Capítulo III

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Sem ser convidado, me sentei em um dos troncos fincados no chão, que serviam de bancos ao redor do lago. Percebi que a maioria estava tensa, me olhando com receio, enquanto os outros tinham raiva, como Sebastião, que se sentou longe, ainda alterado pela bebida, mas finalmente com a boca fechada.

Eu poderia ter conversado com eles em um outro momento e separadamente, mas depois do ouvir Dona Mari, não consegui adiar, e não me arrependi exatamente pelas reações que recebi. Se já estavam daquele jeito com menos de um dia com raiva de mim, não quis nem imaginar como teria sido recebido depois de terem se conformado com a demissão.

Apesar de haver poucos ali que não estavam na lista da Dona Mari, não quis arriscar e pedi privacidade com os nomes que citei. Sabia que causaria um burburinho na fazenda com isso, e era mesmo a minha intenção. Se aqueles que ficaram em volta da fogueira fossem mesmo confiáveis, esperava poder saber se algum peão preocupado iria enchê-los de perguntas.

Eu sabia que não podia fraquejar na frente deles, mas estava um pouco nervoso. Esperei que os outros se afastassem o suficiente para não nos ouvir, e com certeza causei mais curiosidade nos que ficaram quando olhei para os lados, me certificando de que não havia ninguém por perto ouvindo.

— Sei que todos estão bravos e não tiro a razão de vocês — disse quando me senti um pouco mais seguro, mas usei um tom mais baixo enquanto olhava para cada um deles. — Eu tive um motivo maior do que contei para decidir trocar todos os trabalhadores da fazenda; um motivo que desconfio que todos vocês sabem qual é.

— Não sabemos de nada — uma peoa disse confusa, enquanto olhava para os companheiros que estavam do mesmo jeito.

— Mesmo? — Perguntei um pouco irritado. — Que tal a vaca e os bois que magicamente sumiram nos últimos meses?

Assim que fiz a pergunta, os olhos deles se arregalaram, mas percebi uma reação um pouco mais alerta do Sebastião, que estava evitando o meu olhar até ali. Ele ficou sério, mas dessa vez não pareceu bravo comigo.

— Não temos nada com isso — João, um dos poucos rostos que eu já conhecia no grupo, disse com pressa.

— Se você estivesse no meu lugar, acreditaria na minha palavra, enquanto te olho com esses olhos medrosos? — Perguntei e ele olhou para o chão. Quase me irritei com isso, mas me lembrei de Dona Mari, que me disse que eles tinham medo de se envolverem em problemas, porque ali um conflito era muito diferente do que eu era acostumado. Quem estava envolvido naquilo poderia ser perigoso, isso era óbvio, então tentei entender o receio que vi na maioria deles. Ainda assim, eu não podia confiar tão fácil. — Eu quero acreditar em vocês, mas vão precisar provar que não têm nenhum envolvimento nisso, se quiserem ficar na fazenda — disse, dessa vez olhando para o senhor Vitor, que até então só ouvia a tudo completamente quieto e sério.

— Isso não é justo! — Um peão se levantou e me fez olhar para ele. — Não fizemos nada e precisamos fazer um milagre pra provar inocência? Por que o senhor não chama as autoridades?

O grupo murmurou em concordância, e isso me deixou mais aliviado. Chamar a polícia não seria algo que o culpado iria querer.

— Calma, Tenório. — Senhor Vitor fez um gesto para que o peão se sentasse. Logo ele olhou para mim e respirou fundo. — Daniel, se pediu pra falar só com a gente assim, é porque tem alguma confiança na nossa honestidade, tô certo? O que o senhor quer de verdade?

Ainda senti um tom desgostoso vindo dele, mas pelo menos estava sendo mais esperto do que os outros. O senhor Vitor parecia ser mais objetivo, por isso fui direto nele primeiro, e por ser um dos chefes da peonada, sabia que deveria ter um acordo primeiramente com ele.

Herdeiro Do Olimpo (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora