Younghoon sentia uma enorme dor de cabeça.
Nunca pensara que estaria ali novamente, depois de tantos anos sem frequentar um único hospital. Ele realmente não fazia ideia de quanto tempo passou se cuidando apenas com um kit de primeiros socorros e muita paciência de Haknyeon, um enfermeiro amigo seu que sempre o ajudava quando voltava machucado de seus "compromissos de trabalho" – jeito delicado de como o Kim gostava de chamar seu emprego. Mas sabia que, naquela vez, um simples kit e um amigo formado não dariam conta do problema.
Ao olhar para seu ombro, notou o local enfaixado. Havia recebido um tiro no ombro? Tentava lembrar dos últimos momentos antes de ter caído inconsciente no chão.
— Preciso ligar pro Changmin, ele provavelmente vai me matar quando souber onde estou. — dizia enquanto procurava cegamente suas coisas.
— Senhor Kim? Senhor, peço que não movimente muito seu ombro. — uma voz estranha mas doce e delicada fez-se presente na sala. Younghoon logo sentiu o cheiro adocicado de morangos. Morangos frescos. Um cheiro delicioso! — Senhor? — tratou de parar de pensar naquilo e voltar para a realidade. — Sou Choi Chanhee. Eu que recebi o chamado de um corpo caído perto daqui. O senhor teve sorte de não ter morrido.
— Eu... Obrigado. — agradeceu em um tom baixo. — Posso ir pra casa?
— Oh, bom... Vejo que está bem, e isso se dá pelo senhor ser um lúpus, o que acelerou o processo de cicatrização. Posso sim dar-te uma alta, mas, bem, teria alguém pelo qual eu posso telefonar? Não é permitido que o paciente vá sozinho sem um acompanhante. — disse, logo recebendo um sim de cabeça do Kim. Ao receber um papel com um número de telefone, agradeceu sorridente.
(...)
— Eu não acredito que você quase morreu, Younghoon! — Changmin, que estava sentado o esperando se trocar, disse bravo. — Por qual motivo eu ainda tento acreditar que você não vai se machucar, hein?
— Não foi nada, Min, só um tiro no ombro. Eles que fizeram drama. — ao terminar de se trocar no banheiro hospitalar do seu quarto, voltou para a visão do coreano. — Viu? Eu tô ótimo. Vivo e ótimo.
— Hum, tá. Vamos logo, Sangyeon quase me come vivo quando eu disse que viria te buscar no hospital.
— Tsc, aquele velhote ainda vive no meu pé. — revirou os olhos, pegando suas coisas. Ao colocar a mocilha no ombro, nem lembrava do machucado, o que o fez gemer de dor. — Merda!
— Idiota.
— Senhor Kim, — Chanhee apareceu na porta. – o senhor deve voltar aquilo daqui uns cinco dias para que eu veja como está, ok? Você pode ter se curado rápido, mas se não tiver a limpeza correta, isso pode piorar. — disse singelo, arrumando o jaleco branco.
Younghoon se arrependeu de ter respirado fundo naquele momento, já que o cheiro gostoso do médico invadiu suas narinas, fazendo seu lobo se mexer sem parar em seu interior. Porque ele estava tão agitado por um simples cheiro?
Fazia tanto tempo que ele não se relacionava. Claro, em seus cios ele até conseguia quem passar os dias, já que o cio de um lúpus era cem vezes pior do que um alfa normal. Mas relacionamentos longos nunca fora seu forte. Seu trabalho o impedia de viver uma vida normal sem ter alguém mandado pelo rival de seu cliente no seu pé atrás de por sua cabeça em uma bandeja. Além do seu passado trágico e triste, que o impediu totalmente de pensar em seu relacionar novamente.
— Senhor Kim? Me ouviu?
Younghoon saiu de seus devaneios, balançando a cabeça para espantar aquilo.
— Claro. — respondeu curto, recebendo um sorriso do médico. Ele não conseguia desviar os olhos tão profundos. Parecia estar navegando em um oceano.
