Ás vezes, as mais belas histórias de amor, com os mais belos frutos são esquecidos pelos mortais. Mas a sua história, seus beijos, suas lágrimas e seus sorrisos estão eternamente gravados nas estrelas, apenas esperando para serem relembrados. O amor de um deus por um mortal é a mais bela forma de ternura. Assim era Apolo com Jacinto, um belo jovem espartano, atlético, adorado por praticamente todas as divindades. O deus solar gostava tanto do jovem espartano que fazia de tudo por ele. Entretanto, Jacinto também era muito amado e cortejado por Zéfiro, o deus do vento oeste. Zéfiro odiava a aproximação que havia entre Jacinto e Apolo pois cada vez que seu amado estava perto do deus do Sol mais longe dele estava.
O deus do vento oeste confabulava com as ninfas da floresta, dizia para as mesmas que jamais havia amado alguém da mesma forma que amava Jacinto e o culpado de tudo era Eros que com sua flecha do amor havia acertado o coração do pobre Zéfiro.
Ele acreditava que havia mais coisas entre a amizade de Jacinto e Apolo, e ele descobriria o que era nem que tivesse que rastejar até o Tártaro para descobrir.
- O que poderei fazer? - Perguntava para uma jovem dríade que estava por ali, e nem mesmo a pobre criatura sabia o que fazer. - Eu não consigo viver longe de Jacinto e a cada dia vejo que Apolo e Jacinto estão cada vez mais próximos. Tem caroço nesse angu e eu vou descobrir, preciso fazer algo. - Dizia irritado.
Enquanto isso Apolo e Jacinto se regojizavam à beira de um lago. O deus tocava em uma lira enquanto declamava uma ode intitulada "sonhos", Jacinto dançava e rodopiava em volta de Apolo, suas palmas e risos ecoavam pela floresta fazendo com que as criaturas que habitavam o local saíssem para ver aquela cena maravilhosa. As náiades que moravam no lago e que eram extremamente fascinadas pelo jovem espartano se debruçavam na margem do lago para vê-lo e suspiravam enquanto diziam que "Apolo e Jacinto" formavam um belo par.
No alto de uma nuvem estava Zéfiro que resmungava sem parar, seus ciúmes eram evidentes que até uma brisa forte começou a soprar, queria atrapalhar o romance do jovem casal e ele seria capaz de tudo.
- É TUDO CULPA DE EROS! - Bradava!
A forma grega de Cupido era muito cruel da mesma forma que as parcas eram quando enviavam os heróis quase mortos para Ogígia. Zéfiro estava sentindo o que naquele momento Calipso havia sentido, uma dor tão profunda que ele seria capaz de arrancar o próprio coração para que aquele sentimento sumisse.
Jacinto já tinha feito sua escolha, ele preferia Apolo pois o deus o fazia sentir-se como uma criança feliz, não que Zéfiro fosse ruim, mas a sua afinidade com Apolo era maior e assim seria. Quando Zéfiro soube da escolha de seu amado sentiu-se traído e enciumado, era como se alguém tivesse cometido o maior pecado do mundo. Zéfiro iria se vingar.
Certo dia de sol brilhante, Apolo e Jacinto brincavam a beira do mesmo lago, estavam fazendo um piquenique para brindar a ternura que ambos sentiam um pelo outro. Apolo trazia em suas mãos algumas argolas de quoits, aquele jogo era um dos preferidos de Jacinto. Zéfiro observava tudo de longe com raiva nos olhos, era claro que estava com ciúmes do que estava vendo. Para ele não havia só uma amizade ingênua entre os outros dois.
Apolo jogava as argolas e Jacinto corria para alcançá-las, estavam muito felizes com aquilo que nem imaginavam que estavam sendo observados por Zéfiro. O deus do vento começou a soprar forte, ele queria que a argola fosse para longe e atrapalhasse o jogo do dois.
- O que você está fazendo? - Uma voz disse perto de Zéfiro e ele olhou rapidamente. - Sabe que você pode machucar um dos dois. - A voz era de uma Antusa que há dias observava o comportamento de Zéfiro.
- Eu não quero machucar Jacinto. Eu só não suporto vê-los juntos. - Zéfiro dizia, sua voz estava falhando como se ele fosse chorar.
- E se uma das argolas atingir algum dos dois? Apolo ainda pode se curar pois é imortal. - A Antusa dizia. - E quanto a Jacinto? Ele é mortal e morreria. Seu sangue mancharia a grama verde e a culpa seria toda sua.
A frase "seu sangue mancharia a grama verde e a culpa seria toda sua" martelava na cabeça de Zéfiro. Ele jamais se perdoaria se algo acontecesse com seu amado. A brisa forte e então começou a cessar calmamente. Zéfiro suspirou e voltou seus olhos em direção aos jovens e sorriu. Ele até pensou em chorar para lavar a alma, entretanto o que lavaria sua alma era a consciência limpa. Ficou mais um tempo observando-os brincar com suas argolas e então seguiu cultivando no espírito os princípios da paz, sua consciência limpa sempre valeu mais.
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Uma consciência limpa vale mais
FanficE se Zéfiro não tivesse soprado o vento? E se Jacinto tivesse sobrevivido? Leia comigo esse mito recontado de outra maneira. Na forma em que Zéfiro tivesse tomado consciência de seus atos, controlado sua ira e evitado a morte de seu amado