Capítulo quatro

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Alena

Eu me olho uma última vez no espelho e então saio do quarto. Agnes está parada no meio da sala de braços cruzados e encarando o chão, eu dou de ombros e vou até a cozinha.

Como estou me sentindo fraca, eu preparo uma salada de fruta e me sirvo com uma porção, bebo alguns goles de água e fico de olho no horário. Felizmente eu terei alguns dias longe da faculdade já que eles enviaram um e-mail avisando que não haverá aula, aproveitarei para descansar um pouco mais e certamente para estudar.

__ Bom dia – digo para Agnes quando ela entra na cozinha e ela somente me olha, suspiro me levantando e lavo a louça que sujei – Você está bem? – pergunto baixinho e escuto Agnes xingar.

__ Não fale comigo! – responde grosseiramente e se senta na cadeira.

__ Por que me trata assim? – pergunto a olhando e a vejo revirar os olhos.

__ Você me tirou dos meus amigos, eu odeio você.

__ Eu te trouxe para um lar, Agnes, e você sabe que pode ir visitar os seus amigos quando quiser.

__ Eu não suporto este lugar e não suporto estar perto de você, Alena. Nem mesmo os meus pais te suportaram, certamente eles nos deixaram por sua culpa – ela diz batendo na mesa e então sai da cozinha me deixando totalmente perdida e chateada.

Eu nem mesmo sei por que pensei que fosse ser diferente desta vez. Agnes visivelmente não me quer por perto e talvez esteja certa de que os meus pais não me quiseram, na verdade ninguém nunca quis.

__ Eu vou embora daqui, eu encontrei pessoas da minha altura para estarem ao meu lado. Eu tenho amigos e um namorado, coisas que você nunca irá encontrar – Agnes grita do quarto e então saio da cozinha, paro no corredor e vejo a minha irmã segurando duas malas.

__ Você só tem dezesseis anos, não tem noção do que está me dizendo.

__ Eu vou ter o meu próprio lugar, ninguém vai mandar em mim, e eu sei muito bem o que estou dizendo.

__ Como você vai ter o seu próprio lugar se nem mesmo trabalha, Agnes?

__ Eu tenho dezesseis anos, Alena! – ela retruca irritada e se aproxima com as suas coisas – Os meus pais compraram um lugar pra mim – ela diz e sorri de canto.

__ O que está dizendo?

__ Os meus pais compraram um lugar pra mim. Eu consegui falar com eles e eles me disseram que considera somente eu como filha deles – Agnes então tira um papel do bolso e me entrega – Esta é a carta, pode ficar pra você – a minha irmã empina o nariz e então sai de casa levando as suas bagagens, mas a minha atenção está na carta e mesmo se passasse um milhão de anos, eu ainda sim reconheceria a letra da minha mãe.

Os meus pais nos abandonaram com a minha vó, então quando ela faleceu, eu e a Agnes fomos parar no orfanato. Nos primeiros anos eu ainda tinha a esperança dos meus pais virem nos buscar, mas isto certamente nunca aconteceu. Eu posso me lembrar da maneira fria que eles me tratavam, porém com a Agnes era um pouco diferente, eles sorriam pra ela e brincavam com ela, eu pensava que o motivo fosse por ela na época ser mais nova, mas hoje eu penso na possibilidade de eles não gostarem realmente de mim.

Respiro fundo e leio atentamente cada palavra escrita, a minha mãe deixa claro que quer manter contato somente com a Agnes e reforçou pra ela não dizer que mantém contato com eles. Eu engulo o nó que se forma em minha garganta e amasso o papel. Enxugo as lágrimas teimosas que insistem em cair e pego a minha bolsa, tranco a casa e vejo que o tempo está nublado. Eu não me preocupo em pegar nada para me proteger da chuva e do frio, na verdade neste momento eu não estou conseguindo nem saber do meu nome.

Eu me assusto com um barulho de buzina e aperto os olhos vendo há alguns metros o carro de Rui, o mesmo se aproxima e para em minha frente.

__ Bom dia – ele diz após abaixar o vidro e continuo o olhando assustada – Alena? Você está chorando – diz franzindo o cenho e nego enxugando as lágrimas em minhas bochechas.

__ Não estou chorando. O que faz aqui?

__ Vim te ver – ele responde me fazendo arregalar os olhos e me engasgo com a saliva. Rui dá um meio sorriso e desliga o carro fazendo sinal para eu entrar no veículo.

__ Eu estou indo trabalhar, não posso conversar.

__ Eu te levo – ele aperta um botão e então abre a porta pra mim.

__ Rui...

__ Entra, Alena! – o seu tom é firme e suspiro entrando no carro luxuoso – Por que estava chorando? – eu nego com a cabeça e fico em silêncio – Porra, alguém te fez mal? Eu vi uma garota saindo com algumas malas...

__ É a minha irmã, ela foi embora – respondo rápido e coloco o cinto de segurança – Mas eu não quero falar disso – vejo pelo canto do olho Rui balançar a cabeça e suspirar, então ele dá partida no carro e eu o digo onde trabalho.

Chegamos no local rapidamente e vejo no relógio em meu braço que estou bastante adiantada.

__ Está livre no seu horário de almoço?

__ O que?- pergunto confusa e Rui dá um sorrisinho de canto.

__ Eu perguntei se está livre no seu horário de almoço - ele repete me olhando intensamente e sinto o meu rosto esquentar.

Ele está tentando me chamar para sair? Não, não deve ser isso...

__ Por que? - pergunto baixo e me livro do cinto de segurança.

__ Estou te chamando para almoçar comigo, Alena – engulo em seco e o meu corpo gela.

__ Ah... – as palavras entalam em minha garganta e minha cabeça parece girar como se eu estivesse no gira-gira – Você tem... certeza? – as palavras saem da minha boca sem permissão e Rui arqueia a sobrancelha.

__ Sim, eu tenho certeza – ele responde e segura em minha mão esquerda – Aceita? – o meu coração bate tão forte que tenho medo de desmaiar. Eu solto as nossas mãos e encaro a janela ao meu lado.

__ Eu acho melhor não – respondo rápido e então abro a porta, saio do carro e caminho até a loja, entro no estabelecimento e respiro aliviada por ter somente a funcionária da limpeza aqui – Bom dia – murmuro educada pra ela e então vou até o quartinho dos funcionários.

Eu estou com vontade de chorar de nervosismo, de medo e de vergonha. Rui não pode estar falando sério sobre querer sair comigo, há tantas mulheres bonitas que certamente fariam de tudo para estar ao lado dele, eu nem mesmo sou atraente. Suspiro e encaro a minha imagem no espelho, choro silenciosamente e sorrio triste, nego com a cabeça e então tento me recuperar, quero que ninguém me veja assim, ninguém precisa saber dos meus problemas.

Penso em minha vida daqui pra frente sozinha, mesmo Agnes não falando comigo, ela era uma companhia. Mas não posso obrigá-la a ficar, ainda mais quando os nossos pais a querem, eu realmente não sei o que fiz de errado para ser rejeitada por eles, mas de qualquer maneira, eu não posso permitir que isto me abale ainda mais.

Em menos de dez minutos o Josué chega e me entrega a minha bebida, então eu coloco um sorriso no rosto e o escuto me contar animadamente sobre a Suelen, ao menos tento me distrair para não pensar no ocorrido de mais cedo e principalmente, no Rui.

Em menos de dez minutos o Josué chega e me entrega a minha bebida, então eu coloco um sorriso no rosto e o escuto me contar animadamente sobre a Suelen, ao menos tento me distrair para não pensar no ocorrido de mais cedo e principalmente, no Rui

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