keep me forever, tell me you own me.

453 21 10
                                    

"Harry cultivou uma rosa que o cortava toda maldita vez que ele a tocava. Uma rosa que ele colocou em um pedestal, ajoelhou e glorificou por anos. Uma rosa que nunca o amou devidamente, nunca o escolheu como primeira opção, e o submeteu ao tom mais frio e escuro das cores da vida."

(Essa é uma história que conta sobre a profundidade da dependência emocional e da reclusão social, e como isso impacta negativamente e completamente quem vive nessa realidade. Não tenho como objetivo romantizar nada.)

temas sensíveis: uso de drogas, distúrbio alimentar, reclusão social, manipulação, auto destruição, dependência emocional, problemas com bebidas, problemas com a família, relacionamento extraconjugal.

se houver dúvidas sobre aspectos dos personagens que eu tenha detalhado de forma superficial, é só perguntar nos comentários. boa leitura! <3

~•~

Harry aquecia metade de uma lasanha congelada no microondas enquanto assistia a silhueta em preto e branco flexionar os músculos na camisa social colada ao corpo magro. Louis mantinha um cigarro aceso na mão direita, e com a outra levava um copo de whisky até os lábios.

Seu bíceps parecia bem trabalhado nesse ângulo, o que soava confuso. Ele nunca teve motivação suficiente que o levasse a parar de comer comida industrializada de supermercado, sobretudo academia não era ao menos cogitada.

O cinzeiro descansava sob a escultura de mármore ao lado da poltrona cor vinho no canto superior do hall. O cacheado tentava manter as palavras pra si mesmo e promover sua própria discrição ao apoiar os cotovelos no balcão da ilha da cozinha. Era terrível se sentir fora de lugar quando Louis transmitia a sensação de estar tão exuberantemente calmo e fresco, sabe, com o silêncio servindo de inspiração para levantar a garrafa Macaller mais uma ou duas vezes.

Mas de toda forma, ainda havia aquela ínfima tensão na lombar do homem à sua frente. Suas expressões eram quase imperceptíveis, e se Harry pudesse ser minimamente sincero consigo mesmo, admitiria que sua prioridade tem sido voltada a observar — e não a falar, como realmente deveria ser.

E apesar de tudo que um dia considerou essencial em qualquer relacionamento com qualquer pessoa, as suas moralidades e seus ideais tinham sido trepidamente definhados pelos anos que vinha se moldando para Louis. Ele não podia culpar ninguém além de si mesmo, na verdade. Não era como se ele estivesse planejando estar ali. Em uma quarta-feira escura num apartamento consideravelmente grande no sétimo andar, sentindo todos os seus órgãos encolherem de tamanho pela quantidade de receio que se abrigava ali dentro.

Andar em linhas instáveis era tão assustadoramente miserável, ele achava.

Por que está tão tenso, Harry? Louis pergunta. A voz dura e ligeiramente insensível, como se a resposta não significasse absolutamente nada e fosse apenas um pedido de reversão.

Harry imediatamente planta um sorriso pequeno no canto dos lábios, o canto da orelha queimando. Não estou, responde.

Louis não diz nada, apenas ergue o olhar e encontra os lábios trêmulos do outro se contraírem por um segundo. Ele inala o ar e inspira. Seus dedos chamam por Harry, a postura severa ainda intacta.

Harry caminha elegantemente até ele, passando uma mecha de cachos para a orelha. Louis acena para seu colo, dando tapinhas em sua própria coxa.

Quando ele se senta, é como se o ar tivesse voltado à seus pulmões, podendo finalmente respirar direito. Estar aconchegado em seu colo era reconfortante e fazia seus temores se esvaírem rapidamente, como se Louis pudesse proteger Harry de si mesmo.

anthology book | l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora