Capítulo 2

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MÚSICA: Pitty - 7 vidas

Há quem diga que as coisas que passamos são todas por um motivo maior, ou para nos fazer crescer como pessoas, mas como diz Pitty, "se coisa ruim faz a gente crescer, e todo esse clichê, já nem caibo mais na casa, não caibo mais aqui." Não sei se acredito mesmo nisso de que o universo planeja tudo ao nosso redor da melhor forma possível; eu acredito que as coisas acontecem de acordo com nossas escolhas, independentemente de serem boas ou ruins.

Já me questionei muito se tudo isso teria realmente acontecido se eu não tivesse ido para o acampamento. Me cansei de pensar e de tentar construir uma visão de como estaria a minha vida. O que me resta é viver o que tenho hoje. Leo me cansa muito dizendo isso, e, para ser sincera, acho que nem mesmo ele acredita nisso!

"Vamos! Estamos atrasados!" - disse balançando minhas pernas e revirando os olhos para Leo enquanto ele alisava o cabelo pela décima vez - "O seu cabelo está bom!"

"Ta bem! Vamos!"

Não é que eu esteja ansiosa, mas eu gostava das quartas-feiras; eu tinha acompanhamento com a Dra. Lucia, minha psicóloga. Desde que nos mudamos e adquirimos essa nova vida falsa, ela parece ser a única parte boa e sincera de tudo isso. Obviamente, não posso dizer toda a verdade a ela, até mesmo para a sua própria segurança, mas sinto que no fundo talvez ela saiba que o que eu falo é mais profundo do que deixo transparecer.

Para ela e todos da cidade, Anne Black se mudou após a perda do marido, não chegou a fazer faculdade e mora com um amigo de favor. Até pensamos em dizer que eu e o Leo éramos irmãos, mas algo na cabeça e no estômago me dizia que não seria certo, talvez por esse motivo Vanessa não goste de mim, e eu nem sequer dou importância a isso.

"Anne..." - Lucia me chamou - "quer compartilhar algo?"

"Estou pensativa demais esses dias, fico pensando como estaria minha vida agora."

"É normal criarmos uma imagem mental de como seriam as coisas se fossem diferentes! E para você, a falta do seu marido mudou um curso muito importante da sua vida..." ela dizia, olhando nos meus olhos.

Com ela, a perda do famigerado marido na verdade representava a perda do meu próprio eu. Quando aquele caixão vazio foi enterrado, uma parte de mim também foi. Quando vi no jornal todas aquelas pessoas chorando e se abraçando, senti que estava vendo minha própria partida, minha morte. E eu sentia mesmo falta de algo, não era só uma impressão, nunca tinha sentido isso.

"Quando o caixão desceu a sete palmos do chão, eu vi metade da minha vida indo embora. A metade da minha vida que fazia sentido. Não era só um caixão, era como se eu estivesse ali." - disse, desviando o olhar para baixo.

"Talvez porque você havia construído uma nova visão de vida com ele. Não é errado sentir que perdeu uma parte de si!"

Talvez não para ela, até porque ela não sabia que essa parte enterrada na verdade era eu, sim, uma eu que nem mesmo agora eu tenho acesso, uma eu que sorria e brincava.

Algumas horas se passaram, e a sessão chegou ao fim.

"Nos vemos na semana que vem!" - me despedi e caminhei até a garagem.

No caminho até em casa foi tudo muito silencioso; eu já estava acostumada com esse gelo que o Leo se propunha quase sempre a me dar. Mas esse dia foi diferente; ele parecia preocupado.

"Leo!" - chamei ele - "Está tudo bem? Você parece preocupado!"

"Sim." - ele respondeu quase que sem vontade.

Chegando em casa, fui direto para o quarto. Eu tinha curiosidade em ver como estavam todos do meu passado, meu pai, Scott e Moni. Eu fico pensando que talvez fosse melhor seguir em frente e abraçar essa nova vida, mas é difícil demais saber que meu pai está passando por um luto de mentira, mesmo que seja para protegê-lo e me proteger.

No dia seguinte, me levantei cedo, antes mesmo de Leo acordar. Sai e fui até uma loja de eletrônicos bem pequena que havia na cidade; aqui as coisas não ficavam trancadas ou algo do tipo, eles confiavam até demais uns nos outros!

"Bom dia, Sr. Lion!" - cumprimentei gentilmente o dono.

"Bom dia, Anne! Como vai?"

"Vou bem, olha, posso lhe pedir um favor? Eu precisava muito olhar uma coisa, e o meu Wi-Fi de casa parou, o técnico só pode ir mais tarde." - sorri fraco.

"Claro, pode usar o que precisar!"

Assim o fiz, caminhei até um computador no canto e abri uma aba de pesquisa; lá vamos nós! Primeiro, pesquisei sobre meu pai; precisava saber se Sofia havia seguido com o plano dela, mas tudo estava em ordem, nenhum processo em aberto contra ele. Entrei no jornal da cidade e olhei as últimas notícias; nunca me interessei pela parte de casamentos, mas algo me dizia para olhar lá, e eu não tive reação, eu apenas fiquei ali parada olhando a tela daquele computador velho e usado que estava em liquidação. Não era possível, simplesmente não era. Pude sentir um peso cair em cima de mim; eu me sentia esmagada. E de repente uma lágrima escorreu pelo meu rosto sem que eu pudesse controlar.

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Espero que aproveitem o capítulo, não se esqueçam de comentar e curtir !

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⏰ Última atualização: Jan 31 ⏰

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