o camponês acorda com sua memoria fragmentada, cacos aleatório de lembrança era tudo que tinha para se recordar dos últimos acontecimentos, bebidas e dança até o amanhecer, ou era o que ele pensara afinal olhando ao redor no quarto o garoto se foca na janela vendo a escuridão e a chuva ainda tomando conta de tudo, quanto tempo então tinha passado? Não era possível ele ter dormido toda a manhã e já ter anoitecido novamente, certo? Ele decide levantar e procurar os moradores da casa, devia ir embora mesmo com a tempestade e a hora, podia sentir a carta pesar em seu bolso, ele precisava entregar aquela carta a tempo, o garoto abre a porta do quarto e anda pelo corredores vazios o eco do vento ricocheteando nas paredes de forma que se assemelhava a gritos distantes deixando o camponês nervoso com um frio sobrenatural na espinha, seu corpo que tinha finalmente se aquecido começava a esfriar fazendo com que os seus dedos voltem a tremer de modo involuntário,ele observa os quarto em um silencio contrastante com a cacofonia que se lembrava, as luzes estavam apagadas e seus olhos ainda tentavam se adaptar, todos estariam dormindo? talvez não fosse tão tarde quando sentia que era, ele quase pensa em voltar ao quarto e descansar um pouco mais, quando estava prestes a virar ouve uma voz baixa
— Alguém roubou a pagina.... ela sumiu!
o garoto para de se mover, reconheceu a voz do anfitrião e ele parecia bastante irritado, o camponês se aproxima vendo uma das portas da mansão com as luzes acessas, a faixa clara cortando a escuridão do corredor, não era certo bisbilhotar, ele sabia muito bem disso, mas parecia algo realmente sério, uma sensação dentro dele dizia que deveria ouvir o que estavam falando, ele fica próximo ao batente da porta as vozes bem mais altas e ele podia ver na fresta que ainda estava aberta todos os moradores reunidos no que parecia ser a biblioteca da casa, o cômodo era grande o suficiente para estarem longe demais da porta, provavelmente não notariam sua presença.
— Sem a próxima página não sabemos o que fazer, não tem como continuar, não tem como acabar a noite. — a anfitriã abraçava o próprio corpo olhando assustada um livro no meio da sala, agora que percebia todos estavam observando esse livro com variadas expressões, mas a expressão predominante na sala era preocupação com certeza — Qual o final da noite? O que devemos fazer?
— ... Quem estamos enganado? foi o convidado que fez isso... ele prendeu a gente nesse ponto da história, a noite congelou por culpa dele — Um dos gêmeos fala, ainda com um certo tom de brincadeira que tinham durante a festa, mas naquele momento a alegria na voz era fria, completamente fabricada, o camponês treme com o som quando o outro completa — Aposto que algo de ruim acontecia com ele... por isso tirou a pagina... para fugir do destino dele.
— Se esse é o motivo qualquer um de nós poderia ter feito isso, e se algo de ruim acontecesse com a gente, faríamos a mesma coisa — O mordomo contradiz, a tensão na sala parece cada vez pior sem que cheguem a solução nenhuma — Vamos procurar a pagina e...
— Está com o convidado. — A emprega diz certeira, os olhos voltando para ela, sua voz fria, precisa e dilacerante como uma navalha — Quando entreguei o chá para ele... ele estava segurando uma carta, o casaco escondeu, mas pude ver por um breve momento.
— Ele chegou com a carta como que...
— Já chega! — o anfitrião se levanta batendo na mesa, com ódio o som ecoando na sala fazendo todos se calarem — Vamos atrás do garoto... precisamos da carta, e se ela for a pagina eu juro que vamos matar esse convidado indesejado.
O camponês coloca a mão na boca tentando suprimir o grito que subia sua garganta, ele não podia acreditar, eles realmente estavam pensando em... mata-lo? Por uma pagina? O camponês sente a carta no seu bolso ficar ainda mais pesada, ele segura a vontade de abri-la, e se eles estivessem certos? Talvez se entregasse a carta poderia ser poupado... mas sua intuição, bem lá no fundo, dizia que sem sombra de duvida isso era uma péssima ideia.
— Temos que achar a chave pro final feliz e a resposta está na pagina, precisamos encontrar agora mesmo. — o anfitrião continua sua voz voltando a um tom menos irritado, mas ainda havia uma raiva velada no fundo, o camponês ainda podia ouvir — Vamos para o quarto dele ver essa carta.
Todos concordam, e começam a se mover, o camponês sabia que tinha que sair dali, mas a saída ficava no caminho do seu quarto, ele precisava se esconder, precisava fugir daquelas pessoas, seus pés andam antes mesmo que ele soubesse para onde ir, os corredores pareciam se embaralhar na sua mente, ele vê uma escada descendo para algum lugar, talvez fosse uma boa ideia se esconder lá, o garoto desce com calma tentando minimizar o ranger da madeira, seus dedos passam pelo corrimão enquanto adentrar a escuridão ainda mais densa daquele lugar
O ar parado demais e uma fina camada de poeira em tudo era as únicas características do lugar, era uma sala pequena com um estante de livros alguns moveis velhos, parecia um deposito de coisas que algum dia pertenceram ao andar de cima, mas agora tinham sido banidas para aquele lugar com o tempo, o camponês passa por todos os móveis e quando passa ao lado da estante sente uma brisa no seu pescoço... vento? Ele olha mais de perto notando no chão uma marca ao lado da estante, ele puxa alguns livros e nota aonde as placas de madeira se encontravam no fundo havia uma pequena brecha e de lá ele podia sentir um vento fraco, o garoto vai até a ponta da estante e começa a empurrar, o barulho parecia ensurdecedor naquele silêncio, seu coração palpitava só de imaginar que alguém poderia ter ouvir, mas se estivesse certo...
Depois de afastar o suficiente para que fosse possível passar pelo buraco na parede ele se rasteja para dentro e fecha o máximo que pode a entrada, a sala que ficava atrás do armário era um corredor estreito, ele anda pelo lugar que era feito de pedra diferente do modo fino da madeira que a Mansão era feita, ele chega em uma porta, o medo enchendo seu corpo, mas ele não podia voltar, o camponês abre a porta e então ao ver o que tinha do outro lado suas pernas fraquejam, seu corpo colapsa no chão observando sete caixões de pedra, sua respiração acelera, o que diabos acontecia naquela casa? Ele tinha que sair dali... tinha que ir... antes que desse meia volta ele nota em cima de um dos caixões uma pagina, talvez fosse... mesmo com medo o garoto vai até lá, se era aquilo que todos procuravam... ele precisava ver o que era, suas pernas bambas o levam até o caixão, as mãos tremulas pega o papel o desdobrando e então...
— Nada?... não tem nada... — Sua esperança se desfaz... ele morreria ali? Por um pedaço de papel em branco? Ele toca no papel sem querer se cortando — Droga!... Eu não posso morrer aqui... eu não posso... me mostra qualquer coisa...a chave pra sair desse inferno... eu tenho que sobreviver... não importa como...
Uma gota grossa de sangue cai no papel e então ele forma uma linha fina de líquido vermelho, mas não se comportava do jeito normal, o líquido começa a se mover de forma aleatórias bifurcando se contorcendo, tomando conta da pagina... se tornando... palavras! O camponês lê com receio o final daquela noite, o que precisava acontecer, seus braços perdem a força e ele sente lagrimas no seu rosto...
— Ah... então isso que eles quiseram dizer... o fim da história é esse... que cruel...
O garoto se levanta e vai para a saída da sala, tinha coisas para fazer, precisava pegar a chave para o final da história e então... o garoto limpa as lágrimas, duvidas afogavam sua mente, mas uma coisa sabia, o que quer que fosse aquilo ele tinha que seguir... sentia no fundo da sua alma que não importa o quanto lutasse, aquele era o fim da história...
O fim de uma história que mal começou para ele...
O fim de uma história que já durava demais...
O fim de uma história que era cruel...
O fim de uma história que doía...
O fim de uma história vil...
O fim de uma história....
O fim de algo...
O fim de...
O fim...
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woven in the endless night
Mystery / Thrillerum camponês se encontra perdido na floresta, com apenas uma carta nas mãos e sem um destino certo ele se encontra em uma mansão misteriosa com moradores prestativos, mas nem tudo parece ser o que se acha a primeira vista, em uma cadeia de mentiras e...