Capítulo 1: Sobre aspirar pessoas

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Rian

Sentado no último degrau da pequena escadaria que dava acesso à quadra poliesportiva da escola, com as mãos apoiadas sobre o concreto áspero sustentando seu corpo levemente inclinado para trás, ele observava o ir e vir dos alunos agitados, rindo excitados com o início dos jogos intercolegiais.

A calça jeans rasgada nos joelhos e a blusa branca com o logo da escola, desenhado do lado esquerdo do peito, deixava qualquer um com cara de bunda, exceto ele... ele parecia ficar bem com qualquer coisa.

Suas bochechas começavam a ganhar um tom rosado pelo sol das dez da manhã, e era tão natural que parecia o contraste perfeito contra sua pele cor de caramelo.

Como se tivesse ouvido uma piada que só ele entendeu, riu discretamente umedecendo os lábios, fazendo uma covinha surgir enfeitando seu lado direito do rosto. Então balançou a cabeça devagar, desviou os olhos para o céu e os fechou, suspirando como sempre fazia quando queria pensar em qualquer coisa que não fosse as pessoas ao seu redor ou quando queria espantar os próprios pensamentos por serem impróprios demais.

O que será que se passava por sua cabeça?

Eu gostaria muito de saber.

— Vai ficar me olhando até quando? — perguntou sustentando seu sorriso com covinha e meu coração bombeou tão forte que engasguei com o susto por ter sido pego.

— E-eu não tava olhando pra você. — me apressei em dizer. Meu rosto se contorceu com a mentira, mas não desviei o olhar. Fazer isso seria admitir o que estava mais do que óbvio e eu nem deveria me dar ao trabalho de tentar disfarçar.

Ethan não me levou a sério. Seu sorriso discreto se transformou em uma gargalhada e meu corpo inteiro reverberou em resposta.

A quem eu queria enganar?

Se ele gostava de observar, eu gostava de observa-lo e, às vezes, eu tinha a impressão de que ele gostava de ter meus olhos se perdendo em cada traço do seu corpo, gravando cada detalhe pra usar em uma tortura oportuna, quando me lembrasse de como suas sobrancelhas sempre bagunçadas era uma desculpa perfeita pra eu tocar seu rosto. Na verdade, eu sempre estava procurando pela desculpa perfeita pra ter o mínimo de contato físico, pelo máximo de tempo possível.

Isso soou meio pervertido?

Espero que não.

Eu só gostava da sensação de cócegas no peito que tocá-lo me causava.

— O que vai fazer hoje à noite? — mudou de assunto, assim de repente, voltando a encarar o céu completamente azul e colocou uma perna sobre a outra, balançando os pés em um tic nervoso.

A impressão de que ele gostava de ser admirado tinha fim quando ele parecia constrangido, tentando disfarçar algo que eu não conseguia, mas que ninguém parecia notar. Nem mesmo ele.

— Nada. — dei de ombros.

Minha língua coçou com a vontade de dizer "o que você quiser", como sempre foi, mas há alguns meses Ethan não dividia seu tempo apenas comigo e era o que eu também deveria fazer. No entanto, eu apenas continuava esperando pelo dia que seríamos só nós dois outra vez.

— Então me espere para jantar.

— O quê? — perguntei rápido demais e percebi seus lábios se repuxarem no canto.

— Quero te mostrar uma letra nova.

— E a Alessa?

— Não faz nenhuma diferença pra mim. — Ethan fez uma pausa, voltando o olhar para o meu, e estreitei os olhos, sem entender o que ele estava querendo dizer, mas podia sentir as batidas do meu coração aumentarem. — Não mais.

Tudo aquilo que eu deixei pra depois [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora