METANOIA

LUCERYS VELARYON

Mesmo que parecesse, Lucerys não odiava as constantes reuniões familiares que mamãe e Alicent sempre planejavam. Ele amava sua família sim, até mesmo Aegon — não seu irmão. Aegon, o filho mais velho de Alicent com seu avô, que não era levado a sério por ninguém na família.

Então não, ele não odiava reuniões familiares.

Ele odiava Aemond.

Lucerys podia sentir o olhar predatório do seu tio daqui, do outro lado da piscina.

Não tinha mal duas horas que eles haviam chegado e Aemond fez questão de não desviar o seu olhar de Luke nem um minuto sequer.

Era sempre assim, Aemond o encarava como se quisesse o matar, ele encarava de volta e os dois travavam essa guerra silenciosa de olhares. E, geralmente, só acabava quando algum membro da família tivesse a sorte de faze-los desviar o olhar um do outro.

E era o que acontecia agora, com um Aemond apenas de roupa de banho, deitado confortavelmente em uma das enormes cadeiras que ficam ao redor da piscina, olhando para ele, sem nem mesmo piscar.

Luke, que estava dentro da piscina com seus irmãos, apenas mantinha o contato visual, como se desafiasse seu tio a fazer alguma coisa. Ele levantou uma sobrancelha desafiadoramente, sem quebrar o contato visual. Aemond apenas curvou os lábios, um sorriso de diversão quase não perceptível se formando.

— Cara, vocês são tão esquisitos. — ele ouviu Viserys chiar ao seu lado na piscina. — Vocês não pararam de se encarar desde o momento que você chegou nessa maldita casa.

— É bizarro como o Aemond realmente não tira os olhos do Luke. — Jace concordou, passando as mãos pelo cabelo e encostando na borda da piscina. — Será que ele não supera nunca?

— Você superaria? — Lucerys suspirou, finalmente desviando o olhar. — É um olho, Jace. Não um brinquedo.

— Você tinha cinco anos, Luke. — seu irmão respondeu. — Você nem sabia o que estava fazendo.

— E ele tinha sete. Não acho que isso seria uma coisa que você se esqueceria tão facilmente.

— Se quiser culpar alguém, culpe quem deixou uma faca ao alcance de crianças claramente desequilibradas. — Rhaena comentou, chegando mais perto da roda.

— Você se arrepende? — Baela perguntou, cautelosa. — De ter tirado o olho dele?

Luke demorou os olhos em Aemond, que agora estava conversando com Helaena.

Ele se arrepende? Ele já pensou muito nisso, se tinha algum vestígio de remorso por ter tirado o olho esquerdo do seu próprio tio a tantos anos atrás. Ele se lembra, como Aemond gritou de dor, como sua mãe correu até ele quando viu o nariz quebrado. Ele se lembra perfeitamente da voz de Alicent, alguém que deveria ser como uma figura materna para Luke, gritando descontroladamente para Criston Cole tirar um de seus olhos.

Olho por olho, ela disse. Lucerys Velaryon tem uma dívida que precisa ser paga. Eu quero um dos olhos do menino.

Mas não, Lucerys não se arrepende. Culpa? Ele pode sentir, afinal ele tirou o olho de alguém que deveria ser da família. Mas quando ele viu Aemond com uma pedra apontada na direção de Jace, ele soube que faria de tudo para proteger o irmão. Ele pode não se arrepender, mas tentaria fazer as coisas diferentes.

Ele nunca ofereceu nem sequer um pedido de desculpas a Aemond, mas Lucerys pensa que agora é tarde demais. Do que adianta chorar pelo leite derramado? Ele e Aemond se odeiam e é assim que as coisas são.

— Não.

A resposta foi simples e curta, mas Baela sorriu, como se o que tivesse escutado lhe agradasse.