Embate no Vilarejo

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Após algumas horas de caminhada, todo o tempo havia se fechado com pesadas e cinzentas nuvens. Uma enorme chuva começou a cair. Tão forte que os pingos de água doíam ao bater na pele. Mas, nem mesmo assim, o Cavaleiro Herege parava de caminhar. Desde aquela manhã ele caminhava sem parar. Artur mal podia sentir seus pés enquanto esforçava-se para acompanha-lo.

- Precisamos parar um pouco, essa chuva está muito forte! - Gritava Artur tentando superar o forte barulho do vento.

- Você pode parar... - Disse o Cavaleiro Herege. - Eu não pedi para que me seguisse...

- Você não está cansado?! - Perguntou Artur surpreso. - Ainda não parou para descansar, mesmo depois daquela batalha! E ainda continua caminhando sem parar desde o amanhecer!

- Você fala demais... Garoto... - Respondeu o cavaleiro.

- Essa chuva está muito forte! - Artur quase foi levado pela força do vento nesse momento. - Está machucando muito!

- Hum... - Resmungou o cavaleiro

Quando Artur estava prestes a desistir de continuar caminhando, o cavaleiro fez um gesto com a mão, apontando para uma caverna no pé de uma das montanhas. Artur corre para ela sem pensar duas vezes. Era muita sorte encontrar aquela caverna no meio de uma grande tempestade. A chuva e o vento não passavam da entrada, que ficava em uma posição paralela a tudo aquilo.

Completamente aliviado por finalmente poder descansar, Artur por um segundo esquecera completamente do cavaleiro. Será que ele havia continuado sua caminhada? Para sua surpresa, quando olhou novamente para entrada, lá estava o cavaleiro, andando lentamente para dentro da caverna e, sem soltar uma palavra ou reação, sentou-se em uma rocha próxima a parede contrária de onde Artur estava. A água da chuva escorria da armadura, completamente vermelha de tanto sangue seco que a cobria, o cheiro de morte que emanava dela era gigantesco. Sua respiração, era pesada e barulhenta. Como se cada expiração e inspiração necessitasse de um esforço extremo.

- Você é um cavaleiro de Haldia? - Perguntou Artur quebrando o silêncio.

- Não... - Respondeu o Cavaleiro Herege.

- Hum... Essa sua espada, é mágica? - Continuava Artur.

- Não... É uma espada comum...

- Então uma espada comum foi capaz de matar aquele demônio?!

- Se pode ser cortado... Pode ser morto...

- Você é mesmo humano? - Continuava o interrogatório Artur.

- Sim...

- Incrível... - Comentou Artur com um olhar de admiração. - Você pode me ensinar a usar a espada?

O Cavaleiro Herege não respondera. Permanecia imóvel, na mesma posição, após sentar naquela rocha. Era uma figura completamente misteriosa.

- Garoto... Você se sente especial?... - Perguntou o Cavaleiro Herege depois de alguns minutos em completo silêncio.

- Como assim? - Retrucou Artur sem entender muito bem a pergunta.

- Se você está sentindo-se especial por causa de tudo que aconteceu... - Explicava o cavaleiro - Você está fora da realidade garoto... Você não passa de apenas mais um...

Artur entendia muito bem o que o cavaleiro estava dizendo, mas, aquelas palavras doíam em seu coração. Realmente, por algum tipo de devaneio ou desejo de sentir-se especial, Artur inconscientemente havia acreditado que todo aquele trauma serviria para uma ascensão de sua pessoa. Tudo isso era uma grande prova de sua imaturidade.

A lenda do Cavaleiro HeregeOnde histórias criam vida. Descubra agora