Sempre ascendendo a mesma vela branca com o mesmo cheiro de qualquer outra vela branca sem graça, me sinto imunda mesmo arrancando parte de mim enquanto me banho, mesmo arrumando os quatro cantos desse quarto e o perfumando a cada cinco horas, escovando os dentes até sangrar, lavando os cabelos até desbotar, pulando algumas refeições até não enxergar e tudo afim de desintoxicação por ter dançado com algumas almas podres ao longo do caminho. Alguns comprimidos descem como água e sinto como jujubas, faço por diversão até que chegue o dia em que me dou por vencida e que meu corpo não me faça vomitar todas elas tarde da noite. Se eu ao menos escrevesse como Baco e Lana, talvez nunca mais me entalava a garganta e nela não mais nó teria, talvez se ela tivesse me tratado como trata a criança que não veio ao mundo ou me planejado como faz agora, talvez eu fosse filha de alguém, talvez eu sentisse pertencimento e segurança. Ninguém vê, mas ela fez um altar para seus filhos homens, um monumento tão grande e inalcançável onde não se é cobrado nada e tudo se pode fazer.