Imaculado

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Seus olhos se abrem lentamente, a claridade incomoda o fazendo se arrepender profundamente de não ter fechado as cortinas na noite anterior.

O som estridente de seu despertador o impedia de voltar a dormir, Manjiro já acordava de mal humor todos os dias e o barulho alto só o deixava com mais vontade de dar um soco em alguém.

Ignorando seu desejo de ficar na cama, ele se levanta. Estica os braços, se espreguiçando como um gato após uma longa soneca, um murmuro saindo entre seus lábios enquanto fechava seus olhos com força.

Em menos de dois minutos estava pronto para tomar café, catando uma blusa qualquer em seu cesto de roupa e só prendendo seu cabelo em um meio rabo de cavalo — prometendo para si mesmo que lavaria e faria uma boa hidratação durante a semana — os fios agora um pouco mais curtos que o normal não o deixando prender completamente.

Assim que chega na cozinha, antes mesmo de começar a reclamar sobre o quanto odeia acordar cedo, escuta um suspiro histérico e passos apressados até si, Emma — sua irmãzinha alguns meses mais nova — puxa seus rosto em mãos, analisando-o com todo cuidado do mundo.

— Mikey?! O que aconteceu com seu olho? Está doendo? — Pergunta preocupada, fazendo o mais velho ficar curioso.

— Eu não me machuquei..? — Responde, mesmo que em um tom de dúvida. Ontem havia passado o dia todo em casa, sem nem mesmo chance para uma briga de rua. — Tá tão ruim assim?

— Ele tá super inchado, certeza que não tá doendo? — Ela toca levemente abaixo de seus olhos, contornando o hematoma grande ali. — Será que..será que aconteceu de novo? — Sussurra, como se doesse fisicamente perguntar aquilo.

Ele conseguia ver que os olhos verdes transmitiam empatia e tristeza.

Já fazia uma semana que não brotava um novo hematoma em sua pele e o fato de ter voltado com um bem visível, o deixou um pouco assustado.

Desde que ele se conhecia por gente o termo soulmate estava presente em sua vida. Uma pessoa para ser sua da mesma forma que você era dela, alguém que te entenderia em todos os sentidos, alguém para te acompanhar, para conversar, compartilhar sua vida, para amar.

Haviam muitas formas de encontrar sua alma gêmea, as marcas de alma — tatuagens que duas, as vezes três pessoas, compartilhavam e se completavam assim que se tocassem pela primeira vez — o daltonismo — você só conseguia enxergar verdadeiramente as cores das coisas quando entrasse em contato com seu soulmate — as primeiras palavras — esse era o mais comum, a primeira frase que sua alma gêmea diria para você, ficaria escrita em seu pulso.

E a mais rara, o compartilhamento — onde qualquer hematoma, contusão, arranhão que sua alma gêmea adquirisse também apareceria em sua pele. —

Compartilhamento esse que fazia Mikey sempre aparecer cheio de hematomas, mesmo nunca tendo apanhado em sua vida. Era uma pessoa forte, talvez a mais forte entre seu ciclo de amigos, conhecidos, não era atoa que era campeão nacional de artes marciais, um prodígio. Seu talento fez com que ele nunca se machucasse, em todos os seus dezessete anos de vida ele nunca teve uma contusão em sua pele que fosse de fato sua.

Ao contrário de sua alma gêmea.

Começou com um tom avermelhado esquisito em seu rosto quando ele tinha quatro anos, assustando seu irmão mais velho e seu avô que estavam prontos para denunciar quem quer que tivesse batido no loirinho, que na época não entendia muito bem.

Sua família de certa forma esqueceu o ocorrido, voltando a se lembrar quando a marca exata de cinco dedos se fez presente em sua garganta, uma óbvia tentativa de estrangulamento. Assustados, ainda mais com o garotinho falando que ninguém havia feito nada, ele foi levado ao médico e o seu diagnóstico os deixou ainda mais surpresos.

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