Capítulo 1: A lenda de Rostwood

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— Espera aí!? — exclamou Kelly Turner confusa. — Quer dizer que seu pai nunca quis que você saísse de casa? Então o que você tá fazendo aqui com seu irmão?

— É, e indo justo para um dos lugares mais perigosos do mundo? — completou o menino chamado Pyke Buster ao lado dela. — Vocês fugiram, é?'

— Não! Eu... é complicado — acrescentou Artur desviando seus olhos encabulados para a pilha de barris ao lado das caixas fechadas onde o grupo se acomodava para papear. — De qualquer jeito... precisaríamos de uma autorização para vir, se esqueceu?

— Que você poderia muito bem arrumar de qualquer outro adulto — argumentou um menino de cabelos ondulados cujo nome já o havia escapado da memória. — Fala sério, foi seu pai que deu a vocês permissão?

— Eh...

— Como? O ameaçou?

— Cla-claro que não!

— Então o enfeitiçou?

— Não sou um feiticeiro!

— Como se precisasse ser um — murmurou o jovem Buster com um sorriso desdenhoso naquele rosto de pele morena repleto de sardas, por baixo daqueles cabelos negros e levemente arrepiados.

— Meu irmão só tem oito anos e eu, mesmo se soubesse conjurar feitiços, jamais lançaria um contra o meu pai, tá? — manteve-se firme.

— Então... o que aconteceu? — perguntou a menina Turner visivelmente interessada.

Aquela jovem era a única garota recrutada para aquela embarcação. Seus cabelos escuros, volumosos e suavemente cacheados repartiam-se no centro da cabeça e recaiam pelas laterais de um rosto fino e pequeno até os ombros desnudos.

— Sei mais ou menos o que aconteceu — informou o rapaz alto e musculoso de pé logo atrás, seu nome era Scott Raymond.

Seus cabelos loiros e lisos que tombavam sobre a nuca esvoaçavam à medida que o vento atingia aquele espaço.

— Acompanhei de perto algumas coisas, — continuou ele —, mas eu também não entendi muito bem o que houve, por que não conta para a gente, hein Artur? — sugeriu com seu sorriso carismático e formoso.

Ao reparar como um mero ouvinte outras pessoas compartilhando coisas do passado tão espontaneamente ali, parecia até ser uma coisa fácil de se fazer, mas o menino Allen se perguntava se fora de fato uma boa ideia começar a se abrir para estranhos. Havia algumas coisas que poderia ser melhor guardar a sete chaves, coisas que poderiam lhe transformar até mesmo em um alvo fácil de julgamentos e pôr em risco a nova trajetória que se iniciava na sua vida.

Aquela tarde pitoresca e arejada propiciara um clima aprazível de conversa e descontração naquele convés, circundado por uma imensidão de água para onde quer que a vista alcançasse. Eram curtos os momentos de descanso durante aquelas semanas exaustivas no mar, mas todas as pausas pareciam ser únicas.

Era incrível se ver rodeado de pessoas da sua idade assim, interessadas no que ele tinha para dizer, com seus olhos fixos e curiosos voltados para ele. Artur jamais imaginou que faria tantos amigos assim algum momento. Logo uma pessoa que passara toda infância com somente uma companhia, companhia esta que, por sua vez, mal podia ver em seu dia a dia e que agora estava a milhas de distância.

O rapaz voltou seus olhos contemplativos para as velas brancas e distantes que balançavam serenamente com a força do vento. Depois, os repousou sob um garotinho que trabalhava lavando o assoalho de madeira com um esfregão a poucos passos de si.

Rostwood: A aurora da jornada (PT/BR) - PréviaOnde histórias criam vida. Descubra agora