Fazenda Goytacazes, 1920.
- Minha nossa senhora do bom parto, ajuda a minha filha! Força filha! Você consegue! A baronesa falava aflita para Anastácia sua filha.
- Ahhhhhh... eu não consigo! Mãe me ajuda! Ahhhhhhhh!!!! Anastácia não conseguia mais fazer força.
- É melhor chamar alguém sinhá, esse parto tá muito difícil! Falava a mucama que estava ajudando no parto.
- Não, ninguém pode saber do nascimento desse bebê! A baronesa andava de um lado pro outro no quarto.
- Tá coroando! Eu tô vendo tá coroando! Faz força Anastácia, faz força! Gritava a mucama.
- Ahhhhhhhhhh!!!!!! Anastácia deu seu último grito junto com sua última força.
- Nasceu!!!!! O choro do bebê ecoou pelo quarto. - É um menino Anastácia, é um menino! Eu vou banha ele e já te dou minha filha! A mucama levou o bebê para tomar um banho enquanto Anastácia recuperava a força.
- O que vai ser desse bebê agora Anastácia? A baronesa continuava aflita.
- Eu já disse mãe! Ele é meu filho, eu quero criar!
- Seu pai jamais há de aceitar isso! Um filho bastardo!E a baronesa tinha razão, o barão que havia chegado mais cedo de uma viagem, ouviu o choro do bebê e seguido de seu capataz invadiu o quarto da filha aos berros, lhe tirando o filho dos braços e entregando ao capataz.
- Não meu pai, por favor, não! Me deixe criar o meu filho, por favor! Anastácia gritava em vão. Ela só conseguiu antes de lhe arrancarem o filho dos braços colocar um medalhão com uma foto dela no meio das roupas do menino, na esperança de um dia poder encontra-lo.
- O que eu faço com ele barão? Perguntou o capataz.
- Joga do penhasco! E que ninguém fique sabendo disso!A mucama que ouviu a conversa dos dois homens correu até o penhasco, e com muito custo conseguiu convencer o capataz a colocar o menino num cesto e deixar a correnteza levar, deixando assim o destino do menino nas mãos do criador.
O cesto desceu rio abaixo levado para longe pela correnteza forte.
E guiado pelas mãos de Deus, aquele pequeno bebezinho foi parar no Sítio Dom Pedro II.
E foi acolhido pela família de Eponina....
Na Fazenda Goytacazes, Anastácia sofria a separação do filho. Trancada em seu quarto pelo pai, ela não podia sair, muito menos podia ir atrás do bebê, que o barão pensava já estar morto.
Sentada em frente a janela de seu quarto, ela olhava a tarde chegar, o sol sumindo aos poucos como naquele dia em que conheceu Ernani.
- Boas tardes senhorita! Me chamo Ernani Felipe dos Santos! E a senhorita, qual é a sua graça?
- Anastácia de Goytacazes! Muito prazer!
- O prazer é todo meu!
Foi uma paixão juvenil, mas foi muito intensa. Anastácia se lembrava de cada momento vivido durante aquele verão e em especial a noite em que seu filho fora concebido.
Seus pais haviam saído e Ernani apareceu com flores a chamando para um passeio ao luar.
E entre os beijos e juras de amor, os dois se entregaram ao desejo da carne pela primeira vez.Mas tudo mudará quando Anastácia o procurou para falar da gravidez, tão rápido quanto se apaixonaram ele fugiu para Belo Horizonte com seus pais, a deixando sozinha a mercê do destino.
E que destino cruel o seu, nove meses fugindo de seu pai, escondendo a gravidez, para no final ter seu filho arrancado de seus braços e agora estar ali, presa como uma criminosa que só recebe três refeições por dia e não pode ver nada além daquela maldita janela que só lhe trás recordações que preferia esquecer.As lágrimas descem no rosto da jovem Anastácia. E perdida no meio de tantos sentimentos conflitantes, ela se ajoelha em frente a imagem de nossa senhora e clama para que ela lhe ajude a encontrar seu filho e uma saída daquela prisão disfarçada de lar.
A porta se abre bruscamente tirando Anastácia de seus pensamentos e preces.
- Arruma tuas coisas, você vai para Belo Horizonte com teu marido! O barão entra gritando no quarto.
- Marido? Que marido papai? Papai por favor, me deixa ir embora, eu prometo que sumo de suas vistas e nunca mais o senhor me verá, só me deixa ir!
