Como sempre, desde que descobri o bebê, acordei o despertador.
Eram exatamente seis horas da manhã, e eu passava o café, inspirando o cheirinho marcante, e piscando mais vezes do que o normal, porque o sono ainda fazia morada no meu corpo.
A janela aberta deixava passar por si um vento gelado, e o som breve dos pássaros cantarolando, enquanto voavam de um galho ao outro.
- Bom dia, Selena. - Susi me cumprimentou, enquanto abria a geladeira, provavelmente procurando algum doce.
Ela ama doces, tanto quanto eu.
- Bom dia, eu comprei o pão e já fiz o café, tá tudo aqui em cima da mesa, tá bom?. - Aviso com a voz doce, andando apressada para o corredor.
- Você não vai comer!?. - ela pergunta alto.
Eu andava muito enjoada, e de jeito nenhum podia tocar nesse assunto, então inventei uma desculpa.
- Acordei cedo e comi primeiro também, estou com um pouco de pressa. - Respondi entrando no quarto antes de ouvir sua resposta ou qualquer outra indagação.
Procurei alguma peça de roupa mais frouxa, buscando esconder a barriga saliente.
Como pode de um dia para o outro ela saltar desse jeito?.
Acabei escolhendo um vestido meigo e amarelo, nada comum para o estilo de roupa que eu estava usando naquele período, mas era o que serviria naquele momento.
Tomei um banho rápido, e logo me vesti, fiz uma maquiagem bem básica, e uma escova no cabelo.
Tentei passar o perfume, só que assim que senti o cheiro, eu quase vomitei, foi tão do nada que me assustei bastante.
- Okay, bebê, sem perfume. - Brinquei pensando alto.
Por algum motivo, falar com ele deu uma leveza na situação.
Olhei meu reflexo no espelho, e virei de lado, passava a mão em cima da barriga que estava bem escondida, agora entendo a autoestima das mamães quando se trata do barrigão.
Antes de tudo, eu imaginava minha família com o Gabriel, pensava que ele seria o papai babão e sensível que desmaiaria no parto, e choraria com o bebê na vacina.
Que falaria com o bebê na barriga, e que cuidaria de mim com todo o amor que tinha.
Mas não, agora tudo é apenas meu, apenas eu.
Eu queria que ele participasse desse momento comigo, queria que ele visse a primeira ultra-som, a barriga crescendo, que estivesse disposto a tentar de novo e a gente pudesse se amar.
Soltei as mãos da barriga e suspirei triste, andei até a cama e alcancei o sapato.
Enquanto o colocava no pé percebi que daqui uns meses, nem isso eu conseguiria fazer, e quem faria por mim?.
Não demorou e eu já estava chorando.
Me esforçava para não deixar que alguém ouvisse, não gosto de explicar, e não poderia mesmo se quisesse.
Sozinha.
Como eu vou fazer isso sozinha?.
O que tem de errado comigo?. Por que ele não me escolheu?. Ele me abandonou. Me deixou quando mais precisei.
Por quê?.
Eu pedi perdão, e tudo bem ele estar magoado, mas não é sobre nós dois agora, é sobre ele, o bebê que cresce na minha barriga, fruto do nosso envolvimento.
Isso não significa nada?.
Como pode?.
Eu não consigo aceitar, ele simplesmente seguiu em frente com ela.