um par de olhos galantes

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        Ana Elyssa corria pelo corredor decorado por quadros desenhados por sua mãe e medalhas de futebol do pai. Seu quarto era o último do longo corredor. A garota adorava o quarto por uma razão: ele tinha uma passagem escondida que levava até o jardim dos fundos. Foi ela e suas irmãs gêmeas que descobriram a portinha camuflada no closet depois que a mãe desfez o atelier e lhe deu o quarto. Uma ótima oportunidade para Vicente entrar de forma sorrateiro. Não era novidade para ninguém que os dois eram como unha e carne. Vicente não desgrudava da menina e nem ela dele.  Ela até tentou ficar mais tempo com as irmãs. Mas Cecília adorava ficar no quarto desenhando seus modelos e costurando. E, veja bem, ela não se dava muito bem com tecido, nem muito menos com as agulhas.  Ela se dava bem com a irmã, mas não conseguia ficar tanto tempo dentro de casa. Por outro lado, tinha Clarice. Mas sua outra irmã era agitada demais. Foi então que ela grudou em Vicente. O carinha que cuidava dela em todo momento, e não tinha nada de mal nisso, ela até gostava.

    Ana fechou a porta do quarto atrás de si com o pé e jogou a bolsinha de crochê que ela próprio fez na cama. Não era uma peça bonita. A linha marrom estava desbotada e alguns pontos desalinhados, mas ela criou um certo apego pela bolsa feia. Ela queria provar para todo mundo na época que era capaz de se concentrar nas aulas tediosas que Cecilia assistia. O resultado foi sua irmã desfilando com um trabalho bem feito e ela com uma peça que ninguém duvidaria que um cabrito estivesse mastigado. 

    Algumas horas depois o vento balançava com alvoroço as cortinas brancas de renda e ela se apressou para fecha-las. Um temporal se aproximava, observou o céu com nuvens escuras. O pelo em sua pele se eriçou, odiava as tempestades.  Tremia sempre que ouvia um trovão ou a chuva batendo forte contra o vidro da janela. No entanto, Ana parou de súbito ao perceber que alguém se escondia entre a roseira embaixo da sua janela. Ninguém fazia aquilo sem ser seu amigo ou suas irmãs. Se olhasse com cautela as roseiras percebia-se uma pequena fechadura na parede. Mas só quem se arriscava no meio dos espinhos por saber da portinhola.
Ana sorriu e saiu correndo para o closet. A parede toda pintada de rosas vermelhas e pássaros azuis permaneceu imóvel. Ela se agachou no chão e esperou que alguém entrasse , mas permaneceu em silêncio.  Então resolveu ela mesmo descer e encontrar quem é que fosse que bisbilhotava a roseira da mãe.  Em um único e leve puxão as sapatilhas azul celeste foram parar no outro lado do cômodo. Desmanchando o laços que Vicente fez.

Seus pés descalços encontraram o primeiro degrau da passagem e escorregou o corpo pela porta pequena logo em seguida.  Tateou à cegas a alavanca e puxou com força. A pequena porta abriu de imediato e o rosto que ela viu o fez cambalear para trás. Não era nenhum de seus irmãos e nem seu amigo. Os perfeitos olhos azuis que a olhava com surpresa não pertencia a ninguém que a conhecia.

-Quem é você?. Perguntou ela interrompendo o rapaz que tentava falar alguma coisa.  -Quem é você? Perguntou novamente o fitando com desconfiança.

-Matheus.

Ana piscou várias vezes batendo a boca sem conseguir formar nenhuma palavra. Era uma resposta simples e direta demais.
Quando finalmente disse:

-O que faz aqui?.

Ele se afastou da porta oferecendo a mão para a garota que corou de imediato. Ele achou curioso mas não perguntou nada por conta da confusão que passou pelos olhos castanhos dela.

-Eu consigo. Dito isso, Ana tentou sair sem a ajuda dele e acabou tropeçando e caindo de cara na grama. Só Deus sabia com ela queria ser invisível naquele momento perturbador. O pior, pensou ela, foi ele a puxando pelo braço.

-Você esta bem?.

Ele segurou a risada quando viu uma folha presa no alto da cabeça dela. Ele gostaria muito de tira-la de lá, mas a moça parecia querer continuar com o rosto colado no chão.

Os Benettes. em memória Eneah Benette Onde histórias criam vida. Descubra agora