Capítulo 1

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Eu havia acabado de levar um belo chute na bunda das minhas férias e o despertador, sem a menor consideração por mim, anunciou de forma torturante que já era segunda feira e pior, de manhã. Primeiro dia de aula, um belo dia para desejar estar morta (acostumem-se, o drama sempre fez parte da minha vida).

A verdade é que eu não tinha muito do que me orgulhar sobre as férias, só fiquei na casa da vovó comendo tudo o que ela sabia fazer de gostoso e assistindo séries até o dia clarear, mas o que já era melhor do que ter que acordar as 6 horas da manhã pra estudar matemática, certo? Aliás, qualquer coisa pra mim sempre foi melhor do que estudar matemática.

Mas eu precisava levantar porque então só faltaria o básico, você sabe... tomar um banho, escovar os dentes, passar um desodorante daqueles que na embalagem diz que tem a durabilidade de 48hrs (tsc... até parece), passar uma leve maquiagem para esconder o panda que havia em mim devido as olheiras das noites mal dormidas e colocar o uniforme que sempre me fez questionar o porquê de o designer da minha escola não ter pensado em algo melhor se eu, que nunca havia estudado para aquilo, conseguia pensar em vários.

É, minha querida(o), eu entendo a sua dor! Mas quem ficaria dolorida seria eu se não me arrumasse logo. Meu pai já devia estar furioso achando que estava novamente fingindo estar em coma para faltar a aula como fiz no ano anterior. Eu nem sequer sabia como fingir um coma, eu só jurei continuar de olhos fechados por mais que ele me chacoalhasse. Eu achei que a ideia seria brilhante! Foi trágica. Fiquei de castigo por um mês. (Não façam isso!)

Mas falando no meu pai, ele se chama Fernando e é a pessoa mais incrível que alguém poderia conhecer, ele sempre foi mais que meu pai, sempre foi meu melhor amigo e foi ele quem ficou comigo quando a senhora que dizia ser minha mãe abandonou a nós dois. Senti a felicidade do meu pai murchar naquela época, mas quem não murcharia?

O importante é que ele havia superado e aliás, desde que eu havia voltado da casa da vovó, sentia algo diferente nele, ele parecia mais feliz, andava sorrindo mais... Mas cogitei que ele só estivesse feliz porque eu tinha voltado pra casa, eu também teria sentido minha falta.
Ah, antes que eu me esqueça, eu me chamo Roberta.

- Já estava achando que eu teria que chamar o SAMU. – disse meu pai, divertido, ao me ver descendo as escadas. Ele já estava sentado à mesa tomando seu café da manhã.

- Engraçadinho! – respondi pegando um delicioso sanduiche, que como de costume, ele fazia para mim todos os dias acompanhado de um bom copo de leite com achocolatado.

- A senhorita já não esta atrasada pra estar comendo com essa calma toda?

- Sabe pai, eu estava aqui pensando...

- Se você está pensando então eu devo prestar atenção mesmo. – ele brincou me fazendo fechar a cara.

- Que bom humor incrível! Da onde vem? – questionei, divertidamente.

- Vem de lugar nenhum! Bora, menina, no que você estava pensando? – ele mudou de assunto como se não houvesse um motivo especifico para aquele bom humor todo e isso, significava que havia.

- Então, estava aqui pensando se você realmente acha que eu que nasci preparada pra vida, realmente preciso ir a escola!? – tentei parecer o mais convincente possível.

- É, tem razão, não precisa.

- Sério? - desconfiei. - Tenho razão?

- Não. – disse ele rapidamente me fazendo revirar os olhos. - Você tem dois minutos para subir, escovar os dentes e sair, palhaça. A não ser que queira ir andando!

- Isso não se faz! Você realmente me iludiu, Fernando! – enfiei o resto do sanduiche na boca e levantei da mesa.

- Vai logo!

Eu já começava a subir as escadas quando senti algo atingir minha cabeça.

- AI! – o olhei, incrédula - Você jogou um pão em mim? – mas ele sequer respondeu, achou aquilo tão engraçado que só conseguiu apenas gargalhar.

Definitivamente algo estava diferente no meu pai, mas o que quer que fosse fazia ele mais feliz e pra mim, era só aquilo o que importava.

– Você tá ficando pior que eu! – foi o que eu resmunguei um pouco antes de finalmente subir as escadas.

No quarto ao lado.Where stories live. Discover now