1. Piloto

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- Clarise, minha filha, você não acha que está a muito tempo lendo esse livro? - Catarina, minha mãe, fala entrando no meu quarto provisório de nossa nova casa - Faz dois dias que viemos morar com sua vó e você nem saiu para explorar o campo.

- Desculpa mãe, mas eu gosto de ficar aqui lendo - Eu definitivamente não estava a fim de sair por aí sem rumo nessa floresta, ela é até bonita, mas essa cama é muito confortável e meu livro é muito mais interessante - Eu posso ajudar a vovó a regar as plantas mais tarde - Dou um sorriso tentando convencer a mulher em minha frente, mas parece não funcionar.

- São dez da manhã e você já está lendo Clarise, vai andar por aí e volte até o almoço - Ela cruza seus braços e fecha sua cara - As vezes você nem parece uma adolescente de dezessete anos, vai viver.

Ela não deixa eu falar mais nada e sai do quarto, me deixando sozinha novamente com meus livros e a poeira do quarto abandonado que havia ficado para mim, óbvio. Se bem que coisas assim combinam bem comigo, sempre gostei de coisas antigas e velhas.

Decido então fazer o desejo de minha mãe e "explorar" essa floresta, ou campo, como ela disse. Eu não sou muito fã de andar em lugares assim, e tenho quase certeza que posso me perder, por isso vou levar meu celular.

Levanto da cama e consigo ouvir minhas costas estalando com meu movimento, talvez minha mãe estivesse certa em mandar eu ir andar.

Paro na frente do espelho e penso se me arrumo ou não, no fim apenas pego um elastico e prendo meu cabelo em um rabo de cavalo.
Continuo com meu vestido florido e coloco minha sandália branca.

- Mãe, vó, estou indo - Saio do quarto indo em direção a sala, avisando as duas que estava de partida.

》◇《

Okay, minha mãe estava totalmente certa em mandar eu vir dar uma volta pelo campo, em vários anos, essa é a coisa mais linda que já pude ver, cresci em cidade grande, e nunca havia tido a experiência de contato de verdade com a natureza, e é extraordinária a beleza dela.
Me perco no barulho dos pássaros, nos sons de outros animais pequenos e o cheiro de mato em meu nariz - tudo bem que o cheiro do mato não era tão bom, mas era de certa forma agradável de se sentir.

Sorrio e saio andando capturando cada detalhe que eu possa conseguir lembrar em minha mente, é tudo tão lindo, me sinto totalmente perdida nesse tamanho caminho de informações novas que eu estou explorando, nem parece que a meia hora atrás eu estava reclamando de ter que vir andar em um lugar desconhecido.

O sol quente bate em meu rosto e eu paro por um instante, sentindo o calor gostoso que ele me proporciona, sempre reclamei do sol, mas aqui ele parecia tão bom, que nem me importei com o calor.

Logo avisto um esquilo a minha frente, eu nunca tinha visto um pessoalmente em toda a minha vida - Ei, vem cá amiguinho - Falo me aproximando com calma, mas o animal sai correndo em direção a uma árvore perto de um rio cercado de pedras.

Me perco do pequeno e decido continuar indo para o rio, era lindo. Vejo várias flores pelo caminho, pego uma e coloco em meu cabelo para não perder, e poder dar para a minha mãe quando chegar em casa, era a cara dela.

Vejo um pé de frutas azuis florescentes no qual eu não sabia que existiam, automaticamente minha boca se encheu de água e minha barriga roncou levemente, era como se a fruta estivesse me chamando e pedindo para que eu a comesse.

Sem pensar, pego aquela fruta em formato de morango e dou uma mordida, o gosto era totalmente diferente de qualquer outra coisa que eu já teria comido, e a textura era tão macia que eu queria morder aquilo para sempre. Após comer a fruta inteira em um piscar de olhos, pego mais um bocado e continuo comendo enquanto continuo minha caminhada.

Chegando perto do rio sinto uma pontada enorme em minha testa, como se uma agulha estivesse perfurando todo o meu crânio com muita força, solto oque sobrou das frutas no chão e aperto minha cabeça com dor.
Tento andar para me sentar em alguma pedra, mas minha visão fica turva e minhas pernas ficam adormecidas rapidamente, a última coisa que consigo sentir é meu corpo bater com força na água e afundar.

》◇《

Abro meus olhos e está de noite - Eu, desmaiei?

Tento me levantar do chão mas ainda me sinto tonta, acabo que apenas me sento na grama - Minha mãe vai me matar - Falo comigo mesma pensando já na bronca que iria tomar ao chegar em casa.

Olho em volta e não consigo entender onde estou, não era o mesmo lugar, muito pelo contrário, era totalmente diferente. No lugar de árvores existiam vários cogumelos gigantes de provavelmente uns seis ou mais metros de altura, e outras plantas brilhando.

Minhas roupas estavam secas e eu estava descalça, meus cabelos estavam soltos e bagunçados, como se eu tivesse andado por horas e horas, o que aconteceu?

- Eu tô sonhando?

Me belisco com força e para a minha surpresa, dói - Não é possível.

Finalmente não me sinto mais estranha e consigo me levantar do chão, parecia que a gravidade me puxava com muito mais força pro chão, dificultando eu ficar de pé direito.

Isso não está certo, por que eu não acordo? E por que eu consigo sentir dor se estou dormindo?

Eu só quero a minha mãe.

Ouço um barulho enorme vindo em minha direção, tento correr o mais rápido possível para trás de um desses cogumelos enormes me esconder, tudo bem que era um sonho - Ou não - Mas eu ainda estava morrendo de medo e sem entender nada disso.

Uma mulher muito maior do que o normal vem correndo, ela tinha chifres da cor de sua pele rosada, cheia de pelos da mesma cor e no lugar de seus pés haviam patas.
Eu quis gritar, correr para o mais longe possível dali, mas eu estava paralisada. A única coisa que eu fiz foi chorar e tampar minha boca encolhida atrás do cogumelo.

Ouço outro barulho e tento ver o que seja lá isso agora. Consigo me mexer e coloco um olho pro lado e vejo outra "mulher". Um monstro.

Ela corria em direção a outra criatura que eu tinha visto antes, essa parecia muito mais forte, e maior que a passada. A besta solta um grito estrondoso que machuca meus ouvidos, fecho meus olhos com força e tampo eles rapidamente.

Quando abro meus olhos vejo a segunda criatura de seis olhos comendo a primeira, seus dentes e sua boca eram gigantes. O marrom de sua pele se misturava com o vermelho brilhante do sangue de seu alimento. De alguma forma era lindo, mas ainda assim amedrontador.

Parecia que eu estava dentro de um livro de conto de fadas.

Tampo novamente minha boca e me escondo agachada sem fazer barulho.
Não sei quanto tempo fiquei ali chorando sem me mexer, mas volto pra "realidade" quando sinto algo grande no formato de uma mão encostas em minhas costas.

- Oi? - Sua voz era mais alta que o normal e grave, como se saísse de um filme de terror. Sinto minha respiração travar juntamente com meu corpo.

Eu quero ir pra casa.
Acorda Clarise.
Penso gritando em minha mente repetidamente.
Por favor, seja um sonho, por favor.

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