Capítulo I

8 1 0
                                    


03 de Setembro de 2017
Hospital de Emergências

Em um quarto branco, onde só tinha apenas uma janela ao lado da cama, que mostrava o lado de fora do hospital. Um jardim de tamanho médio, que era bastante frequentado pelos pacientes que se recuperam de alguma cirurgia que fizeram. Um lugar calmo e quieto. Um ótimo ambiente para se ter paz depois de passar por tantos conflitos…

Poderia até mesmo imaginar que o paraíso ficava alí.
Era o que ela pensava enquanto observava com certa dificuldade o jardim, por causa das ataduras em seu rosto que a impediam de ver as coisas lá fora. Sua expressão era calma e serena enquanto fitava a garota de cabelos escuros passeando pelo jardim junto com uma bela senhora que estava sentada numa cadeira de rodas. Podia ouvir, mesmo que de longe, as risadinhas que elas soltavam. Não sabia sobre o que elas estavam conversando, mas parecia ser algo legal.

Desde que acordou de um pequeno coma, só ficou observando a janela. Nunca tentou se mover e nem mesmo falar. O que mais importava para ela, era somente olhar para o jardim todos os dias e toda hora, nada mais.
Bom, não era isso que a sua enfermeira pensava. Uma mulher de estatura baixa, vestida com seu uniforme hospitalar, adentra no quarto se deparando com a mesma imagem que vê todos os dias quando vem visitar a sua paciente. A enfermeira deu um sorriso curto e caminhou até a cama onde se encontrava ela. Que mesmo ouvindo o caminhar leve da mulher chamada Jane, a enfermeira, continuou com seu olhar para o jardim.

Jane a fitou com pesar. Não sabia muito bem o motivo dela sempre estar olhando para a janela. Mesmo que esteja fazendo bastante sol ou quando anoitece para poder fechar as janelas do hospital, ela sempre continuava a olhar para onde ficava o jardim. Achava que ela sentia apenas vontade de sair do quarto e ir para o lado de fora para poder respirar um pouco o ar puro, mas como não podia por ter ficado em um estado vegetativo, não podendo mexer os músculos do corpo, achou que fosse esse motivo para ela ficar apenas observando a janela.

Querendo apenas ajudá-la a se sentir melhor, Jane levantou a parte da cabeceira da cama para que a sua paciente pudesse ficar sentada e vislumbrar melhor a paisagem lá fora sem estar deitada. Após isso, abriu mais as cortinas deixando o ar circular pelo quarto, sentindo a brisa bater contra seu rosto. Jane deu uma olhada rápida na mulher que cuidava, e com um sorriso singelo, se acomodou em uma parte vazia da cama, passando a apreciar o lado de fora também. As duas olhavam para a garota e a senhora que agora estavam caminhando para fora do jardim enquanto conversavam animadamente.

— Sentirei saudades dela — comentou a enfermeira — a dona Cibele é uma senhora muito gentil. E a neta dela também, um amor de pessoa.

Jane não sabia, mas ela a escutava atentamente a cada palavra desde que mencionou a garota do viridário.

— Felizmente a avó dela ganhou alta e poderá ir embora ainda hoje — disse observando as mencionadas saírem de vez do jardim — o ruim é que não veremos elas novamente.

Após ter dito isso, a enfermeira se virou assustada quando sentiu algo bater em seu quadril se deparando com a mulher que cuidava de começar a tremer do nada e não tinha reparado no seu olhar fulminante que jogava para si. Ela tremia dos pés a cabeça como se estivesse tendo um piripaque. Viu pelo monitor sinais vitais que seu batimento cardíaco estava muito rápido.
Jane rapidamente se levantou da cama e foi correndo até a porta do quarto na intenção de ir buscar medicamentos, como sedativos, para ajudá-la a se acalmar. Porém, foi parada bruscamente quando escutou um estrondo se alastrar pelo cômodo. Se virou espantada se deparando com o monitor jogado no chão junto com o suporte de soro e aquela que deveria estar sentada na cama sem se mexer, agora se encontrava em pé, segurando uma mangueira de silicone em sua mão direita.

