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CIDADE DE ILHÉUS
BRASIL, BAHIA.
1 DE MAIO DE 2022.
⊱─────⊰✯⊱─────⊰Eu andava sobre a beira da praia num belo... e misterioso dia ensolarado. Decidi me refrescar indo um pouco mais além do meu recorde de mergulho, - a camada pré-sal deve ter ficado um pouco a cima de mim. Minhas roupas estavam grudadas em meu corpo, algo que me incomodava um pouco, que Deus tenha o valioso vestido branco de pérolas falsificadas do qual comprei no camelô, - mais tarde, vai se enferrujar todo. Sei lá, essa agarração me transmite a ideia de que estou sendo vulgar - porém, nossa mãe sempre nos disse que o que é bonito, precisa ser mostrado. Adorava, me obrigar a ficar de pé na areia, olhando por milhares de minutos aquela imensidão azul, reluzindo a luz do sol e reproduzindo a hipnose de igualdade aos céus. Sempre me vem a pergunta, - quem se imitou primeiro?! As nuvens, ou a salinidade da água? Precisaria de respostas que certamente Andrew não vai dar, ele me vê entrando em seu domínio sagrado e não tem o esforço de realizar um espurgo. Então, está me ignorando, - logo não tenho respostas e preciso perguntar ao dono dos céus, qual não vai me desvendar esse enigma... família quebrada e unida, que Deus tenha piedade.
Durante a pensada, meu olhar se deixou desviar ao lado da cidade, fixado no horizonte daquela bela urbanização da qual acompanhei o crescimento e envelhecimento de meio século atrás - sendo quase exata. A catedral com certeza se destacava junto ao contraste dos prédios de épocas mais novas, a arquitetura de soar colonial me trazia tempos ruins a mente... os povos costumam se expressar através de suas construções, e o que concreto batido misturado com escravatura tem de bom? a resposta é bem óbvia e distinta de argumentos... nada. Essa nação onde estou, é a mistura que me agrada, a peculiaridade de tantas energias resultou num acumulo de fé e poeira, já que seus nativos foram mortos num genocídio, deixando para trás a magia de suas terras que foi utilizada por colonizadores. Isso acabou depois que tanto sofrimento marcado - qual necessitam chamar de "história", foi extinto pelo meu "dom" transgressor - manifestado sobre o imperador deles. Mas, por mais que eu admire o que a nação se tornou hoje, não posso esquecer de tudo que vi - são coisas que simplesmente não posso retirar da minha cabeça. Na época foi doloroso ver e não fazer, assistir mas não agir... consigo escutar as chibatadas e açoites sendo energizadas com ódio desprezível. Dentre todos os transgressores, eu me baseio na paz e na harmonia, acredito que os humanos e seus semelhantes precisam de tempo para o desenvolvimento mental, eu os auxílio em espírito de forma evolutiva, mas era de morrer ver outros dos meus - Heriont e Andrew em especial - se alimentando dessa energia cabulosa para revidar. Derrubaram inúmeros navios de colonos do mundo inteiro, o meu irmão - das tempestades, soprava seus panos veleiros e os colocava contra as rochas, enquanto as ondas ginormicas de meu outro querido, cobriam os barcos e os arrastava na vasta solidão oceânica. Na manhã seguinte, os corpos e pedaços dos náufragos amanheciam nas praias, e eu lidava com os problemas daquilo que chamavam de justiça rápida... eu precisava enganar os cidadãos no mundo físico, literalmente controlando suas mentes para que não vissem nada. No plano espiritual, eu penava as almas a nascerem com aquilo que mais odiaram em sua vida passada. Talvez, isso pode ser considerado hipocrisia, mas na verdade eu apenas deixo o ciclo natural se completar, para a morte chegar e eu dentro de meu reino, recitar. Não discordo da ideia de que aqui se faz, aqui se paga... incluso sobre a alma, eu fiz essa regra.
O que me faz ser eu, é a loucura de ideias não terminadas, a bipolaridade de ser tudo e nada, a laranja com sal que todos dizem destacar o gosto mas na verdade não muda merda nenhuma - e as vezes pode ficar ruim. Quero transmitir a dificuldade me compreender e ser quem sou, pois a representação de todos os espíritos da terra - a Uni-mente, é a minha vida, ou seja... eu não tenho paz, e na maioria das vezes eu preciso mantê-la. Quando olhamos pelos deuses, julgamos os que detém poder, mas não paramos para pensar em suas apáticas rotinas. Porém tudo bem, responsabilidades são deveres.
Deixo de pensar um pouco e fecho meus olhos para digerir essas ideias que veem a minha cabeça. Dentro de mim, existem histórias e visões qual são ativadas por gatilhos de ansiedade, preciso evitar tê-las com a presença de outros dos meus irmãos - não imagino como seria a reação deles ao conseguir ver o que eu vejo.
Quando penso em abrir os olhos, sinto o calor do sol ir embora e me permito sorrir quando ouço trovões ecoando dos céus, repentinamente o belo clima de quinta feira é desfeito. Na previsão, a máxima de hoje era vinte e cinco graus com baixas chances de chuva, porém... a regra é simples - "aquilo que tem vida decide por si mesmo". Seguindo o roteiro, acho que essa é a hora de expor os jogos não é mesmo... eu, não vim até essa praia para apenas admirar a paisagem ou estragar o meu belo vestido, qual na realidade eu odeio. Tenho uma reunião com um dos meus irmãos mais desequilibrados - e essa chuva, já entrega que sua exuberância chegou junto dele.

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𝔸 𝙰𝚛𝚝𝚎𝚜𝚊̃ 𝚍𝚘𝚜 𝚊𝚜𝚝𝚛𝚘𝚜
FantasyDesde que a donzela da trindade lunar adormeceu, a terra ficou sobre a responsabilidade de seus queridos transgressores, - seres destinados a equilibrar as forças naturais e cósmicas do planeta, com base nas leis da vida que beneficiavam a humanidad...