Capítulo 3: Sobre sentimentos nunca compartilhados

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Ethan

Minha mente pareceu começar a funcionar devagar quando Rian abriu a porta, dispersa demais na imagem em minha frente: os cabelos úmidos, mais escuros que o normal, caíam sobre sua testa. Seus olhos cor de céu pareciam meio curiosos, como se não soubesse que eu estava indo até ele. Suas bochechas estavam rosadas pelo banho sempre quente demais. Evitei olhar para sua boca e desci pelo seu pescoço até notar o pijama cinza com cabeças flutuantes do Darth Vader.

— Pijama? — pisquei, me obrigando a sair do transe contemplativo, e passei por ele entrando em sua casa — Eu sei que você leu minha mensagem.

— Li e ignorei. — respondeu ao bater a porta e seguiu na minha frente pela sala, indo em direção ao seu quarto.

— Por quê?

— Porque não quero ir.

— Fala sério, Rian. Eu não tenho uma desculpa pra não ir.

— Mas eu tenho: o primo é seu! — ele sacudiu os ombros de forma exagerada, mostrando que tava nem aí pra mim. — Além disso, não fui convidado.

— Isso não é desculpa. Todo mundo sabe que somos uma pessoa só. Tipo "Ethan-Rian", separados apenas por um hífen.

Rian sorriu, o tipo de risada que dizia "que idiota", mas eu estava falando sério. Qualquer pessoa poderia dizer que estávamos sempre juntos fazendo qualquer coisa.

— Eu já tentei convencê-lo. — tia Carolina disse de algum canto da casa e, mesmo não vendo, sei que Rian revirou os olhos grosseiramente.

Isso também deixava claro o quanto nossas mães não conseguiam guardar fofocas, nem mesmo as mais insignificantes, e deixava ainda mais evidente meu ponto de vista sobre sermos inseparáveis.

— Boa noite, tia Carolina. — gritei pra que ela pudesse me ouvir e tudo que eu ouvi foi a porta do quarto de Rian bater quando entramos.

— Eu não vou. Se veio até aqui pra isso, perdeu seu tempo. — ditou pausadamente como um menino birrento e se deitou na ponta da cama depois de pegar um livro que estava no lugar, apenas pra me ignorar enquanto fingia ler com o livro de cabeça para baixo.

Segurei uma risada.

Às vezes eu me perguntava se ele tinha noção do quanto era péssimo em fingir me ignorar e isso me incomodaria se eu quisesse sua atenção naquele momento, mas eu não queria. Ainda não. Ele resistiria ao meu convite de última hora. Assim como eu, Rian adorava festas onde a regra era clara "quer se divertir? Fique bêbado e faça uma merda memorável". Então, para convencê-lo, eu só precisava deixá-lo quieto por alguns minutos até começar encher seu saco e ele aceitar ir.

— O que tá lendo? — perguntei, arrastando sua cadeira gamer de couro preto com detalhes vermelhos, e me joguei nela de qualquer jeito, lutando contra a vontade de me deitar ao seu lado.

Era uma distância segura, me impedia de enterrar o rosto no seu pescoço só pra sentir seu cheiro de camomila mais de perto.

— Nada... — Rian bufou, desviando os olhos do livro por uma fração de segundos. — Você tá me incomodando.

— Ficou chateado por eu ter furado o jantar?

— Não.

— Jura?

— Juro, Ethan. — respondeu meio impaciente e eu sorri, girando a cadeira de um lado para o outro.

— Mas não foi bem um furo, né!? Só vamos jantar em outro lugar.

— Eu não vou.

— Vai ter pizza.

— Não importa.

Tudo aquilo que eu deixei pra depois [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora