Capítulo 2: Sobre decisões difíceis

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Ethan

"Lista de prioridades", fala sério!

Não havia uma lista, Rian não entraria em uma. Não fazia sentido uma lista com item único. Só o que havia mesmo era a dificuldade de manter minha língua dentro da boca, e era o que eu precisava resolver quando fugi: ficar calado.

Para minha integridade física e por tudo que Rian significava para mim, era necessário o máximo de distância entre nós dois ou eu não conseguiria manter minha indiferença forçada à forma que seus olhos brilhavam grudados em mim. Ele não era sutil e tudo que eu queria fazer era engolir sua falta de sutileza. Mas eu não tinha certeza se era real, a reciprocidade quase palpável, ou se tudo não passava de uma fantasia de muito mal gosto da minha mente perturbada. Então, a melhor coisa a se fazer era me esconder em casa até a hora do jantar porque eu tinha um plano.

— Tire os sapatos, Ethan! — a voz não tão doce de Idalina me fez parar no lugar.

Minha mãe tem uma regra bem clara "não entre de sapatos em casa ou você passará a próxima hora limpando o chão". Assim, você tem duas opções: entre descalço ou use uma das sandálias disponíveis no armário logo ao lado da porta. Sim, há sandálias de uso exclusivo para nossa casa. Algo a ver com o piso horrível de ser limpo e ela não querer trocar.

— Você acha que sou doido de não ter tirado? — gritei de volta, me livrando dos sapatos ali mesmo perto da entrada e, assim que fechei a porta de casa atrás de mim, conferi as horas no meu relógio de pulso, estranhando a presença da mulher.

Quase dez da manhã era a hora de Idalina ainda estar no jardim com meu irmão, enfiando as mãos na mãe natureza, e então eu entraria em casa sem ser visto. Não que eu estivesse com medo, só queria evitar dar qualquer explicação.

— Acho. — ela respondeu e eu revirei os olhos antes de seguir pra cozinha.

Idalina e meu irmão amassavam uma massa branca com o pirralho sentado sobre a ilha. Assim que me viu, Wil abriu seu melhor sorriso e eu retribuí com um ainda maior.

— Ethan, olha só que meleca. — ele fez careta levantando a massa com as pontas dos dedos e eu o imitei torcendo o nariz ao roubar um pedaço.

— Não me diz que serei obrigado a comer essa coisa!

— Vai, sim. — afirmou roubando a massa de volta e a jogou sobre o granito escuro, usando toda sua força nos pequenos socos que dava contra a massa. — Tia Ida disse que precisa socar muito pro pão ficar gostoso.

— Sovar, Wil. — Idalina o corrigiu achando graça, deslizando a massa com muito mais delicadeza.

Meu irmão a olhou um tanto confuso, mas não deu muita atenção ao que ouviu e continuou socando a massa.

Idalina trabalha com meus pais desde quando completei um ano e não me lembro de fazermos qualquer coisa juntos que não fosse sua obrigação. Diferente do meu irmão, com cinco anos, enquanto ela sovava uma massa, eu socava o controle do videogame quando o jogo travava.

— Você deveria estar na escola. — a voz de Idalina me tirou dos meus pensamentos.

— E você deveria estar no jardim. — dei de ombros. — O que aconteceu com a hora da horta?

— Já tivemos. Seu irmão levantou mais cedo hoje.

— E eu já fui pra escola hoje.

— Ethan. — Idalina chamou meu nome, daquele jeito que as pessoas fazem quando percebem nosso cinismo, e não ousei olhar o julgamento que ela sustentava. — Você sabe como seus pais são exigentes com seus estudos. É o último ano, logo vem a faculdade.

Tudo aquilo que eu deixei pra depois [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora