O Garoto Shuji - HanKisa

Cap 1

Cap 1

Diário de Kisaki Tetta
29 de dezembro de 2016, quarta-feira.

Finalmente férias. Férias de inverno. Como eu amo as férias. Eu amava mais antes, quando dava pra brincar o dia todo com o Michi. Mas ainda sim, amo as férias. Mais ou menos duas semanas sem aula. Como é bom não precisar ver a cara daqueles meus colegas. Um bando de idiotas.

Normalmente, nas férias, eu costumava passar a maioria dos dias com Takemichi. Já que meu pai só tinha férias no natal e no ano novo, e às vezes ainda trabalhava nesses dias. O que eu podia fazer era me divertir com meu melhor amigo.

Desde que Michi se mudou, nós nos encontramos bem menos. Chega a ser estranho não o vê-lo todo dia. Mesmo após quase dois anos, não consigo me acostumar. Eu passei a vida inteira ao lado daquele cabeçudo, que sempre ajudava as pessoas e era gentil com todo mundo, um herói para todos.

Ele é o meu herói. Esteve comigo quando eu mais precisei. Não me deixou de lado por eu ser mais pobre que ele. Não me deixou mesmo nossas famílias serem, literalmente, opostas. E continuou sendo meu melhor amigo, mesmo pela distância, ele nunca me abandonou, e sempre me ajudou a levantar. Ele é meu herói.

É bem brega falar isso. "Ele é meu herói". Mas não posso mentir, ele me salvou. Não sei o que eu seria sem a amizade dele.

O Takemichi é o contrário de mim. Ele é extrovertido. Alegre. Tagarela. Consegue fazer amizades com todos. É gentil. Sorridente. Eu não sou assim. Eu sou introvertido, calado, quieto na minha, não consigo fazer amizades sozinho, costumo ser curto e direto com quem não tenho intimidade, quase nunca sorrio, e sempre levo meu caderno pra onde eu vou.

Mas também sou bem observador. Para melhorar minha escrita e olhar do mundo. Eu vi e fiz diversos cursos diferentes. Consigo distinguir quando alguém mente. Quando alguém está apaixonado. Quando está feliz ou triste. Consigo entender as expressões faciais.

Quando sentimos algo, temos uma "reação involuntária", e nesses cursos, eu estudei sobre elas, cada reação involuntária, e o que cada uma significa. É deveras interessante esse assunto, e também muito importante para a vida. Pode me beneficiar independente do que eu decida trabalhar futuramente.

Já tentei incentivar o Michi a fazer um desses cursos. Mas ele sempre diz que é chato demais. Não é chato quando podemos saber o que o outro está sentindo apenas olhando para o rosto ou ações da pessoa. É bem útil.

"Vamos, Michi, dá uma chance" digo a ele pela vídeo chamada

"Ahh mas é tão chato" ele diz jogando a cabeça para trás "eu já tenho tanta coisa para fazer, tantos trabalhos, deveres, como um pobre coitado como eu poderia ter tempo pra isso?" ele fala fazendo seu típico drama de novela.

Ele ama fazer isso. Drama. Uma das coisas que ele mais ama fazer. Nos divertimos muito com isso.

"Nem vem, Michi. Que você tem menos coisas do que eu" digo. E realmente era verdade. Tenho muita coisa para fazer, mesmo nas férias. Afinal, quero arrumar uma bolsa de estudos e sair da imundice daquele colégio.

Ele revira os olhos.

"As coisas aqui não são fáceis, Kisa" ele diz brincando com a caneta "Se você viesse pra cá entenderia"

"Talvez, vai que só você ache dificil porque é burro" brinco com ele

"Eiii, Eu não sou burro!" ele cruza os braços "Você que é esperto demais"

Solto uma risada e ele fica me repreendendo. É disso que eu falo. Ele consegue fazer as pessoas rirem com tanta facilidade.

"Mas falando sério, Kisa" ele fica sério e eu o olho. "Os meninos aqui são uns gatos" ele diz com um olhar malicioso