Yvaine sonhou com o céu despedaçando. Ela pôde ver claramente as estrelas desenhando linhas mortíferas enquanto caiam no oceano e temeu que fosse mais que um sonho quando a cacofonia sufocou seus ouvidos sair do quarto e encontrar sua mãe desesperada.
Uma explosão levou todos para fora. Nobres e servos se misturaram nas ruas. O céu brilhava com os primeiros raios de Sol do dia, as estrelas em uma corrida, o chão tremendo como as crianças que choravam no colo de suas mães. De repente, tudo parou, bem lentamente. E Yvaine sentiu no âmago, o coração de sua mãe parar quando uma camada gelada cobriu o corpo de cada um. Ela demorou a perceber que se tratava de um feitiço antigo que tinha como objetivo a paralisação de corpos.
Por um minuto, decidiu-se que ainda estava sonhando, mas sentiu o corpo de Daniel, príncipe de Andelle e seu amigo de infância, batendo no seu e ao vê-lo com um rosto tão confuso quanto o dela, soube que era real e angústia tomou conta de sua mente. Daniel, percebendo sua aflição, a abraçou forte, prometendo que tudo ficaria bem.
Yvaine revirava as memórias de suas viagens noturnas pelo palácio, lendo livros proibidos sobre o tempo em que a magia era real. Ainda abraçando o príncipe, ela pensou em sua mãe e seu coração estremeceu. Precisava descobrir o que estava acontecendo e precisa salvá-la. Não podia ficar sozinha. Apenas o medo dessa possibilidade a fez lembrar do livro de profecias em um túnel debaixo do castelo, que lera ainda adolescente. Lá, havia uma página cheia de previsões para o fim do mundo, que só poderia ser impedido quando os Escolhidos acalmassem a fúria das estrelas. Assim, foram até lá.
Yvaine não demorou em reinvidicar o livro e procurar entre as páginas velhas a passagem sobre o fim de Andelle. O livro dizia que para salvar o mundo da fúria dos Céus, eles teriam que achar a pedra da Lua que há muito tempo fora roubada do templo de Yeshua e escondida ao redor do Reino, onde as fronteiras eram repletas de seres oriundos da escuridão. Se a pedra não fosse encontrada e recentralizada no templo até o pôr do sol, o mundo acabaria e todos morreriam.
Como fariam isso? Não faziam ideia de onde a pedra estava escondida e teriam que achá-la antes do pôr-do-sol?
"Eu vou", Daniel disse.
"Você nem sabe onde está e não vou deixar que vá sozinho", ela rebateu.
"Deve ter alguma pista, não?"
Yvaine voltou a virar as páginas do livro à procura de qualquer coisa que os levassem à localização exata da tal pedra. Encontrou apenas um curto poema:
"Sob as montanhas a pedra reluz
Sob a quarta estrela, onde jaz forte luz."
Não fazia ideia do que o segundo verso queria dizer, mas entendeu o primeiro rápido o bastante para estarem fora do túnel antes do Sol nascer completamente. As montanhas ficavam na fronteira do Norte, onde as bruxas do Gelo moravam, pelo menos era o que diziam. Yvaine torceu para que tivessem sido atingidas pelo feitiço também, sabia o quanto podiam ser perigosas.
Chegaram lá por volta do meio-dia, o que os deixava com pouco tempo para enfrentar o que quer que tivesse sob as montanhas. Tiveram que atravessar metado do Reino a pé, porque o feitiço decidiu afetar os cavalos também. O corpo deles poderia ser derrubado por uma leve brisa de tão exaustos que estavam. Quando chegaram aos pés da cordilheira, ouviram um ruído atrás da floresta que os cercava. Antes que pudessem perceber o que estava acontecendo, encontraram-se sob a ameaça da espada de uma bruxa.
"O que fazem aqui?", a criatura de cabelos brancos cuspiu. "Você é o herdeiro", apontou para Daniel. "Explique o que seu pai fez. Por que estão todos enfeitiçados?", a lâmina se aproximou do pescoço do príncipe e Yvaine se colocou à frente.
"Não foi o Rei. Se baixar a espada, conto-lhe tudo", Yvaine prometeu. A bruxa, relutante, fez o que a jovem pediu e se aproximou para ouvir atentamente. Eles explicaram tudo, e tentaram convencê-la de ajudá-los. Afinal, ela deveria ser um dos Escolhidos também.
Hesitante, Crystal, a bruxa, aceitou seguir com eles. Lendo o poema, percebeu que a quarta estrela se referia à constelação da Coroa de Yeshua. O Sol ainda estava no céu e não tinham como ver a constelação, mas Crystal conhecia bem o mapeamento estelar. Em uma rápida verificação, soube que a montanha menor com o topo arrendondado era a certa.
Por um atalho chegaram sob a cordilheira ao final da tarde, após enfrentarem dificuldade com o solo liso pelo gelo e os montes de neve que caíam. Cada vez menos tempo, pensou Yvaine, tinham sorte pelo templo de Yeshua ser ali perto. Mas, assim que encontraram a pedra da Lua, reluzindo em tons de azul e roxo, sentiram o chão tremer. Yvaine não pensou demais ao colocar a pedra dentro da bolsa que carregava e correr para fora. Crystal a seguiu, protegendo a jovem de pedaços de neve que caíam e impedindo quase escorregões. Daniel seguiu atrás delas, preocupa com o fato de que o Sol estava se pondo.
Yvaine caiu, mesmo com os esforços da bruxa, e Crystal recebeu a bolsa rapidamente. Ela podia sair dali a tempo e correr até o templo que já estava coberto de neve. Ao chegar, desceu uma escadaria, enquanto as explosões se iniciavam do lado de fora. Uma estrela caiu sobre o templo, atrás dela, e Crystal acelerou. Com o coração saltando, finalmente chegou ao centro. Ainda ouvindo explosões, o desespero a tomou quando o chão se partiu. Tirou a pedra da bolsa e a colocou sobre a mesa de ouro à sua frente. De repente, o alívio a possui.
Tudo parou, e por um momento só havia silêncio. Crystal observou o chão voltar a se firmar e a escada, que havia sido destruída pela estrela, estava intacta, novamente. A bruxa sorriu quando ouviu o grito de júbilo do príncipe e de Yvaine, genuinamente feliz pela chegada da noite.
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E se o mundo acabar?
Storie breviSEGUNDO LUGAR na Copa dos Contos - Edição de Fim do Mundo. Coletânea de contos.