Ele acordou com o despertador da sua Alexa, sua música favorita tocando, os auto-falantes da caixa de som preenchendo o ambiente com a voz do seu cantor favorito, Zac Efron. Denis bocejou e deu o comando para as persianas se abrirem: Luz. O material escuro recuou em direção às paredes revelando a vista de um Rio de Janeiro ensolarado, a praia apinhada de pontinhos translúcidos caminhando pela areia quente. Espreguiçou-se, levantou-se (não conseguia ficar parado por muito tempo), seguiu em direção ao banheiro e tomou dois comprimidos pálidos. O alívio não era instantâneo, Denis sabia muito bem disso, mas logo seu foco começou a ser restabelecido, e ao tempo de tomar banho, trocar de roupa e escovar os dentes, sua mente havia se prendido completamente na realidade.Ele saiu no corredor e as luzes se acenderam, passou pelas muitas portas do amplo hall e desceu as longas escadas em direção à cozinha, onde sua mãe o esperava. Ela estava adiantada, portanto a cafeteira ainda não havia preparado seu macchiato de canela que ela religiosamente ingeria toda manhã antes de ir para o laboratório. O cheiro da canela no ambiente fazia o estômago de Denis revirar, o que o fazia sempre ser o mais rápido possível em sua refeição inicial do dia. Contudo, naquela manhã sua mãe estava conversando ao telefone com uma tal de dra. Suelen. O menino ziguezagueou de um lado a outro pegando itens aleatórios em gavetas e armários, tentando ouvir o que a mãe confabulava através do telefone.
A voz da mulher era um sussurro mudo, mas anos de prática em bisbilhotar as conversas secretas de sua mãe fizeram com que Denis se tornasse um profissional em ler seus lábios. Sua mãe, a dra. Rochelle Andrade, era uma neurocirurgiã renomada não praticante, que decidira desde o diagnóstico de TDAH do filho, voltar seus esforços para trabalhar no campo da neurociência, mais especificamente com o estudo e desenvolvimento de Inteligência Artificial.
Denis era um garoto bom. Doce e gentil. Mas possuía uma dificuldade genuína em se conectar com as pessoas. Parte disso se dava por conta de sua condição, parte por conta de sua excessiva timidez e gostos peculiares. Ele era o que os garotos da sua idade definiriam como "antiquado". Seus gostos pessoais refletiam uma mistura de eventos e personagens da cultura pop do início dos anos 2000, ouvia constantemente as mesmas músicas em uma compulsão adolescente e colava adesivos e cartazes do Zac Efron como Troy Bolton em High School Musical em toda superfície lisa que ele encontrasse (mesas, paredes, o capô do carro da mãe).
A dra. Rochelle Andrade se preocupava com a reclusão auto imposta de seu único filho. O menino sempre tivera de tudo enquanto crescia, menos amigos. Parecia que não conseguia se relacionar com as pessoas, ou talvez fosse o oposto. A doutora possuía a teoria de que ninguém da idade dele tinha paciência para lidar com alguém com sua condição médica. Não que essa condição lhe inibisse de viver uma vida normal, mas ela com certeza fazia suas interações interpessoais um pouco mais complicadas.
O menino odiava a escola. Seus piores pesadelos se transformaram em realidade lá. As pessoas pareciam não compreendê-lo, ou pior pareciam não querer compreendê-lo, e ele sabia disso. Todas as escolas haviam adotado um sistema híbrido de ensino, ele passava três dias lá e dois dias assistindo aulas em casa. Mas os dias presenciais o faziam sofrer demais, faziam com que ele quisesse abandonar os estudos e jogar tudo para o ar.
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Meu Tutor Holograma - Start of Something New
Ficção CientíficaDenis Andrade é um menino timído que se sente excluído por amar a cultura dos anos 2000 - principalmente, os filmes da trilogia "High School Musical". Ele era chamado de "antiquado" pelos seus colegas de classe e não curtia muito a cultura adolescen...