Já era tarde quando Elizabeth percebeu o erro no sistema. Uma chuva de meteoros estava agendada para aquela madrugada e havia grande risco de colisão, mas nenhuma notificação de emergência, quando deveria ter. Ela sabia que o Apocalypt, satélite produzido dois anos antes por seu cientista-chefe, Daves, podia proteger o planeta e obstruir chances de destruição, afinal, esse era o objetivo. Mas, como acionariam o satélite se nem sabiam da possível ameaça?
Ela se sentiu obrigada a ir ao escritório de Daves. Mesmo já passando das onze da noite, sabia que ele estava lá. Daves era sempre o primeiro a chegar e o último a sair, e ela gostava disso. Depois de três batidas na porta, Elizabeth entrou. O lugar estava escuro e ele tinha uma luminária apontada para o rosto quando os olhos verdes pousaram nela.
— Lizzie? O que faz aqui? Já está tarde.
— O senhor viu que há expectativa de uma possível colisão envolvendo a chuva de meteoros? — ela perguntou, enquanto fios de cabelo castanho escapavam de seu coque.
— Vi sim, mas está tudo sob controle — Daves se levantou da cadeira. — Não se preocupe.
Com um sorriso, ele estendeu a mão para pôr uma mecha do cabelo dela atrás de sua orelha. Lizzie sentiu o rosto esquentar, enquanto o observava. Parecia cansado. Daves não era velho, tinham quase a mesma idade, mas as rugas em seu rosto pintavam uma imagem errada. Mesmo assim, ela o admirava.
(...)
Mais tarde, Elizabeth lutava para dormir. Não conseguia tirar da cabeça a imagem de um meteoro em contato com a Terra. O mundo poderia acabar e seu coração doía por isso. Às duas e meia da manhã, recebeu uma mensagem: "Não suporto mais a existência de um mundo cruel como esse. Se isso pode acabar com tudo, por que não deixar acontecer?", ela leu a mensagem três vezes, antes de mandar uma resposta para Daves. "Desculpe, mandei errado", foi o que ele disse. Cinco minutos depois, ela já estava a caminho do escritório.
Estranhou quando viu o carro de Daves ainda ali e apressou o passo, desejando que sua teoria estivesse errada, mas não estava. Achou-o observando calmamente, enquanto o meteoro se aproximava da Terra. Se ele não fizesse nada, seria tarde demais. A mágoa tomou de conta dela. Se ao menos soubesse ativar o dispositivo sozinha. Veio uma ideia à sua mente e ela correu para a sala dele, à procura das anotações certas, quando ele percebeu sua presença.
Daves a seguiu e com raiva, sacou e apontou uma arma em sua direção.
— Por favor. Ainda há pessoas boas — disse, tentando convencê-lo, com as mãos tremendo.
Ele balançou a cabeça. Com lágrimas nos olhos, ela implorou. Pensou no futuro que nunca teria. No futuro com ele. Daves se comoveu porque ela era boa e isso importava. Com um aceno, a deixou ir.
Tudo o que Lizzie ouviu quando ativou o dispositivo foi o alívio pulsando em seus ouvidos e o estrondo de uma arma. O mundo ficou, mas ele se foi.
VOCÊ ESTÁ LENDO
E se o mundo acabar?
Short StorySEGUNDO LUGAR na Copa dos Contos - Edição de Fim do Mundo. Coletânea de contos.