Eu acordo, sinto como se um avião comercial tivesse me acertado na cara, eu olho em volta e vejo que tudo foi pro inferno, a casa do Beckerson foi pro inferno, ele foi pro inferno, e Denis foi pro inferno...
Não demora muito pros bombeiros chegarem e apagarem o fogo, e eu fico lá sentado igual um idiota no mesmo local onde fui derrotado, seu velho idiota! Os paramédicos me colocam sentado numa ambulância e me cobrem naquele papel de alumínio comprado em mercearia com dinheiro de impostos, eu acendo um cigarro e o médico começa a vomitar arrogância na minha cara. Os policiais de rua chegam e me levam para uma delegacia pra eu dar meu depoimento, mas eu não acho que eu vou fazer isso, haha...
— Ei, esquisitos.
O policial que tá no banco da frente se vira e olha pra mim com uma cara de desgosto e de quem desejava estar em outro lugar.
— O que foi?
— Qual prevsbilhi?
— Ahn?
Eu faço um grande som de peido com a boca e o policial se vira enquanto resmunga. Isso foi o suficiente, é hora de agir. Eu abro a porta da viatura e pulo dela em movimento, eu fico rolando naquela rua úmida e suja enquanto os policiais tentam entender o que houve, eu rapidamente me levanto e corro pra um beco do lado de uma loja de conveniências, eu vejo vários mendigos no chão me olhando enquanto eu passo por eles, eu olho num vidro quebrado perto de uma lata de lixo e vejo que eu devo ter me ralado quando saltei da viatura, um ferimento superficial do lado direito do rosto não mata né? Então um alce gigante e roxo caminha do fundo do beco até a entrada dele, eu me espremo um pouco na lata de lixo pra ele ter um pouco mais de espaço pra passar, eu quase consigo tocar nele...Não, ele não existe, minha mente está pregando peças em mim novamente, eu tenho que me manter sobre as rédeas da sanidade. De repente eu sinto uma porrada na boca do estômago, eu fico com vontade de chorar e de lagrimar, mas eu não tô na segunda série, né. Eu ponho a mão no meu coldre dentro do meu sobretudo e não sinto a minha arma, aquele merda do Beckerson deve ter roubado ela de mim, eu vou ter que resolver isso na mão, igual antigamente, eu olho pro filho da puta que me acertou, ele tá com a mão suja de bebida e chorume pegando no meu ombro, ele tá tentando dizer alguma merda, melhor eu ouvir o que ele ta dizendo.
— Carteira aí?
— Porra...O Quê?
— Carteira.
Eu solto um puta suspiro, não vou ser roubado por um mendigo cracudo.
— Eu já fui roubado hoje, amigão, tenta outra.
— Trocado.
O filho da puta tá desesperado, é mais fácil bater neles quando eles estão desatentos.
— Eu tenho...Calma aí...
Eu ponho a mão no bolso e finjo que tô pegando algo, eu então acerto um soco relãmpago na cara do mendigo rampeiro e o chuto na cabeça quando ele cai no chão. Ele cospe um pouco de sangue enquanto eu checo se ele tem alguma coisa nos bolsos...Nada, só algumas seringas, que bela bosta. Então todos os outros mendigos no beco saem correndo, e logo logo eu percebo o por quê, três homens usando calças cargo camufladas, camisas brancas e suspensórios, eles são carecas também, não demora muito pra eu juntar as peças e perceber o que está prestes a acontecer, eles se aproximam de mim e do mendigo e me confundem com um deles.
— Eaí, Tiozão.
Ele olha pro mendigo que eu surrei.
— Gosta de bater nos neguin, né?
— ...
Um skinhead me cerca e fica parado atrás de mim.
— Tu tens sangue negro?
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Acid Nights
General FictionAnos 80, no auge das baladas com cores vibrantes...Um fanático religioso massacra uma discoteca na zona sul, fazendo com que o detetive Matthew Sullivan, já em decadência, entre em uma busca implacável por um homem fora de si.