Prólogo

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Prólogo

  Alguns adultos já me disseram que seria um orgulho ter um filho escritor. Os amigos dos meus pais falaram isso quando mostrei o primeiro livro que escrevi, “João e o ganso de esmeralda”, me inspirei em “João e o pé de feijão” e “O ganso de ouro”, eu escrevi quando tinha 9 anos. João e o ganso de esmeralda conta a história de um garoto que trocou uma bezerra por uma galinha que dizia dar ovos 10x mais suculentos, e no dia seguinte a galinha tinha ficado gigante e botava ovos gigantes de esmeralda, que ia destruindo a vila em que João morava. É uma história bem infantil, até porque, eu tinha 9 anos quando escrevi.

  Minha mãe, Aiko Tetta, nunca deu muita importância para as coisas que eu fazia, ainda mais depois que ela e meu pai, Riki Tetta, se separaram, ela quase nunca fala comigo. Eles se separaram pouco antes de eu fazer 8 anos. Depois de tantos anos, me acostumei com a falta de importância que minha mãe me dava. E pouco me importa agora.
  Meu pai também não era o mais atencioso. Ele sempre foi bem ocupado e quase nunca tinha tempo para conversar comigo. Eu via ele só em alguns almoços e nos domingos, o resto dos dias ele estava ocupado trabalhando, e quem cuidava de mim era uma “babá” ou Fumiko Hanagaki, a mãe de Takemichi Hanagaki, meu melhor amigo de infância.

  Eu e Takemichi nos conhecemos desde sempre. Nossos pais eram amigos e sempre convivemos juntos. Eu sou 5 meses mais velho que ele. Nasci dia 20 de janeiro de 2001 e ele é 25 de junho de 2001.

  A família de Takemichi é incrível. Sua mãe é advogada, e seu pai é um empresário muito renomado, dois pais bem sucedidos, com bastante dinheiro, uma casa grande, móveis chiques, coisas caras, a minoria inúteis. Eles são uma família linda, unida, bem sucedida, feliz, e sem brigas, as coisas com eles se resolvem no diálogo. Como uma boa advogada, Fumiko sempre usava a conversa antes da agressão. Uma mãe realmente admirável.

  Sempre que podíamos, eu e o Takemichi íamos no parquinho do lado do condomínio onde moramos. Era sempre tão divertido, só eu e ele. Sempre foi só nós dois. Mesmo com a diferença de classes. Ele sendo rico e tendo uma família de dar inveja, e eu vindo de uma família pobre e totalmente dividida. Nós continuamos melhores amigos, independente do que acontecia.

  Estudávamos na mesma escola, éramos quase inseparáveis. Os pais de Michi sempre davam um jeito pra gente ficar na mesma turma. Fazíamos os trabalhos juntos, brincávamos de pega pega no recreio. Nos viamos todos os dias. Era impossível nos separarem.

  Isso foi só até o início do oitavo ano. Os pais de Takemichi queriam que ele estudasse em um colégio renomado, próprio para “pessoas como ele”, para pessoas com dinheiro. Como esse colégio era muito longe de onde moravam, eles tiveram que se mudar. E eu fiquei sozinho. Sem Takemichi eu não tinha amigos na escola, era considerado o “nerd” e ninguém queria falar comigo, só pra saber as respostas das atividades.

  Foi assim por dois anos. Era o último trimestre do nono ano, eu já tinha passado em todas as matérias, então não estava me preocupando muito com a escola. Estava mais ocupado estudando para ver se eu conseguia alguma bolsa de estudos. Eu tentei em várias escolas, até algumas fora de Tokyo, mas não obtive nenhuma resposta agradável.

  Um dia, eu estava um pouco apressado, e me inscrevi em uma avaliação para ver se eu ganhava uma bolsa de estudos. O meu plano era ter clicado na escola de ensino médio para pessoas próximas a minha classe social. Mas na correria, acabei me inscrevendo para a avaliação para a bolsa de estudos de “Tokyo Renowned School for Success” (TRSS), o colégio mais renomado e cara de Tokyo. O mesmo colégio que Takemichi tinha ido estudar a dois anos.

  E o idiota aqui só percebeu isso depois que enviou a avaliação, olha que beleza. Quando eu percebi já era tarde demais, já tinha enviado, e não tinha como voltar atrás.

  Eu nunca fui do tipo muito otimista, esse papel era do Michi, sempre vendo o lado bom das coisas, nunca entendi como ele conseguia, eu sempre vejo o pior, e imagino o pior também.

  Se não fosse por ele, eu já teria desistido do meu sonho de ser escritor. No início meu pai dizia que tinha “orgulho” de ter um filho escritor. Mas com o tempo, ele e minha mãe foram dizendo que ser escritor não daria dinheiro, ainda mais se você não fosse reconhecido. E disseram para eu começasse a estudar sobre “coisas que realmente darão dinheiro”, como disse minha mãe.

  Takemichi me incentivou a não desistir do meu sonho, e continuar escrevendo, que um dia, talvez, meu trabalho fosse reconhecido. E eu não vou desistir dele tão cedo, mas isso também não me impede de estudar sobre algum trabalho secundário, ou caso ser escritor não dê certo.

  Por isso mesmo, comecei a escrever em meu caderno, sobre minha vida, e o que acontece nela. Não sei o que me motivou a isso, mas sinto que algo de novo vai acontecer, e quero deixar registrado.

O Garoto Shuji - HanKisaOnde histórias criam vida. Descubra agora