Capítulo 2

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Rome City, Indiana (1996)

Se inicialmente Abby estava perfeitamente convencida de que Jane estava a ser "uma dramática exagerada" por achar que a relação dos filhos talvez não fosse a mais indicada, como fizera questão de lhe salientar, agora começava a ver-se forçada a dar-lhe alguma razão. Se começou por se rir na cara da amiga, garantindo-lhe que não havia nada de errado em "brincar aos pais", como as crianças lhes chamavam, recordando-a que também ela tinha beijado outros rapazes antes de se casar com Mason, quando as crianças tinham cerca de 8 anos, o caso tinha mudado de figura. Se primeiramente, tal como Mason e Paul, se ria quando via a filha fazer desenhos e bilhetinhos de amor para o seu namorado Tristan, trocavam beijinhos inocentes e andavam de mãos dadas por todo o lado, quando apanhou a filha a levantar a saia e a pedir a Tristan para lhe mostrar a sua pilinha, Abby começou a ficar um pouco assustada.

Engolindo todo o seu orgulho, admitindo estar errada perante a amiga, bem como toda a vergonha sentida naquele momento, Abby recorreu a Jane com as suas preocupações. Contudo, a reação esteve longe de ser a esperada e, em vez de se unir a ela para pensar numa solução para aquele problema, Jane virou-se contra si.

- Já te tinha avisado que a tua Eloisa é muito espevitada para o meu gosto, e que tinhas de a controlar melhor.

- A Eloisa nunca faria uma coisa daquelas, a menos que o Tristan lhe pedisse.

Jane riu-se com sarcasmo e perguntou com ironia:

- Não era o meu filho que estava sem cuecas, pois não?

- Que queres dizer com isso?

- Quero dizer que não é culpa minha ou do Tristan se tu não consegues ensinar bons costumes à desavergonhada da tua filha.

Acusações foram feitas. Ofensas foram proferidas. E, assim, em menos de dez minutos, se arruinou uma amizade de mais de 30 anos.

Assim que chegou a casa, furiosa, Abby declarou junto do marido e da filha que nunca mais um O'Brien poria os pés em sua casa.

- E nunca mais quero ouvir sequer falar dessa família miserável! – declarou, deixando ambos boquiabertos.

- O que aconteceu, afinal? – questionou Mason, entrando atrás dela na cozinha e fechando a porta atrás de si, para não serem escutados pelos atentos e curiosos ouvidos de Eloisa.

- Se a Jane acha que a nossa Eloisa não é suficientemente boa companhia para o filho dela, então, nós também não seremos boa companhia para ela e para o marido dela! Acabou-se tudo!

- O que estás para aí a dizer, mulher?

Forçando-se a sentar e a acalmar o seu pensamento acelerado, Abby relatou o sucedido ao marido. Profundamente ofendida, Abby descreveu cuidadosamente ao marido a afronta de Jane.

- Ela disse mesmo isso? – perguntava ele, incrédulo.

- Com todas as letras!

Ambos concordaram que Jane tinha passado das marcas e que não havia volta a dar, talvez apenas com um grande pedido de desculpa. Afinal, não se deita fora assim uma amizade tão longa e tão forte. Porém, quando Mason se encontrou para uma cerveja com Paul, na tentativa de ajudarem a apaziguar a zanga feminina, Mason não só percebeu que o amigo estava do lado da esposa, como que nenhum dos dois mostrava o mais pequeno sinal de arrependimento. Como o pedido de desculpas teimou em não chegar, nunca mais existiu um jantar entre aquelas duas famílias anteriormente amigas.

Eloisa e Tristan, por sua vez, completamente alheados que eram, de facto, a causa do desentendimento e respetivo corte de relações entre os respetivos pais, continuavam amigos, embora apenas tivessem autorização para estar juntos na escola, onde os pais não podiam controlar a situação ou intervir de que maneira fosse.

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