Emplasto

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    Ao atravessar a porta, nos deparamos diante de uma outra porta; está dizendo o escritório de Lobo Neves. Notei uma confusa expressão nos olhos de Cubas, que logo questionou a razão de estar ali:

— Do que se deve tamanho atrevimento, criatura? Este momento não era um simples arrependimento reversível, mas inacabável! Retruquei-lhe: — Quem o trouxe aqui foi ninguém mais que o próprio! Deve haver algo que deseja de coração realizar que seja possível aqui e agora.

Pensativo, Brás encara a porta por um breve momento, tranca o punho e exala inocente confiança, abrindo a porta. Ali estava um homem, diplomata, presumidamente Lobo Neves, e uma mulher, que aparentava já conhecer intimamente Brás, todavia de um modo negativo. De repente, Lobo Neves vira-se à Brás e diz:

— O pior; ainda não achei secretário.

— Me disseram.

— Mas! Tenho uma ideia; quer você dar uma viagem ao norte?

— Não há nada relevante ao norte; por outro lado, tenho uma proposta.

— Que pretensioso, me agrado disto! Diga-me, o que desejas, Brás?

— Quero que, por intermédio teu, concretize um sonho tão aguardado meu — o EmplastoBrásCubas! Te providenciarei as finanças necessárias, tudo que o senhor será responsável se resume a papelada.

— Que agradável surpresa, Cubas! Vejo que amadureceram sobre minha imagem, fingi não perceber seus olhares venenosos há anos! Definitivamente o assistirei quanto a isto!

Procederam, assim, com toda burocracia necessária e, ao amanhecer dos céus, Brás estava livre da incumbência e se dirigiu a sua casa, lá aguardando visando o jornal e, por conseguinte, tendo o melhor sono desde sua morte, audivelmente pressuposto.

Ainda cedo, Brás acorda ansiando loucamente o resultado das negociações do dia anterior, correndo à casa de Lobo Neves repetindo a si as mesmíssimas palavras de afirmação. Ao chegar à porta, Cubas fixa seu olhar em uma direção aleatória e lança uma ameaça vazia, possivelmente na tentativa de me amedrontar; digamos que falhou. Feito isto, a porta é aberta por dentro e Lobo Neves foi o responsável, rapidamente cumprimentando Cubas e convidando-o ao escritório.

— Pois, algo a me contar? Disse Brás ansioso.

— O melhor de qualquer coisa! Aceitaram seu pedido e disseram-me que já havia uma fábrica resignada pelo anterior senhorio, compatível com o orçamento.

— Portentoso! Enfim algum real sucesso para este expirado e afadigado homem! Sou grato por toda ajuda, Lobo Neves. O passado sempre nos persegue, mas quem decide sua impiedade somos nós.

Trocaram mais efêmeras palavras, mas Brás finalmente se despede e confessa sua impaciência perante ao Emplasto, assemelhando à inocência infantil desejando o brinquedo mais sofisticado já visto. Imediatamente partindo, Brás indaga o sucesso incessante durante o percurso:

— Diz, o que planeja contra mim?

— Cousa alguma! Suponha que seja o galardão decorrido da misericórdia sobre Lobo Neves; foi visível quanta ira tu mantinha por ele. — Digo tornando-me visivo.

— Torço que seja verdade conforme se exibe verossímil.    

Memórias vivas de Brás CubasOnde histórias criam vida. Descubra agora