— Num todo, é só isso. Espero que tenha uma ótima melhora. E, recapitulando, está proibido de fazer qualquer tipo de esforço duradouro que afete seu ombro. Entendeu? — Younghoon assentiu sem falar nada. — Ótimo. Até depois. — acenou e deu meia volta.
— Eu notei. — Changmin disse, prendendo o riso na garganta.
— Vai se fuder.
Algumas semanas depois.
Se passado do episódio no hospital, Younghoon passou incontáveis noites sem dormir. Seu lobo choramingando atrás de sentir mais do cheiro doce do ômega. Seu interior se contorcia ao lembrar da face delicada, dos fios loiros, da pele que parecia tão lisa e macia de se tocar.
Mas ele não podia continuar com aqueles pensamentos intrusos e totalmente diferentes do que sua mente pensava.
Seu cérebro o fazia lembrar dos episódios doloridos dele, das incontáveis perdas de seus entes queridos. Ele não podia se dar o prazer de se envolver novamente com alguém apenas porque seu lobo estava querendo. Oras, eles só havia se falado em poucos minutos, não havia como ele estar tão obcecado por alguém que havia conhecido em apenas um dia. Se sentia um idiota por pensar tanto no médico. Não tinha o porquê de continuar com aquilo. Do jeito que as coisas estavam, eles nunca mais se veriam. Younghoon sempre dava um jeito de nunca mais voltar para os hospitais, eram locais com memórias ruins.
— Hoje você vai voltar lá, né? — questionou Changmin.
— Hum?
— Pro hospital. Você precisa ir pra checar seu ombro. Por mais que eu não goste de lá, é o melhor. Não tem como Hak dar conta por não ter sido feito por ele. — explicou calmamente enquanto comia seus cereais.
Merda, pensou. Havia esquecido totalmente da volta ao hospital. Não queria revê-lo, não queria se inebriar mais ainda no cheiro gostoso dele. O Kim não era fã de doces, nem de cheiros adocicados, mas aquele ômega mantinha um cheiro tão bom e nenhum pouco enjoativo.
— É, eu sei.
— Então, o que está esperando? Vá!
(...)
— Senhor Kim, felizmente está tudo ótimo. A cicatrização está ótima e não há nada que indique uma possível infecção. Apenas irei passar alguns remédios para dor e instruções de como deverá limpar e tratar, tudo bem?
— Certo. — as respostas curtas do Kim até poderiam ser interpretadas como respostas grossas, mas ele sempre fora assim, e não só com desconhecidos.
— Bom, aqui. Aliás, sente mais alguma dor? — perguntou tocando o machucado coberto. — Oh, não havia percebido essa cicatriz em seu peito. — disse, olhando para a marca horizontal. — É bonita.
— Bonita? — se questionou o porque do elogio para uma marca pela qual o significado não era tão bonito assim.
— É. — sorriu fraco. Os dois estavam perto demais. Chanhee sentia seu lobo se mexendo em seu interior. Seus olhos mantinham aquele contato mortal. — B-bom, por hoje é isso. — se distanciou pelo bem dos dois. — Qualquer coisa você pode ligar para o hospital ou para o meu número para contato médico. — estendeu o papelzinho. Younghoon sorriu involuntariamente.
— Obrigado. — agradeceu e saiu da sala.
Chanhee o encarou ir e suspirou. O cheiro de café que vinha dele estava deixando-o embriagado. Não sabia como, mas apenas de olhar as íris castanhas, sentiu o coração errar as batidas.
No fundo, seu lobo esperava que ele entrasse em contato consigo.

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Technical Failure. bbangnyu
Fanfic[Concluída] Ser um assassino de aluguel não era nada fácil, e isso demandava muito de si. Younghoon prometeu para si que nunca se envolveria de forma romântica com ninguém, porque todos que ficavam com ele sempre tinham o mesmo fim: a morte. Mas You...