Quinta-feira, 10 de novembro de 2022.
Acordei nem vontade nenhuma de levantar, a noite foi extremamente longa e sem descanso nenhum, levantei já sabendo que não estava nem um pouco legal. Eu não conseguia tirar o rosto daquele homem da minha cabeça, os seus trejeitos e a forma como falava mesmo estando dentro de um ônibus lotado. Me peguei pensando várias e várias vezes se eu era a culpa do que quase aconteceu comigo aquele dia, se tudo isso tem conexão com os meus traumas do passado. Não sei.
Era de manhã, pedi para que o André me levasse ao trabalho pois estava completamente apavorada com o que tinha acontecido na noite anterior, em todo o caminho ficava olhando para os lados com medo do homem desconhecido aparecer e me ver novamente.
Cheguei na agência, organizei todos os meus equipamentos de trabalho e fui pegar café com a minha amiga, em meio às notícias contei em poucos detalhes o que tinha acontecido, um homem me abordou no ponto de ônibus da faculdade e me seguiu até o ponto final onde ficou me esperando com seu carro, sabíamos que apenas pelo andar da história, boas intenções ele não tinha. Ela ficou chocada, me ouviu e me confortou dizendo que não iria acontecer nada. Voltamos para sala e meu gerente perguntou se estava tudo bem, naquela hora não aguentei, já estava guardando muita coisa dentro de mim, a minha amiga contou depois que eu comecei a chorar e não conseguia falar. Todos ali ficaram indignados, mas no final das contas sabiam que não podiam ajudar.
Esse dia foi uma tortura, manhã e tarde sem produtividade nenhuma. Era um dia de sol, mas comecei a sentir muito frio e minha temperatura corporal começou a subir.
Quando cheguei em casa, não conseguia dar conta da quantidade de pensamentos e questionamentos que aconteciam simultaneamente na minha cabeça, será que tudo aconteceu por minha culpa? Será que o meu medo atraiu? Será que a minha forma de responder gerou interesse nesse homem? Será se realmente eu posso ser a culpada? Ou pior, se eu não tivesse feito aquela ligação, será que estaria viva?
Comecei a pensar em tudo se caso acontecesse algo comigo e aquilo começou a me enlouquecer.
Eu só queria calar todos aqueles pensamentos, eu não aguentava mais, eu queria pelo menos um dia desligar e ficar em paz. Então tomei aquele remédio.
Pela primeira vez em meses não me senti sobrecarregada, não questionei a minha vida, não quis desistir de tudo.
Mas sabemos que o efeito não é duradouro...
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Turbilhão
Ficção GeralPensamentos obsessivos que ficam difíceis de distinguir o que é realidade e o que é projeção da sua imaginação e dos seus sentimentos em meio a sua rotina.