- Você já vai sumir das minhas vistas, mas vai sair daqui casada!
- Casada? Casada com quem? Meu pai, meu pai.... ela gritava em vão pois o barão após dar sua ordem já se havia partido, deixando apenas a mucama para lhe ajudar e o capataz para garantir que ela não fugisse.Parado na entrada da fazenda estava um senhor, ao que parecia também um barão, bem mais velho que Anastácia, sisudo, de modos um tanto grosseiros.
- Você é Anastácia? Ele perguntou ao ver a jovem adentrar o recinto.
- Sim senhor, sou Anastácia de Goytacazes! Ela respondeu um tanto tímida por não saber quem era aquele homem.
- Bom, pois a partir de agora, não é mais. Agora tu és Anastácia Souza Sampaio, minha esposa e futura mãe dos meus filhos! Ele segurou o queixo da jovem com força olhando seu rosto. - Teu pai não mentiu quando disse que eras uma jovem muito bonita. Vamos pega tua mala que tenho pressa em partir!
- Não, por favor, eu não quero ir!
- A senhora não tem querer, teu pai já assinou os papéis no cartório, és minha mulher e vai comigo agora! O homem a puxou pelos braços em direção ao carro parado no fim da escadaria da fazenda.
- Nãooooo! Mamãe por favor me ajude! Não, papai por favor! Anastácia gritava enquanto era arrastada pela escadaria e colocada dentro do carro.Em seu quarto trancada a chave, a baronesa chorava ouvindo os gritos de sua filha sem nada poder fazer.
***
Em Belo Horizonte, Ernani discutia com seu pai mais uma vez. Foram meses de discussões e súplicas para que o pai o deixasse voltar a Piracema, para buscar Anastácia.
- Papai, o senhor não pode me impedir! Ela está grávida de um filho meu, eu preciso voltar!
- Estás louco Ernani, se o barão descobre que você desonrou a filha dele, ele te mata!
- Eu não me importo meu pai, eu so preciso fazer o que é certo, ela já deve estar perto de ganhar nosso filho, por favor meu pai, é seu neto!
- Tu vais, mas leve contigo dois homens de minha confiança, para lhe garantir a vida!
- Obrigado meu pai, eu vou pegar o próximo trem. Obrigado!...
- Sinhozinho, a Fazenda parece vazia! Disse um dos capatazes que estava com Ernani ao chegarem a Fazenda Goytacazes.
- Meu Deus! Eu demorei demais a voltar! Vamos procurar por alguém, alguém tem que ter uma informação!- Com licença! Ernani avista a velha mucama de Anastácia. - A sra era mucama de Anastácia, não era?
- Era sim sinho! Mas eles foram embora tem alguns dia já e como tô velha, me deixaram pra trás!
- Eu sou Ernani, a sra não se lembra de mim!?
- Lembro sim meu rapaz, ocê foi o amô de sinhá Anastácia, que emprenho ela e adispois sumiu!
- Eu não sumi por querer, meu pai me obrigou a ir com ele quando contei que Anastácia estava grávida, ele teve medo do barão, me levou daqui a força!
- Pois ocê vorto tarde rapaz! Dizia triste Mazé. - O barão deu a sinhá em casamento pra um homem da cidade grande, a pobre saiu daqui arrastada coitadinha!Ernani se sentou na escadaria desnorteado, seu coração doía de saber que sua amada Anastácia havia sido levada a força num casamento arranjado.
- Qual o seu nome minha senhora?
- Mazé sinhozinho!
- Eh Mazé, e meu filho? O que foi feito do meu filho?
- Acho mio o sinhozinho entra que essa história nem todos pode sabe, vem comigo!Maze levou o rapaz até a cozinha e lhe contou tin tin por tin tin tudo que se passara desde que ele abandonara Anastácia.
- Então meu filho pode estar vivo Mazé?
- Pode sim sinhozinho!
- Eu vou encontrar ele Mazé e depois vou encontrar Anastácia, eu te prometo! Agora vai arrumar tuas coisas que você vai comigo para Belo Horizonte.E assim se deu início a triste história de Anastácia e Ernani. Unidos por um amor juvenil, e separados pela maldade humana.
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Anastácia
FanfictionToda mulher forte tem atrás de si uma história de lutas e amarguras. E com Anastácia não foi diferente. Depois de ser abandonada grávida, ter seu filho arrancado de seus braços e enfrentar um casamento arranjado com um homem perverso. Anastácia se t...