Positivo

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Grávida.

Era a única palavra que ressoava dentro da minha cabeça.

Eu pisquei algumas vezes, sentindo o nó enorme que se formava na garganta, e a boca entreaberta entregava minha surpresa.

- Bom, Selena, os primeiros exames estão marcados para o dia 06 de setembro, às 7h30. - A enfermeira continuava falando e tudo que eu fazia era olha-la, flutuando de um lado para o outro com seu jaleco branco que combinava perfeitamente com o cabelo grisalho e os olhos azuis.

O tempo permanecia inerte diante da minha situação.

Mirei a janela, e o sol brilhando incessantemente lá fora, me confortou de alguma forma.

- Parabéns, minha linda, sei que agora parece assustador, mas vai passar, tá bom?. - Sua voz soou doce, e ao olhar em seus olhos, vi meu reflexo pálido.

Não vai passar.

- Obrigada, acredito muito que vai dar tudo certo. - Respondi, mas a voz embargada entregava as lágrimas que eu estava, inocentemente, tentando segurar.

Mentira.

Eu mal acreditava que conseguiria sair dali andando.

Ela me passou um remédio para os enjoos que vinham me atormentando a umas semanas, e depois fui para casa.

Tanta coisa passava na minha cabeça, e os sentimentos cada vez mais aflorados me fizeram chorar, depois rir, depois ficar com raiva, e entrar em uma crise existencial pesada.

Eu abraçava meu urso de pelúcia, tendo a certeza que se fosse uma pessoa, a alma já teria ido embora.

Eu não fazia ideia de como contar ao futuro pai, não depois de tudo que aconteceu. Aí, Deus, como eu vou lidar com isso sozinha?.

Olhei para a parede, de encontro com nossas fotos, passeei por cada momento, e vivenciei novamente, respirando pesado.

Nós não existimos mais.

E, novamente, me debrucei em um choro dolorido.

👣

Já passava do pôr do sol quando a mensagem de texto dele chegou.

" Eai, o que deu no teste?".

Tão despretensioso.

Eu não fazia ideia de como responder, tudo que eu sabia sobre essas revelações eram aquelas coisas fofas e super romantizadas, nada que estivesse ao alcance do que nós nos tornamos, nada que se encaixasse no agora e isso doía.

Pensei em apenas mandar aquela palavra e desativar minhas redes sociais e sumir do mapa, mas não era justo, nem com ele, nem comigo.

Fechei os olhos mais algumas vezes, na esperança de uma pequena lâmpada acender e clarear o que parecia um breu na minha mente, eu estava a todo custo lutando com meu emocional, estava cansada de brigas, eu só queria paz depois de tanta dor de cabeça.

Porém, como?.

Como se conta a alguém que já disse com as mais claras palavras "Eu não quero ser pai" que ele vai ser?.

Suspirei e larguei o celular sobre a cama.

Fui até a cozinha, e enchi um copo com a água mais gelada que encontrei.

Eu precisava contar, mas o que viria depois me revirava inteira.

E se ele levantar mais uma bandeira vermelha?.

Como vou ser capaz de assumir sozinha essas responsabilidades?.

Eu tenho só 18 anos.

Eu acabei de me tornar adulta.

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