Prólogo

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Rio de Janeiro, Fevereiro de 2049.

Os olhos da mulher acompanhavam com atenção a chuva que caia fortemente fora do hospital. Tinha suas costas recostada na poltrona, uma de suas pernas por cima da outra que estava dobrada e seus dedos mexiam no pingente do colar que enfeitava seu pescoço.

Pela primeira vez em alguns dias, sua mente não estava mais tão barulhenta, talvez fosse a tempestade que estava lhe lavando também por dentro. Aquela chuva poderia ser facilmente o reflexo da sua pobre alma, poderia ser Deus compartilhando consigo da sua angústia ou poderia apenas ser só mais uma chuva.

O som irritante do monitor de sinais vitais era a única coisa que se poderia ouvir naquele quarto, talvez se alguém prestasse atenção também conseguiria ouvir a respiração leve da que estava sobre a cama de hospital.

"Chove muito?"

Em falar nela, a mesma havia despertado do sono tranquilo. Os olhos que antes eram concentrados na paisagem fora dos vidros da janela, estavam focados na figura deitada e ela se levantou para se aproximar levando a mão até seus cabelos.

"Bastante." Murmurou baixo lhe lançando um sorriso curto. "Sede?"

Vendo a outra assentir, pegou com cuidado o copo que continha um canudo e levou próximo dos lábios alheios para que pudesse ingerir o líquido. Depois, colocou o objeto sobre a mesa e voltou seu olhar para a mulher observando-a piscar devagar.

"Ainda tá com sono, por que não dorme?"

Não obteve respostas de imediato, apenas recebeu um balançar de ombros e logo depois uma pergunta.

"Você pode ler?"

"Claro."

Puxou então a poltrona que antes ficava perto da janela e com as folhas tão conhecidas por ela, se sentou outra vez tendo sua mão segurada e a atenção completa da outra sobre si.

E se preparou para fazer o que fazia todas as noites nas últimas semanas. Ler para ela.

LEMBRE-SE DE NÓSOnde histórias criam vida. Descubra agora