciso matar os dois zumbis no portão, continuamos a caminhada, eu olhava o mapa de vez em quando e continuava, matando alguns infectados que eu via no caminho.

- minhas pernas estão péssimas - Georgia diz - não podemos parar?

- Grace? - Adam me pergunta

- não, vamos continuar - digo mesmo sentindo minhas panturrilhas queimando

 Após alguns minutos de caminhada, escutamos latidos, vários latidos, tiro minha arma e minha faca do coldre sabendo que aqueles latidos atraíram alguma coisa, porém o espanto veio quando o cachorro apareceu na rua em que estávamos, correndo em nossa direção.

 Seguindo o cachorro, uma pequena horda com cerca de trinta deles, entre tropeços e rosnados, agora vinham na nossa direção.

- merda - Simon se manifesta antes de eu começar a correr.

Que saudade da poltrona de couro

 Um morto não era rápido, não era inteligente e havia muitos meios de fugir de um, o problema estava em quantidade, bastava um grupo de dez para te cercar, e enquanto você mata os que estão na sua frente, suas costas ficam expostas

 Quando viramos para correr, vimos mais alguns surgindo da rua atrás de nós, dez ou talvez quinze.

 A única saída era uma construção grande a esquerda, corri para lá deixando os morto para trás, o cachorro que agora me seguia não parava de latir atraindo ainda mais deles. E sempre que um morto aparecia em nossa frente, os latidos ficavam mais altos

 Chegando na construção, um pequeno prédio de uma fábrica ou escritório suponho, que foi abandonado muito antes das paredes serem levantadas, poderia servir para encurrala-los, porém eu precisaria ser cuidadosa ou seria eu que ficaria presa entre quarenta mortos e uma parede. O cachorro continuou latindo até os mortos começarem a surgir onde estávamos, com a minha faca, matei os dois da frente. Olhando em volta, dava para ver os materiais de construção ainda no local, eu poderia subir no andar mais alto e ficar empurrando eles lá de cima.

 Era uma ideia arriscada, os infectados são quase tão fortes como eram em vida, e bastava que um deles me puxasse ou que dois viessem de uma vez para que eu não conseguisse segura-los. Porém era o único plano que eu tinha em mente.

 Peguei um pedaço de madeira de um metro que tinha ali e comecei a subir até o alto do quarto andar. Era uma grande queda, com sorte eu não cairia junto, os zumbidos foram ficando mais alto conforme eles me seguiam escada acima, mas assim que um deles apareceu no quarto andar, usei a madeira como lança, empurrando o infectado para a queda

E ele caiu, fazendo um som seco ao chegar no chão, e logo depois chegou outro. A cada morto, apareciam dois, um deles forte o bastante para que eu tivesse que fazer muita força para empurrar, deixando uma brecha para que outros três viessem de uma vez para cima, usei a arma e logo estava com a madeira de volta na minha mão

Eu precisava aguentar firme, mesmo que minhas pernas queimassem de exaustão ou meus braços tremessem já mais fracos, eu precisava segurar. O cachorro que continuava latindo, saltou em um dos mortos que estava perto demais de mim o levando ao chão, ele começou a morder o pescoço e o rosto do zumbi que levou as mãos até o corpo do animal. Escutei o grito de dor e então o choro enquanto empurrava outro infectado para a beirada, ao olhar para trás pude ver o cachorro tentando, em desespero, se livrar dos braços mortos e da boca que mordia abaixo do pescoço

Corri em sua direção, usando a faca para parar o infectado e soltar o cachorro que chorava e se encolhia atrás de mim. Olhando agora para a escada, faltavam poucos o suficiente para que eu abandonasse o pedaço de madeira e fosse para cima deles apenas com a faca.

Próximo dos corpos dos últimos seis infectados agora deitados imóveis no chão, estava o cão ferido, a carne exposta já havia tingido o pelo de vermelho vivo, o chiado que saia de sua boca era doloroso de ouvir. Me aproximei devagar, ele fez menção de morder minha mão quando me aproximei e recuei

- eu sinto muito - sussurro pegando o revolver

Era minha última bala, que usei para acabar com o sofrimento do cachorro que salvou minha vida

GraceOnde histórias criam vida. Descubra agora