Hoje

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- Então, vamos ter um bebê?. - Vanessa pergunta ansiosa.

- Vamos. - afirmo com um sorriso tímido.

Meu rosto estava quente e com certeza muito inchado, porque assim que ela chegou não precisou dizer nenhuma palavra para eu me debruçar em lágrimas.

Eu não tinha noção do quanto a amizade dela era importante até esse momento, quando me deu o abraço mais apertado e confortável que tinha e me afirmou com clareza que eu não estava sozinha.

- Olha, Lena, eu sei que é difícil pra você, mas eu preciso te contar.

A encaro e seu rosto se fecha apreensivo.

- O Gabriel me ligou ontem. - Entregou com a voz baixa.

- Ele veio aqui ontem, e eu o mandei embora. - Digo com o maxilar trancado.

- Sim, ele disse isso, mas depois me pediu para contar tudo que acontecer pra ele.

Eu fiquei balançando levemente a xícara na minha mão, enquanto o vapor subia fazendo seu pequeno caminho para cima, até sumir no ambiente.

Recordei as mensagens que trocamos, e todas as coisas que ele foi capaz de me acusar, sentindo o peso de todas as palavras baterem no meu peito.

- Ele é um egoísta do caralho e só se importa com ele mesmo, só quer saber do futuro dele, de como eu vou estragar tudo. - Falei com a voz embargada e rouca , sentindo cada palavra arder na minha barriga.

- É claro que eu só conto se você quiser, tá bom?. - Afirma e passa a mão nos meus cabelos. - Aliás, quando teu cabelo cresceu tanto?.

Rio ao olhar a careta em seu rosto.

- Também não sei.

👣

Passamos a tarde inteira juntas, conversando sobre tudo, e atualizando a outra sobre nossas vidas.

Ela voltou com a ex namorada e vivia com um sorriso imenso no rosto cada vez que o nome dela vinha ao assunto e isso me confortou.

Dividi com ela meus medos em relação a gravidez e o fato de me sentir extremamente só e Vanessa me prometeu que estaria comigo em cada momento da gravidez que eu precisasse ou quisesse, que eu não precisaria do Gabriel.

E no fundo, eu sabia que talvez não precisasse, mas eu ainda o queria muito.

Era nesse momento que meu peito apertava.

E eu apenas disfarçava.

Acabamos chegando no acordo depois dela insistir bastante...

Ela vai morar comigo.

Tenho um medo grande do que pode ser, mas não há outra alternativa, não posso morar com meu irmão, e nem quero o envolver nos meus problemas.

Já começaremos a ver apartamentos essa semana, e seja o que Deus quiser.

Me confortou saber que eu não estaria mais sozinha, ao mesmo tempo que me preocupou bastante, pois é bem tendencioso desenvolver dependência emocional nessas situações.

É um risco que eu aceito correr, mas vou me esforçar para não acontecer.

Meu bebê já passou muito estresse, ele precisa de dias calmos.

👣

Vanessa havia ido embora bem tarde, por volta das 23h. Tinha um compromisso com a namorada e eu super compreendi, apesar dela achar que ficaria "sentida".

Fiquei.

Mas é inevitável nesse período.

E ainda...

Gabriel me mandava mensagem.

Eu tinha que contar, mas como eu iria fazer isso?.

Será que peço para ele me acompanhar na primeira ultrassom?.

Será que ele vai querer meu bebê?.

E se ele não quiser?.

Que escolha eu tenho?.

Ah, filho, eu sinto muito.

Eu já iria completar o segundo mês sem ele ao meu lado. E eu sentia tanto a sua falta que as vezes o ar era pesado demais para respirar.

Meu Deus, nunca pensei em toda a minha vida depois de todas as coisas que senti quando meu pai foi embora que eu seria capaz de vivenciar algo um milhão de vezes pior.

Que dor é essa?.

Eu queria fugir disso, mas não posso, não posso simplesmente dormir e fingir que não há nada acontecendo.

Que meu corpo não está inchando, que os hormônios não estão a flor da pele, que os seios não estão enchendo, que o nariz não está uma batatinha e que os pés não parecem um pão gordo.

Que loucura isso.

E daqui um tempo, a barriga vai ficar maior, e as dificuldades também irão crescer, mas me conforta meu bebê estar aqui.

De tudo que há surgindo, os problemas a mais, as dores, meu bebê me salva.

Como uma luz no fim do túnel, como a lua no meu céu escuro.

Ele me dá uma esperança, e a motivação que preciso para seguir em frente.

👣

Hoje o dia passou rápido e já é sexta feira, então assim que saio do trabalho, vou correndo até minha irmã.

Estava ansiosa para contar, eu precisava de alguém que me seguraria, mesmo que depois de vários sermões.

Eu podia contar com ela, e sua experiência como mãe. Estava tendo um bom dia apesar dos enjôos, e não queria perder o ânimo.

Comprei um body com a clichê frase "titia ama", apenas para aliviar a revelação e tornar tudo menos tenebroso.

Também passei na padaria próximo a sua casa e comprei nosso café da tarde, levando umas besteirinhas para as crianças. Elas me chamam de titia Lelê, a famosa tia "legal", e me tratam como se eu fosse a "pessoa perfeita".

O estresse desses últimos dias tinham sido tantos que eu esqueci do conforto do lar.

O conforto que as crianças me proporcionam.

Me aproximava da esquina, e aproveitava o caminho para apreciar o céu aberto, coisa rara da cidade, e que do fundo do coração, eu amaria se pudesse acontecer mais vezes.

Nunca fui muito fã de dias nublados e chuvosos.

Eles me deixam triste, e não faço a mínima ideia do por quê. Só acho que há situações que nos fazem sentir solitários e é da própria natureza humana.

Andava perdida nos pensamentos, quando abruptamente alguém esbarrou em mim.

Tombei para trás fazendo esforço para não cair.

- Aí, moça, me desculpa!. - A voz feminina pediu em voz alta, enquanto agarrou sua mão na minha, me ajudando a recuperar o equilíbrio.

- Magina, acontece com frequência, eu que peço desculpas, tava distraída. - Respondo, finalmente a olhando.

Era ela.

👣

Duvido quem adivinha o caos do próximo capítulo?.

Eu não, mas temo o pior.

Tadinha da minha Selena, não tem um minuto de sossego...

Obrigada por acompanharem, galera, espero que estejam jogando!. Não esqueçam de votar e comentar. 💓💓

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⏰ Última atualização: Feb 08, 2023 ⏰

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