̶s̶e̶ ̶f̶o̶s̶s̶e̶ ̶s̶i̶n̶a̶

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A casa ainda está bagunçada, e a visita bate à porta. Arrumar "por cima" ─ entulhando a bagunça, varrendo a poeira para debaixo do tapete ─ pode até funcionar... Se a visita não pretende ficar por muito tempo. No entanto, se a pretensão é se hospedar, não vai demorar muito para a sujeira vir à tona, o que vai significar uma total falta de consideração...

Porque não se trata de qualquer pessoa. É aquela pessoa. Aquela por quem você tanto esperava, mas que devido à sobrecarga de compromissos mais urgentes, não pôde arrumar a casa a tempo. Essa visita, especificamente, merecia uma recepção digna, mas na mínima dignidade que lhe restou em meio à bagunça, não foi possível oferecer isso a ela.

Eu gostaria de ter oferecido o maior e melhor dos palácios ao Príncipe dessa porra toda, mas tudo o que eu tinha era um casebre bagunçado. Talvez sua modéstia o convencesse que assim estava bom, que era suficiente, mas eu sabia que não chegava à altura do que a sua importância merecia.

Esse é o tal desencontro, o caso da pessoa certa na hora errada. E não adianta dizer que quem está disposto faz o que for para transformar na hora certa ─ a vida real envolve circunstâncias em que muitas vezes já é problemático o suficiente estar hospedado em si mesmo, quanto comportar mais uma pessoa, que tal qual tem os seus próprios pensamentos, sentimentos, manias, vivências... Principalmente depois de uma crise. A sensação é que não lhe restou nem mesmo ao mor próprio, como caralhos você pode oferecer amor, que não tem nem pra si, a outra pessoa?

Não dei a sorte de que amá-lo fosse a minha sina; esse é o maldito acaso que me feliz por ter sido bem recebida, e infeliz por não ter sido capaz de oferecer a mesma boa recepção. Feliz por ter sido amada, infeliz por não ter sido capaz de oferecer amor na mesma proporção. Feliz pela pessoa certa, infeliz pela hora errada. 

um brinde aos amores que quase ameiOnde histórias criam vida. Descubra agora