Piloto

8 2 0
                                    

Ouço ao fundo o toque irritante e persistente do meu celular, porém meu corpo está pesado de mais para qualquer movimento, meus olhos não abrem e tudo que escuto são sons abafados e distantes. Com muita relutância consigo abrir os olhos e percebo que essa não é a minha cama, muito menos a minha casa.
— Porra. Eu não acredito que dormir outra vez fora, Hope vai passar o dia inteiro me buzinando com esse assunto, levanto contra vontade do meu corpo e só então me dou conta da presença de Bertha nua ao meu lado, dou uma conferida em seu corpo, não sou de ferro e ela é linda, morena alta e com cachos até a bunda, ah e que bunda. Sou arrancado desse pequeno devaneio com mas uma chamada, olho ao redor a procura do meu celular e não o encontro, vou catando minha calça pelo caminho e já á visto, assim que pego minha camiseta encontro o celular embaixo, desbloqueio a tela e caralho, tem vinte ligações da minha governanta, e outras de um número desconhecido, não sei ao certo mas meu corpo inteiro gela como se uma corrente de ar tivesse passado por mim , mas coincidentemente todas as janelas do flat estão fechadas. Imediatamente disco o número de Adria a governanta mas a chama até cair na caixa de mensagem e isso me deixa angustiado, visto o restante das minhas roupas rapidamente enquanto ligo repetidas vezes.

— Infernos, pra que caralho tem um celular se não o atende.

Saio pela porta principal esbravejando sozinho, odeio quando não obtenho resposta de imediato, mas sou dono de realizar o mesmo feito. Chamo o elevador indo em direção ao térreo e ao entrar nele antes mesmo de discar a próxima chamada meu celular vibra, mas desta vez não é Adria ou o número desconhecido, é o meu pai. Digamos que minha relação com meu pai seja normal, mas sem proximidade o suficiente para receber uma ligação as nove da manhã, deslizo o dedo na tela e atendo com um pé atrás, e acredite eu não tive tempo de nem dizer Olá.

— Seu irresponsável, você é um desgraçado Angelo, onde infernos você está porra, te procuramos a madrugada inteira e nem você muito menos esses seus amigos merdinhas deram sinal.- tento compreender a intensidade de palavrões e desespero na voz do meu pai, mas tudo que sinto é dor de cabeça.

— Bom dia pai, por que está me xingando dessa forma e aos gritos, nunca foi de se importar com minhas aventuras na vida.- saio do elevador indo para o estacionamento tentar encontrar meu carro.

— Angelo sem gracinhas, o assunto é sério.

— Então diga de uma vez, que preciso chegar em casa antes de Hope acordar ou estarei realmente fudido.- entro no meu carro e aguardo o fim da chamada antes de sair.

— Filho, preciso que me onde tu esta, não posso lhe contar essa notícia se estiver prestes a digirir.- perco minha paciência com todo esse jogo de enrolação

— Me poupe de seus dramas pai, não tenho tempo para isso, diga de uma vez que estou...- ele me corta no meio da frase e solta tudo de uma vez.

— A Hope está no hospital GreySloan, ela sofreu um acidente nesta madrugada quando tentou fugir de toda essa sua merda, Angelo você está ouvindo? Sua esposa porra, a mesma que você deixou em casa sozinha, em troca de uma puta qualquer, está agora no hospital entre a vida e morte porra, será que tem tempo pra isso na sua agenda?

Eu perco voz, perco o ar, sinto meus pulmões arderem e toda força do meu corpo some, o celular cai da minha mão e ao longe escuto meu pai chamando por mim repetidas vezes, mas isso não importa agora, tudo que me vez é a voz dele ecoando na minha cabeça como um loop infernal, a Hope está entre a vida e a morte.
Porra que merda, que tremendo filha da puta eu sou. Na minha cabeça agora tudo que passa é uma jovem de cabelos castanhos e olhos cor de mel de apenas dezeseis anos sorrindo pra mim no altar, a mesma mulher por quem eu fui apaixonado por anos, vejo seus olhos perdendo o brilho no passar desses ano, que merda eu fiz da minha vida. Sinto um surto explodindo de dentro pra fora e soco o volante do carro com toda minha força, como se me machucar tirasse a dor que estou sentindo por ser o culpado do que aconteceu a ela.
Eu prometi protegê-la de tudo, mas eu não fui capaz de evitar que minha ganância e prepotência atingissem ela se forma tão direta.

