Capítulo Único

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Reyna ainda estava viva.

Isso era bom, certo? Exceto que... Como ela ainda estava viva?

Ela se sentou, analisando os arredores. Vários metros de terra, seguidos por quilômetros e quilômetros de água cristalina que encontrava o céu mais azul que ela já tinha visto.

Uma ilha deserta. Ótimo. Mas onde estava...?

— Cipião! — ela chamou. — Onde você está, garoto?

Ela se lembrava da queda. Eles tinham passado dias atravessando o céu de Nova York a Atenas em velocidade máxima, enfrentando monstros marinhos, tempestades e, aparentemente, a ira do próprio céu. Tinham sobrevivido a tudo isso, mas foram derrubados por uma pedra gigante, arremessada por uma criatura que parecia um polvo e que Reyna não havia tido tempo de identificar. E, então, tudo ficou preto.

Seu corpo todo doía, mas nada parecia estar quebrado. E, ainda assim, se Cipião não estava respondendo ao chamado, algo devia ter acontecido com ele. Segurando sua adaga com força, ela se levantou e começou a caminhar para a margem.

A ilha não parecia tão grande. A praia terminava em uma floresta, mas Reyna não estava pronta para explorar um território tão perigoso ainda. A área aberta dava mais liberdade para agir caso fosse necessário.

Seus instintos se provaram corretos quando ela ouviu um movimento vindo da mata. Erguendo a adaga, ela se preparou para o combate. Mas o que veio da floresta era a última coisa que esperava encontrar num lugar como aquele.

A garota usava um vestido branco semi-transparente. Sua pele era clara e o cabelo caramelo estava preso e uma trança complexa que caía sobre o ombro. Ela estava com as duas mãos erguidas de maneira defensiva.

— Uma garota? — as duas perguntaram ao mesmo tempo.

— Quem é você? — perguntou Reyna, pronta para atacar no primeiro movimento. A garota não parecia ameaçadora, mas algo em sua expressão sugeria que ela tinha alguns truques na manga.

— Bom, eu deveria estar perguntando a você, já que essa é a minha ilha.

Ok, justo, mas Reyna tinha lido histórias o suficiente e passado dias o suficiente na ilha de Circe para revelar seu nome para uma garota misteriosa em uma ilha deserta.

— O que você fez com meu pégaso?

— Seu...? Nossa, você precisa relaxar. — Ela cruzou os braços. — Ele estava bem machucado. Eu o levei para minha casa e coloquei alguns emplastros nos ferimentos. Você parece precisar de alguns, também.

Reyna abaixou o olhar com cuidado para o próprio corpo. Havia arranhões, manchas escuras e filetes de sangue em todo lugar. Ela realmente havia tido dias melhores. Mas quem essa garota pensava que era, para julgá-la?

— Um banho, talvez? — a garota insistiu. Isso tudo estava parecendo muito suspeito.

— Talvez você devesse me levar até meu amigo. — Reyna ergueu a adaga, tentando parecer ameaçadora.

A garota suspirou e balançou a mão no ar.

— Certo. Venha comigo.

Sem abaixar a guarda, Reyna seguiu a garota floresta adentro.

***

A garota estava dizendo a verdade, pelo menos. Cipião dormia pacificamente em um dos cantos de uma caverna, o corpo coberto de bandagens e uma pasta verde com cheiro de cânfora.

A Cura do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora