Festa, festa! até amanhecer

2 0 0
                                    

A chuva caia em uma torrente, seus pingos transpassando as camadas e mais camadas de roupas invadindo cada centímetro do seu corpo o causando tremores involuntários por todo corpo, suas mãos frias se agarram com a carta em sua mão, muito importante, não podia molhar de modo algum, importante demais para perder, importante demais para ler, ele precisava encontrar algum lugar para se esconder, precisava se proteger da chuva, seus pés corriam pela lama, suas pernas sangravam pelos espinhos que se chicoteavam pelo ventos nelas, o cansaço já tomava conta de seu corpo, mas quando tudo parecia perdido aparece a distância uma mansão imponente, um refúgio da chuva, do frio, um lugar seguro com certeza, o camponês corre com toda as suas forças até a Mansão, suas pernas vacilam na porta do lugar, ele se encolhe no batente, batendo na porta com o resto de energia que tinha, seus dentes chocando-se uns com os outros mesmo que o jovem camponês tentasse parar, quando a esperança se vai do seu corpo como como a última fagulha de calor a porta é aberta, o ar quente do lugar inflando em seus pulmões e o calor convidativo expulsando o frio intenso.

— Oh céus, esta perdido, jovem camponês?

— o camponês observa um mordomo de cabelos longos em purpura e roupas elegantes, sua mão enluvada se estende para o pobre camponês que aceita a ajuda de bom grado — Entre e se aqueça ao menos, está uma noite cruel lá fora.

O mordomo trás o aldeão para dentro fechando a porta, suas mãos ágeis e certeira passam pela tranca e logo pegam um casaco no cabideiro para o garoto se aquecer, ele olha para a grande mansão, os rostos dos moradores se virando em sua direção para observar a visita inesperada

— Mordomo, trouxe um convidado... que surpresa maravilhosa — O anfitrião clama de forma jovial ,suas roupas azuis exclamavam riqueza de todas as formas, ele estava sentando em uma poltrona perto do fogo — Venha se aquecer, deve estar tão cansado.

— Boas-vindas convidado, nossa casa é sua casa — Ao lado dele a anfitriã diz de modo calmo, com um sorriso leve nos lábios como se este fosse o estado natural do seu rosto, os cabelos rosados presos de forma recatada porém estonteante— Estamos preparando o jantar, vai nos acompanhar?

— Madame tudo já está pronto, devo oferecer uma xícara de chá ao convidado? — a jovem empregada, diz timidamente passando os dedos nos cachos verde claros de modo nervoso, a anfitriã concorda deixando a empregada se aproximar — Isso vai te aquecer... beba tudo... colocarei mais um prato na mesa.

O aldeão ainda trêmulo pega a a xícara de chá tomando rapidamente, deixando aquele liquido quente aquecê-lo de dentro para fora, finalmente sentindo suas energias revigoradas, de outro cômodo duas crianças correm andando em volta do aldeão rindo e brincando.

— Temos um convidado, isso merece uma festa. — a garotinha mais nova ria, as fitas douradas em seus cabelos balançando enquanto isso o irmão dela diz logo após correndo de mesmo modo — Uma festa ao noite toda, para comemorar o convidado.

— N...Não precisam fazer tudo isso, eu estou agradecido de apenas poder me aquecer e tomar algo quente...

Os anfitriões insistem e se movem pela casa para os preparativos lembrando sempre para o garoto se sentir em casa, ele nunca imaginou uma família tão abastada ser solidária deste modo, ele aperta o casaco ao seu redor segurando a xícara em suas mãos, mesmo estando vazia ele podia sentir ainda o calor por isso a manteve perto de si apreciando a sensação em suas mãos, ele olha ao redor todos dos moradores tinha se espalhado para alguns preparativos, um disse ir colocar os pratos a mesa, outro buscar o vinho, trazer a caixa de música e outros que o camponês foi incapaz de compreender se perdendo na sensação do seu corpo se aquecendo novamente, quando se dá por si novamente percebe o mordomo se manteve ali observando o camponês de modo continuo, seus olhos violetas tão profundos, faziam ele se sentir submerso indo mais fundo e mais fundo para a escuridão das suas pupilas, não era uma sensação ruim, era quase acolhedora, mas parecia de certa forma... errado, por isso o camponês desvia o olhar, mesmo que parecesse rude algo o dizia que era o certo a se fazer.

— Jovem camponês... prepararei roupas para que se troque, não podemos te deixar dessa forma. — O camponês assenti... ele se levanta observando suas roupas cheias de lama e sangue seco, não seria educado ir a mesa daquela forma — Posso te mostrar o quarto de visitas... venha comigo...

O mordomo vira de costas se aprofundando na casa sem olhar para trás garantindo que estava sendo seguido, o camponês o acompanha em silêncio, seus passos ecoando quando se afastam da cacofonia que ecoava na entrada, os dois andam por um longo corredor até uma porta na esquerda, o mordomo pega um molho de chaves colocando uma delas na fechadura, e abrindo quarto deixando o garoto passar primeiro.

O quarto era luxuoso mesmo sendo para visitas, com uma cama de casal extremamente ornamentada, um guarda-roupas em tons claros e por último uma penteadeira com um grande espelho, agora o garoto podia observar melhor como estava desgrenhado, seus cabelos verde azulados estavam bagunçados, seus olhos de mesmo cor cansados e sua aparência estava fantasmagórica pelo cansaço e chuva extrema fazendo até alguns fios grudarem em seu rosto deixando ainda pior, como se percebendo seus pensamentos o mordomo vai até o armário pegando um par de roupas novas...

— Aqui estão jovem camponês... pode se trocar. — O garoto pega as roupas observando enquanto o mordomo se mantem parado na sua frente esperando, o garoto fica corado por um momento como o pensamento que ele não sairia — Posso ficar na porta se preferir, desculpe mas não seria prudente te deixar sozinho...

— Compreendo... só apenas se vire...

O mordomo obedece se virando, o Camponês entendia a preocupação, afinal ele era um desconhecido e mesmo que os anfitriões fossem solidários havia uma diferença grande em ajudar e confiar em um estranho, o garoto começa a tirar suas roupas seu corpo dolorido pela caminhada, ele não consegue evitar de olhar no espelho, estava magro demais e pálido, suas costelas levemente aparecendo na pele fina, ele logo pega as roupas para se vestir tentando voltar seu foco, o problema era que ainda tremia um pouco e suas mãos não paravam para fechar os botões da calça e blusa ouvindo sua dificuldade o mordomo diz...

— Gostaria de minha ajuda jovem camponês? — Ele se vira como os olhos ainda não focados no garoto esperando sua aprovação que vem fracamente por sua frágil voz — Elas couberam perfeitamente em você... isso deve significar que está no lugar certo, não é?

— ... Não sei, eu preciso fazer uma coisa, não deveria ficar. — Ele coloca a carta no bolso do novo casaco vermelho de bolsos fundos, o mordomo observa a carta, mas não pergunta sobre — devo ir depois do jantar...

— Não pode ir, com esta chuva, passe a noite aqui, aposto que pela manhã poderá entregar sem grandes problemas... — O camponês considera, a carta era urgente, mas podia esperar algumas horas para que a chuva parasse, não teria sorte de achar outro lugar como aquele se precisasse antes de chegar ao seu destino — Meus mestres se sentiriam imensamente ofendidos com sua saída apresada, sabe... não recebemos... muitas visitas... é um evento quando acontecesse.

o mordomo fechava os botões com maestria seu olhar um pouco distante depois de falar aquilo, como se por um momento tenha se perdido em suas palavras e não conseguisse se encontrar em seus pensamentos se mantendo em silencio enquanto terminava, ele pega uma escova na penteadeira ajudando o garoto a ficar apresentável no mínimo, ao terminar ele continuo observando como se esperasse sempre o próximo passo do garoto, seus dedos se entrelaçam a sua frente apertando levemente dizendo com seriedade.

— Devemos ir, a festa vai começar

Ele só se mexe quando o garoto começa a ir para a entrada, viu para onde a maioria fora, chegando a uma sala de jantar, a musica serpenteava no ar, cheiros variados das melhores comidas que já sentiu invadiam seu nariz e o candelabro imenso no meio da mesa fazia com que uma luz quente penetrasse sua pele, todos os moradores estavam lá prontos para a festança

— Que maravilha a mesa cheia, vamos nos embebedar até não houver amanhã.

o anfitrião diz segurando uma taça de vinho acompanhado por gritos e risadas, todos começando a se divertir, o camponês se sente de certa forma deslocado olhando todos esbanjando de forma tão livre como se nada do lado de fora importasse como se o amanhã não importasse, ele olha para o lado vendo o mordomo segurando uma taça de vinho, ele levanta um pouco observando o garoto que ainda não tinha tocado na sua, o garoto repete o movimento, devia relaxar só por aquela noite... ele vira o copo em seus lábios deixando o liquido vermelho adentrar e depois... ele não se lembra de mais nada, sua única memoria era ouvir o mordomo perto dele o segurando quando ele quase caiu dizendo de modo baixo em seu ouvido...

— Divirta-se, essa noite não terá fim...

woven in the endless nightOnde histórias criam vida. Descubra agora