005. recado

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Que dia cheio

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Que dia cheio. Cheio de papelada. Cheio de estresse. Cheio de conta para pagar. Cheio de cheio.

Entro no meu quarto exausta após um dia longo e tiro meus saltos soltando a cabelo.

Aperto no botão que me permite escutar os recados não atendidos, é um telefone, um item encima da escrivaninha, uma única fresta de luz lunar ilumina uma parcela do aparelho, escutando o recado de Louise, minha amiga canadense, chega mensagem no meu celular de um desconhecido, é uma foto de um post-it. Que diz para que eu desse play em seu áudio, eu poderia reconhecer a caligrafia mesmo que ficasse mil dias sem vê-la. Cancelo o recado de Louise e vou diretamente para segunda.

Depois de um certo momento de excitação e respiradas fundas, dou play no áudio e então sua voz invada meus ouvidos e cada canto do meu quarto é preenchido pelo seu falar.

"Uma vez li sobre o ensinamento de uma astronauta britânica no qual ela diz que quando olhou para Terra entendeu a importância dos relacionamentos humanos. De primeira não entendi mas depois de um tempo pude interpretar que somos minúsculos e frágeis se comparados com nosso planeta, pequenos o suficiente para não sermos nem percebidos em uma viagem pela órbita mas quando nos relacionamos com outras pessoas nos tornamos gigantes, não literalmente, digo gigantes de alma, nossas relações não fazem com que sejamos vistos mas fazem com que nos sintam mesmo que estejam em outro mundo, é como se nossa presença fosse um piscar de olhos se sozinhos e quando em família somos permanentes, seremos para sempre memória, sentimento e de alguma forma importantes para alguém.

Por muito tempo me senti apenas um corpo vagando um espaço cheio e desviando de outros corpos para que eles não se tornassem como eu, vazios. Observei famílias e amigos e a forma que eles se relacionavam, quis sentir isso também, parecia bom, eles sorriam e se abraçavam como se a mínima falta de toque os fariam colapsar.

Então você chegou, roubou meu quarto. Chegou, sem aviso nem prévia, apenas chegou, e foi se aproximando com seu jeito leve e aventureiro de viver, sem que eu percebesse foi preenchendo meu vazio, e me fazendo entender o que a astronauta disse mas diferente dela eu não precisei tirar meus pés do mundo, apenas precisei focar meus olhos em você para perceber que precisamos de alguém para amar e ser amado da mesma forma que precisamos dos recursos que a Terra nos dá."

Meus olhos expressam o que não consigo dizer, eles demonstram pelas lágrimas salgadas que encharcam meu rosto a confusão de sentimentos em mim, desde a saudade que grita no meu peito, até a felicidade por ele finalmente falar algo significativo depois de 4 semanas que voltei do Canadá. Após conseguir me recuperar pelo menos um pouco, dou novamente o play no áudio tentando ser forte o suficiente para ouvir tudo o que ele tem para dizer.

"Eu sei que você me xingou e me culpa pelo que fiz, eu te devo desculpas e peço por favor que não se culpe pela minha atitude de moleque, se fiz o que fiz foi para te proteger de maior sofrimento, minha mente me aprisionava mais do que a própria prisão, era atormentado pela minha mente de uma forma que nem os mais fortes dos homens conseguiria me libertar, mas você com toda a sua calmaria conseguiu com que mesmo eu preso pudesse conhecer a paz por um tempo, te agradeço por tudo que fez por mim conscientemente e inconscientemente.

Eu fugi, não fui forte o suficiente para aguentar a dor de tão te ter por perto, fui fraco, Melanie. E por isso te magoei, nunca vou me perdoar pelo o que causei com você nesses últimos anos, mas se te ignorei, foi pelo seu bem e minha tortura.

Prometi muitas coisas, e descompri muitas. Mas uma sempre foi e sempre será a mais fiel das minhas promessas: Eu sempre vou te amar como um fogo de mil sois, Melanie Crawford. Eu te amo de forma incondicionalmente de onde quer que você esteja, Kitchen Hill, Manhattan, Canadá, não importa o lugar, você sempre será minha estrela guia."

Eu sento no chão e deixo que as lágrimas e a saudade tome conta de mim, não vou culpá-lo por ter me causado dor, sei o quão foi difícil para ele também. Fico um tempo nessa posição até decidir que não pode ficar por assim, me levanto, pego as chaves do meu carro e saio de casa às pressas.

labyrinth, 𝘁𝗶𝗺𝗼𝘁𝗵𝗲𝗲 𝗰𝗵𝗮𝗹𝗮𝗺𝗲𝘁Onde histórias criam vida. Descubra agora