19/10/22 - Escola

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Me levantei para ver melhor a quadra. Consegui reconhecer os banners das equipes de algum campeonato escolar, e bandeiras com suas cores, embora tudo estivesse muito rasgado e sujo. Bolas de futebol, vôlei, basquete… as poucas que restaram, estavam furadas e perdendo suas cores. A árvore lá fora invade o espaço pela grade quebrada, por onde alguns pombos também entram e saem.

Abri o portão de grade enferrujado, que já fora azul, e segui para o corredor maior. Me impressiona ver que todas as flores falsas continuam aqui, desbotadas e mais sujas que antes. Os bancos de madeira parecem frágeis, mas ainda conseguem trazer certo conforto. No final do corredor, chegando na parte da frente, o parquinho está quase igual. Se considerarmos que, há algum tempo, ele já tinha aparência de velho.

Atravessei a frente até chegar na velha e boa escadaria azul, que agora descasca e está quase completamente escura. Subi os degraus, acendendo minha lâmpada. Olhei ao redor. As portas com ilustrações infantis em E.V.A. me dão certa nostalgia, mesmo parecendo assustadoras nessa situação. Segui para a esquerda, e passei pela secretaria. Janelas fechadas, que, agora, não abriam por conta da ferrugem, e uma escuridão profunda por dentro. Era estranho ver aquilo sem nenhuma luzinha vermelha de computador ali.

Um pouco mais à frente, numa área iluminada pelo sol na janela, vi, em minha direita, os armários pequeninos e enumerados. Alguns estavam abertos, e outros tinham o cadeado preso há tanto tempo que não abriria nem com a chave certa. À esquerda, o elevador, que certamente não subia e nem descia mais, e, à frente, a última sala que lembro de ter estado. Pela sua etiqueta, era 8° ano do fundamental pela manhã, e 2° ano do fundamental pela tarde.

Por dentro, tinha cheiro de mofo. O quadro branco ainda tinha coisas escritas nele. Um mapa mental meio confuso sobre revoluções do século XIX, e alguns desenhos no canto, feitos por alunos. A caneta do quadro, que um dia foi um vermelho-sangue, agora tem uma cor salmão.

Fui até minha carteira, que, como todas as outras, não era mais um azul tão escuro. Vi os desenhos na mesa. Alguns poucos eram meus. Já os outros só os deuses sabem há quanto tempo foram feitos. Senti o plástico gelado da mesa, e, aos poucos, fui me deitando nela.

Com a cabeça apoiada e meus braços a cobrindo, comecei a pegar no sono. Quando estava quase dormindo, ouvi sons de vozes alegres, risadas e piadas infantis. Deixei o momento me levar, e cheguei até a sorrir, antes de entrar num sono profundo.

(433 palavras)

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⏰ Última atualização: Oct 20, 2022 ⏰

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