Cap. 10: Como se fosse a última vez

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Anastácia voltou para o quarto,um calor subia por todo o seu corpo, o coração acelerado, as pernas bambas, e o gosto do beijo de Ernani ainda em sua boca.
Era impossível acreditar que depois de tanto tempo um único beijo pudesse causar todas aquelas sensações.

Ela foi ao banheiro e jogou água no rosto tentando apagar o fogo que se acendia dentro dela, mas foi em vão. Por mais que ela dissesse que não queria aquelas carícias, seu corpo dizia o contrário, ela o queria, tanto quanto o quis 25 anos atrás e tanto quanto o desejou em cada dia de sua vida.

Mesmo a mágoa sendo grande, Anastácia nunca deixou de amar Ernani, ele foi seu primeiro, e provavelmente único amor.

Quando casada com Sampaio, era a noite passada nos braços de Ernani que a consolavam após as noites com o marido. Quando Sampaio a tocava, era em Ernani que ela pensava, para tentar diminuir a repulsa que ele lhe causava. Nas noites sozinha naquele solar era com Ernani que ela sonhava. Ela o amava, o desejava. Mas a dor que vinha junto com as lembranças de Ernani também era grande e ela não iria deixar seu coração se machucar mais uma vez por conta desse desejo insano que sentia por ele.

O dia já estava amanhecendo quando enfim ela pegou no sono.

Já passava das dez quando Anastácia acordou e vendo que era tarde logo se colocou de pé, vestiu-se e desceu a procura do filho. Iria tentar convence-lo a passar alguns dias com ela.

- Bom dia! Ela cumprimentou a empregada que arrumava a mesa do café.
- Bom dia senhora! O café já está servido, se a senhora precisar de mais alguma coisa pode me chamar! Falou a moça educadamente.
- Obrigada! Agradeceu Anastácia. - Mas eu gostaria mesmo é de falar com o meu filho Candinho, você sabe se ele já se levantou?
- Já sim senhora, ele saiu cedinho hoje! Respondeu a moça retirando alguns pratos sujos da mesa.
- Saiu? Você sabe me dizer para onde meu filho foi?
- Isso não sei dizer não senhora, mas o senhor Ernani está no escritório, ele deve poder lhe informar melhor! Com licença! Ela saiu levando os pratos.

Tudo o que Anastácia menos queria era falar com Ernani agora, mas precisava saber onde seu filho estava, precisava voltar para casa e sair daquela casa o mais depressa possível, mas não podia ir sem falar com o filho. Ela respirou fundo e seguiu até o escritório de Ernani, dando duas batidas na porta esperou que ele lhe desse permissão para entrar.

- Pode entrar! A voz de Ernani soou tristonha de dentro da sala.

- Com licença Ernani, desculpe-me atrapalha-lo, mas a empregada disse que Candinho saiu e eu preciso falar com ele antes de ir embora! Ela entrou falando tudo de uma vez, queria ficar o menos possível perto dele.
- Você não me atrapalha Anastácia. Na verdade eu já ia te procurar! Ele se levantou e caminhou até ela e apontando para o sofá perto da porta. - Sente-se por favor!

Anastácia notou que ele havia chorado, seus olhos estavam vermelhos.
- Aconteceu alguma coisa Ernani? Ela ficou aflita de repente.

- Infelizmente sim. Candinho recebeu um telegrama pela manhã na primeira hora, Filomena não está passando bem, algo com o bebê e ele juntamente com os amigos do sítio viajou para lá no primeiro trem ainda a pouco! Ernani estava cabisbaixo, preocupado com o seu primeiro neto.

- Mas porque ele não me avisou? Eu teria ido com ele, talvez pudesse ajudar, quem saber trazer a moça para cá! Anastácia ficou ainda mais angustiada pensando no seu primeiro netinho.
- Candinho não quis preocupa-la. Tentei convence-lo a lhe avisar antes de ir, mas meu filho, perdão, digo nosso filho é muito cabeça dura às vezes!

- Bom que seja, se você puder me passar o endereço dessa fazenda, irei para lá no próximo trem! Anastácia se levantou.
- Sendo assim irei com você, a estrada até a fazenda é muito ruim, não é bom que você vá sozinha!
- Não há necessidade Ernani, eu sei muito bem me virar sozinha e, posso levar Maria comigo e tomar um carro de praça ao chegar lá!

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