Capítulo 1 - Teaser

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MUSICA: Sia - Elastic Heart

Às vezes as coisas acontecem de forma tão estranha em nossas vidas que nos fazem repensar quem realmente somos. Nos últimos anos, as coisas na minha vida aconteceram de maneira tão anormal e surpreendente que pareciam mais uma historia de filme ou livro. No entanto, a realidade é que, não importa o quanto eu tente esconder, essa historia sempre será minha, algo que só eu poderia contar com convicção.

Desde todos os últimos acontecimentos, ou seja, desde o meu enterro falso (isso mesmo, o meu enterro), tenho pensado em vários momentos da minha vida. Aquelas momentos em que fizemos escolhas que poderiam ter mudado o curso da vida.

Após op enterro, Leonard e eu viemos para Sedona, uma cidade pequena, quase escondida do mundo na verdade. Fiz todo o meu acompanhamento medico aqui. Não posso negar dizer que sou a mesma de antes, tanto fisicamente quanto emocionalmente, mas posso dizer que tenho uma nova versão.

Mesmo que Leonard tenha vindo, ainda sinto como se não tivesse terminado. Sei que já se passaram dois anos desde tudo, mas ainda tenho a sensação de medo, uma intuição de que hoje está tudo bem, mas amanhã, estará? No inicio, não saia de casa, tinha medo de ser vista, notada. E mesmo que a minha aparência hoje em dia seja outra, ainda fica aquela desconfiança. Mantive meu cabelo curto e em um de preto, uso óculos sem grau o tempo todo. Leonard disse que é mais difícil ser reconhecida assim. Meu estilo de roupa também mudou, acredito que fortaleça uma imagem diferente. Minha identidade, se é que posso chamar de minha, agora é com o nome de Anne Black. Meio estranho para o meu gosto, mas não tive escolha. Tenho o empenho em manter esse personagem, ou personalidade, que se refere a Anne Black, mesmo que seja difícil em vários momentos.

Aqui em Sedona, moro em um apartamento, que na verdade é como uma kitnet, com uma suíte, uma sala, um banheiro social e uma cozinha que é junto com uma pequena área/lavanderia. É bem pequeno, mas estou satisfeita. Leonard ficou com uma parte, digamos que não muito boa. Hoje, ele dorme no sofá-cama da sala. Instalamos câmeras por toda a casa, até do lado de fora, colocamos alarme e trancas nas janelas. Isso não me faz sentir tão segura quanto vocês devem pensar. Não me sinto segura nunca, para ser sincera. Acho difícil que aconteça. Na verdade, me passa a sensação de que, mesmo longe e mesmo diferente, o medo vai continuar na minha vida recorrentemente.

"Ei, fiz algumas compras pra você e já coloquei no armário!" - disse Leonard, sentado no sofá.

"Ok!"

"Acho que eu e Vanessa vamos sair mais tarde para comer. Você quer ir junto?" - ele me olhou.

Bom... atualizando, Leonard, depois de seis meses aqui, arrumou uma namorada chamada Vanessa. Não é que eu tenha antipatia dela, só não confio e, dado ao meu histórico, não confiar nas pessoas tem sido um mecanismo de defesa simples e eficiente.

"Não, você sabe que não nos damos bem!" - revirei os olhos. - "Não quero atrapalhar."

Leonard sorriu amarelo e virou para a TV de novo. Eu sabia que ele queria falar algo, mas parece ter segurado para si, como sempre. Ultimamente, não estamos tendo muitos diálogos. Às vezes, acho que ele está de saco cheio de mim. Mas bom... ele não tem outra escolha a não ser me aturar. Eu sou um projeto agora, ou algo assim. Tudo se tornou muito pessoal. Somos duas testemunhas, duas pessoas que tiveram que mudar de vida e de nome, mudar de mundo e de personalidade. Sei que para ele tudo isso tem um peso ainda maior, já que teve que entrar no programa de proteção a testemunhas, junto comigo.

Muita coisa mudou nestes últimos dois anos. Eu me sinto como uma adulta agora. Talvez porque eu seja uma. Quando me mudei, tinha 17 anos e uma mentalidade meio ingênua quanto a outras pessoas. Agora, aos 19 anos, e depois de ter sofrido tudo aquilo, minha personalidade mudou. Digamos que seja o famoso amadurecimento. Sou ainda mais reservada. Antes, gostava de sair, me divertir, mas agora me sinto ansiosa e com calafrios só de pensar em ter que ir à rua. Aprendi a atirar, não que eu seja boa, mas agora pelo menos sei como usar uma arma. Perdi muita coisa nesses anos. Não pude fazer uma faculdade, não pude fazer novos amigos, e para ser sincera, nem quis. Confiar nas pessoas agora é algo que nunca faço. Não quis um novo namorado. Leonard tentou algumas vezes no início, mas eu estava tão fraca e magoada que achei melhor não deixar acontecer. O pior de tudo, perdi contato com meu pai. Ele vivia um luto que não era verdadeiro. Isso me magoava muito.

Praticamente perdi o brilho da minha vida. Era como se não houvesse mais um propósito. A única coisa que me mantinha com esperança era achar Sofia e fazê-la pagar por tudo e assim recuperar minha vida, se é que houvesse algo a ser recuperado a essa altura do campeonato. O que me movia e me mantinha viva era a sede de vingança, a raiva. Isso sim era algo recorrente em meus dias. Eu alimentei todos esses anos uma raiva, que nem sequer sei se posso achar saudável, e quer saber, não preciso que seja. Só preciso que seja eficiente quando o momento chegar. Planejo muito mais do que apenas prender Sofia, muito mais.

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Algumas coisas irão mudar daqui em diante nos capítulos do livro, no início de cada um terá uma dica de música para ouvir enquanto lê o capítulo ,  algumas escritas estarão diferente , espero que ainda gostem e que acompanhem o livro .

Eu vou ter você, recomeço!Onde histórias criam vida. Descubra agora