O barulho das lâmpadas piscando era extremamente irritante, sei que deveria estar focada no problema principal, urgente, eminente aqui na minha frente mas só conseguia ouvir aquele barulhinho irritante, estou cansada, é só cansaço. Só cansaço.
- me ajuda a segurar ele, não fique aí parada igual uma idiota! Segura ele! - o antigo representante de classe gritava pra mim.
Dei alguns passos em direção ao paciente se debatendo no chão, segurei uma de suas mãos mas logo ele se soltou, me dando alguns chutes, como uma criança mimada que ouviu um "na volta a gente compra" e que agora fazia birra no chão do shopping. Acho que disso não vou sentir falta.
- por favor, senhor, tente se acalmar - pedi calmamente. Eu não vi mas tenho certeza que o representante de classe deve ter revirado os olhos, nunca nos demos muito bem mas ficar 24 horas por dia presos juntos, no meio desse caos, fim do mundo, com as pessoas enlouquecendo, bom, não é fácil pra ninguém.
Segurei seu rosto, para fazer com que me olhasse nos olhos, não é o que as normas de higiene indicam mas se funcionava com meu sobrinho de 5 anos, então deve funcionar com ele.
- se acalme, porra.
Ok, isso eu não falava pro meu sobrinho.
- você não quer virar uma daquelas coisas, né? então foca em se acalmar.
Ele me olhava nos olhos, sua respiração foi se acalmando, como um atleta que acabara de correr 50 metros.
- tá, se afasta dele, tá querendo se infectar e matar a gente? - o representante chato me empurrou pra longe do homem.
- você que pediu ajuda, maluco - odeio ele - e vê se pede pra alguém trocar essas lâmpadas, já que você é o representante aqui.
- claro, vou chamar agora mesmo um entregador, perae - ele meteu a mão no bolso do jaleco, tirando um celular imaginário - ah é, O MUNDO ACABOU SOFIA! ACORDA!
- vai se foder - mostrei o dedo do meio pra ele - vem moço, vou te tirar de perto desse nojento INSUPORTÁVEL!
Ajudei o cara a levantar, ele tava suado, cansado, como se tivesse lutado com alguém, tecnicamente, ele tá lutando contra alguma coisa.
- É Gus.
- O quê? - foi a primeira vez que ouvi ele falar.
- É Gus. O meu nome - ele deu um sorriso fraco - só pra você saber.
- Paciente 09 - o chato murmurou atrás da gente.
- Ainda somos humanos, Frederico.
Abri a porta pra sair daquela sala, deixando Fred sozinho.
- Talvez ele não seja por muito tempo - ele falou antes que a porta automatica se fecha-se atrás de nós.
- Ignora - falei pra Gus, mesmo sabendo da possibilidade de aquilo ser verdade - a gente tá aqui pra te ajudar.
Algumas horas atrás, havíamos perdido o paciente 06, 08 e a consciência do 07 ficava indo e voltando, não podíamos mais conversar sem ter uma parede de vidro a prova de balas entre a gente.
Gus é nossa esperança, observamos ele por câmeras de segurança e um grupo foi enviado pra trazer ele até o laboratório, ele parece lutar bem contra o vírus.
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2022
AcciónEssa estória foi baseada em um sonho que tive em 2022, toda vez que contava a algum amigo, ouvia a famosa frase "você devia escrever um livro", e fiz isso. Escrevi e reescrevi várias vezes quanto possível, mandei áudios, gravei o quanto podia lembra...