Valentina - Spin-off Beijo de Outono

IV

O sol está quente, e arde na minha pele enquanto olho para o campus pela janela do dormitório que divido com suas amigas, na universidade. Eu amo o clima desse lugar, com esse ar de conhecimento em cada corredor, embora goste pouco de como faz calor nessa cidade. No último ano tenho me dedicado ao máximo aos estudos, e tentado fazer amigos interessantes, e construir histórias e experiências que valham a pena serem contadas no futuro. Uma vez um amigo me disse que eu deveria aproveitar a vida ao máximo, e acho que ele se orgulha de mim, se puder me ver de onde está. Demorou um tempo para eu deixar o peso que sentia no peito cada vez que pensava que teria bastado um sim meu, para que o Nicholas tivesse ficado em São Paulo, e possivelmente poderia ainda estar vivo, mas eu consegui entender que não foi a ida dele para o Rio que o matou, nem mesmo o bom coração dele em querer ajudar a moça, o único culpado nisso tudo foi o cara que apertou o gatilho, e acertou o tiro fatal nele. Eu sempre vou pensar no que poderíamos ter sido, e possibilidades não faltariam, mas eu viver ansiando pelo passado é um modo bem triste de viver, e sei que ele teria me dito isso, pois em muitos dos seus livros essa mensagem está clara. O que passou já não volta mais, e devemos viver o presente da melhor forma possível.

Eu tenho tentado escrever um pouco sobre o que sinto, nada tão belo e inspirado quanto ele, mas tem me ajudado a organizar as ideias, e me manter longe da auto piedade. É claro que as sessões com a psicóloga da universidade tem ajudado muito também, e foi dela a ideia de eu escrever sem pretensão ou pressão alguma. Talvez ela tenha sugerido isso por eu ter mencionado a minha amizade com o Nicholas Cavalieri, que em morte ficou mais famoso do que quando vivo, e a colegagem que tenho com o Narciso Torres, que dispensa apresentações, ao ponto dela ter alguns livros dele em sua estante. A doutora ouviu com atenção quando eu contei que ocasionalmente troco emails com o Narciso, e por um segundo pensei que ela fosse perder a postura profissional, mas ela se recuperou, mas eu não a teria julgado, afinal milhões de pessoas tem um crush no príncipe dos escritores. O fato é que escrever sobre essas coisas me trouxe um alívio incomum, e me libertou para viver novas relações. Tenho certeza que eu não teria conseguido realmente seguir em frente sem desabafar sobre tudo que sentia sobre o Nicholas, e a sua partida.

Dois dias após chegar na universidade conheci um garoto sorridente, um pouco tímido, e geek. Embora as minhas amigas digam que à primeira vista era impossível imaginar que seríamos amigos, de alguma forma nos demos muito bem, então eram elas que ainda me conheciam pouco naquela época. Já que hoje sabemos que temos tanto em comum ao ponto que ontem aceitei namora-lo. Estar com o Matheus é diferente, mas quase tão prazeroso quanto estar ao lado do Nicolas. É óbvio que não temos conversas tão profundas sobre livros, na verdade, apesar de ler, ele não é um crítico muito bom de escrita. Mas é um companheiro incrível, me faz rir das coisas mais bobas, e me ama de uma forma que me faz sentir especial, e única no mundo. E eu o amo com todas as minhas forças, e por isso quis estar bem para começar um relacionamento sério com ele, pois ele merece que eu seja integralmente dele, assim como ele é para mim. Começar uma nova história não muda ou invalida tudo que vivi antes, mas possibilita ser feliz novamente. E hoje tenho cem por cento de certeza que a minha felicidade está com o Matheus. Se isso pode mudar, eu não sei, mas somos jovens, e podemos descobrir tudo que a vida nos reserva juntos. Por hora eu só quero viver essa experiência leve de viver algo bom com alguém que amo.

E quem sabe ter beijos de todas as estações do ano. Nunca se sabe o que o futuro nos reserva. Mas a partir de agora vou viver cada minuto como se fosse o último, até que por fim seja.