— Ei… você conseguiu se levantar.

Jane disse enquanto sorria de nervoso. Não era muito normal uma pessoa que estava em um estado vegetativo se levantar daquela forma tão brusca. A tremedeira tinha parado e agora ela se mantinha em pé olhando para o chão. O seu peito doía por causa do susto que tomou naquela hora e passou a tentar se acalmar. Suspirando fundo, passou a caminhar em passos lentos e cautelosos até ela, e enquanto tentava se aproximar, viu que o seu braço esquerdo estava com os fios de soro arrancados e sangrava. Mas o que mais lhe surpreendeu foi ver um líquido roxo se misturando junto com o sangue dela. Era estranho, nunca tinha visto tal coisa como aquela.

Jane engoliu a seco quando sentiu um presentinho estranho surgir em seu peito, mas apenas ignorou isso e continuou andando até a mulher que ainda estava parada como se estivesse olhando para o nada. Quando enfim se aproximou dela, levou suas mãos trêmulas até os ombros da mulher, forçando um pouco para que ela se sentasse na cama novamente.

— Por que não se senta um pouquinho para que eu possa olhar o seu braço, sim?

Suspirou em alívio quando ela voltou a estar sentada na cama de novo. Deixou com que uma risada nervosa saísse de seus lábios e limpou o suor que escorreu pela sua testa. Por um momento achou que iria ser atacada como naqueles filmes de terror, mas percebeu que era apenas uma mera bobagem sua.

Mirou seu olhar para o braço machucado dela, ficando surpresa quando viu aquele líquido roxo se expandir quase tomando o braço todo com aquela cor específica. Não sabia muito bem o que era aquilo, mas tinha certeza que precisava fazer uns exames o mais rápido possível para saber o que estava acontecendo com aquele braço. Mas primeiro, precisava fazer aquele sangramento parar e para isso, se virou novamente para pegar as coisas necessárias para estancar o sangue. Quando de repente sentiu algo agarrar o seu pescoço, a puxando de volta para trás, fazendo-a sentir todo o seu ar fugir de seus pulmões após sentir o aperto em seu pescoço se agravar ainda mais.

Aquele pressentimento que sentiu alguns minutos atrás voltou com tudo junto com arrependimento. Deveria ter fugido quando teve oportunidade.
Mesmo sendo estrangulada, Jane tentou lutar, usando suas unhas um pouco grandes para arranhar a mulher que tentava lhe matar. Porém, o que conseguiu foi apenas fazer leves arranhões e arrancar uma pequena parte da atadura em seu rosto.

Aos poucos, foi parando de se debater e quando percebeu, já estava tomada pela escuridão da morte. A mulher que tinha lhe estrangulado, apenas fitava Jane sorrindo satisfeita depois de tê-la matado.

O sentimento desconhecido por si de querer matar mais se apossou em seu corpo e não pensou muito em pegar uma seringa qualquer e começar a meter no pescoço da enfermeira, se divertindo com o sangue jorrando em seu rosto e no chão. Quando se deu por satisfeita, levou suas mãos até a garganta de Jane passando a apertar com força, como se quisesse que a cabeça dela explodisse em suas mãos, o que claro não aconteceu. Levantou com suas mãos sujas com o sangue daquela mulher que se misturou com aquele líquido roxo esquisito. Não ligou muito para o seu estado, apenas caminhou até a porta do quarto querendo sair logo dali e encontrar aquela pessoa novamente.

Mesmo depois de ter feito um caminho vermelho por onde passava pelo hospital, deixando corpos mortos para trás, se enfureceu mais ainda depois de perceber que aquela que procurava, já tinha partido do hospital faz muito tempo.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Oct 15, 2022 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Onde está Verônica?Onde histórias criam vida. Descubra agora