01: Tentando chegar à frente na vida

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01:
Tentando chegar à frente na vida 

Sanji retirou o cigarro que ainda estava na metade da boca, bateu a ponta contra a parede de concreto para apagar e jogou na lata de lixo comemorando silenciosamente a cesta marcada

Ele sorri ao se apoiar na parede de concreto chapiscado sentindo a irregularidade desconfortável contra as suas costas com as mãos enfiadas nos bolsos laterais de sua calça para evitar qualquer tipo de nervosismo enquanto esperava para o cheiro de fumaça sair um pouco de suas roupas.

O primeiro cigarro do dia havia sido após o café, cerca de duas ou três horas atrás. Seu ritual matinal era um ciclo inquebrável a quase dois anos e começava com um banho, depois levar o cachorro para uma volta, café fresco e nicotina, só então ele podia dizer que estava acordado. Entretanto apenas metade de um cigarro em o que pode-se dizer um, consideravelmente, longo espaço de tempo entre o pós-café e quase o horário de almoço já era uma vitória para Sanji.

Faziam apenas cinco minutos desde que ele e os outros integrantes temporários do Grupo de Apoio foram liberados para um intervalo, caso quisessem usar o banheiro ou pegar um café antes da última parte da sessão. Era uma desculpa esfarrapada, obviamente.

O que ninguém dizia é que os dez minutos entre os dois períodos de vinte a trinta minutos da reunião eram para aqueles que estavam se contorcendo desconfortavelmente na cadeira, batendo os pés e balançando as pernas ou roendo as unhas. Ainda assim, eles simplesmente fingiam que ninguém iria sair para fumar um cigarro ou tomar qualquer bebida alcoólica ou sabe-se lá quais outros vícios aquelas pessoas tinham, afinal, uma das regras do grupo era não revelar seu vício e quaisquer outros detalhes pessoais. 

Segundo um dos conselheiros voluntários, Coby, o motivo estava em não trazer aquela parte ruim como um pedaço de si, como algo que deve ser apresentado da mesma forma que um nome ou a idade seriam. Exceto no último dia, quando a despedida exige que você deixe algo para trás, incluindo o seu vício.

— Se você está frequentando o grupo para superar essa parte, essa fase da sua vida, você não deve apresentá-la como parte de você, de quem você é — Coby disse no primeiro encontro com um sorriso largo e os olhos redondos examinando cada um dos presentes. 

Fez sentido para Sanji, até porque ele também não queria saber quais outras coisas eram possíveis e acessíveis para ele se agarrar quando estivesse caindo. 

E Sanji também não queria expor suas fraquezas, esquartejar seus sentimentos e deixar que aquelas pessoas desconhecidas apontassem seus motivos, calculassem suas razões e no fim, chegassem à conclusão de que não era o suficiente. 

Após o acidente que fez com que seu maior sonho desde sempre fosse jogado para o lado, quando sua mente se concentrou na pequena porcentagem de chance de retornar a companhia caso a cirurgia e as sessões de fisioterapia deixassem seu joelho como novo, Sanji ouviu muito isso, sobre o quão jovem ele era para já estar desistindo de tudo na primeira decepção, como se mais da metade de sua existência não tivesse sido investida naquilo e o futuro baseado e planejado sob medida tendo ele de base.

Os remédios aliviam a pior parte da dor, todavia no final era só uma falsa sensação de liberdade, no dia seguinte ela estava de volta com pontadas esporádicas e uma queimação irritante que se espalhava por toda a sua perna. Sanji ainda não estava recuperado, nem perto disso, andar e se sentar doíam, ficar de pé significava todo o peso em seu joelho e apenas pensar em dobra-lo já ardia até os ossos. 

Em dois meses ele desistiu das sessões de fisioterapia que não pareciam lhe trazer nenhuma melhora e buscou algo que pudesse entorpecer de imediato não só a dor física, mas também os seus sentimentos, assim vieram as longas noites regadas por bebidas e a nicotina embaçando sua visão.

As minhas cicatrizes de arte - ZoSan | One Piece Onde histórias criam vida. Descubra agora