Giro a chama na ignição e acelerando em direção ao hospital, sei que estou perto, mas minha cabeça está sem rumo e meu chão se abriu a alguns minutos durante a ligação. É meio hipócrita da minha parte está tão desesperado agora que tudo já aconteceu, sendo que a algumas horas atrás eu nem ao menos me importei se Hope estaria a minha espera em casa ou se estaria indo embora de casa. Mas porra ela é a Hope, a mulher mas doce que eu já tive o prazer de conhecer, e eu fui um tremendo babaca pra ela nos últimos dois anos, deixei a luxúria e os desejos carnais que o poder e o dinheiro me trouxeram na bagagem, e fui deixando os valores do meu casamento pra depois. E pra que? Pra está agora correndo como um louco, sem me importar com os sinais ultrapassados ou as multas altíssimas que chegaram no escritórios, fodasse eu tenho como pagar todas, meu nome é forte o suficiente para que essas multas nem cheguem ao sistema. Mas de que vale todo esse poder ? Se a mulher que eu amo está morrendo agora e eu não posso comprar sua vida, e mesmo que sobreviva Hope jamais me perdoará, e ela está certa, sou apenas um fudido de merda.

Cheguei do hospital, com certeza só se passaram poucos  minutos, entro como um furacão e avisto meu pai, que vem na minha direção e percebo que tenha me acalmar.

— ONDE ELA ESTÁ PAI? CADE É A HOPE?- tento passar por ele a todo custo, mas ele me abraça e só então me dou conta que ele está chorando.

— SEU FILHO DA PUTA, MINHA FILHA ESTA MORTA POR SUA CULPA SEU CRETINO SE MERDA.- vejo a mãe dela vindo com tudo, ao chegar perto o suficiente me dá um tapa na cara e vários seguidos por todo lugar que suas mãos alcançam.— VOCÊ PROMETEU ANGELO, QUE CUIDARIA DA MINHA FILHINHA, E OLHA SO ONDE ELA ESTA AGORA? POR SUA CULPA, POR VOCÊ NAO CONSEGUIR CONTROLAR ESSA PORRA DE PAU, ELA VIVEU UMA VIDA POR VOCÊ SEU MONTE DE MERDA.

Confesso que tudo que ouvir ela dizer foi que ela está morta, o resto apesar de provavelmente ser tudo verdade, e até pouco pro que eu realmente mereço, mas eu não ouvi.

— Sr.Saimon por favor acalme se, ou a segurança vai tirá-la do hospital, você provavelmente não quer ir para longe dela certo?.- ela finalmente para de me esmurrar e se afasta caindo em prantos, mas uma vez eu me encontro sem voz, e sem forças. Que moral eu tenho pra chegar aqui gritando? Ela só está aqui por minha causa.

— Por favor pai... Me diz que é um pesadelo ? Me diz que ela ficou bem e que eu vou poder ve-la sorrindo outra vez.- estou sussurrando para que a força da entonação torne isso menos real, tenho medo de dizer alto demais e me dar conta do tamanho do estrago que causei, não só na minha vida, mas na de todos que estão presentes aqui.

— Você fez merda Angelo, e esse é o preço.- eu choro como um bebê desmamado, me abraço ao meu pai e sinto todo o ódio do mundo por mim, me deixei levar pelo dinheiro e ele levou o que eu tinha de mais precioso na vida.

— Familiares de Hope Bryant?. Uma quarta voz ecoa naquela fria sala de espera.

— Sim..sim, sou a mãe dela Hiorana Saimon.

— Sou a Dr. Amelia Shepherd Neurocirurgiã responsável pela sua filha Sr. Saimon, eu.. é.- a médica se perde no meio das frases, e seus grandes olhos azuis não se fixam em nenhum dos presentes na sala, eu conheço bem esse olhar, me afasto do meu pai e começo a dar passos para trás, tentando fugir do que seria dito nos próximos segundos.

— Diga de uma vez doutora, como minha filha está ?.- o desespero da mãe de Hope faz com que a mulher comece a falar.

— Hope sofreu vários traumas em todo o corpo, faturas, hemorragias e muitos edemas, conseguimos controlar todas elas mas... Hope ficou tempo de mais sem oxigênio e houve um edema no cérebro, a pressão intracraniana dela estava muita alta, eu.. eu tentei mas, Hope teve morte cerebral, conseguiram vê-la agora e vai parecer que está apenas dormindo mas, não existe qualquer atividade cerebral, sinto muito.- e ela se vai.

Eu estou longe, mas não o suficiente pra deixar de ouvir que por minha culpa a mulher da minha vida está morta, me sento em um canto qualquer da sala sem me importar se é permitido ou não. Não vejo mas nada, e não outro nada além de um longo e perturbador piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.

E tudo fica escuro.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Oct 18, 2022 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Um Novo Começo Onde histórias criam vida. Descubra agora