— Você tá bem? — A voz alta se repete, viro minha cabeça com medo, mas para a minha surpresa o dono daquela voz não era um monstro, muito pelo contrário.
Parecia até então ser apenas um rapaz, ele não parecia nada com aquelas criaturas medonhas que eu estava me escondendo agora pouco. Sua pele era morena e seu cabelo encaracolado da cor amarela, por um instante me perco olhando para os detalhes de seu rosto, feliz por estar vendo algo humano.
Ele agacha para ficar em minha altura, com certeza ele deveria ter quase dois metros de altura, caso não tivesse.
— Você sabe falar? — Ele continua falando já que eu não havia dito uma palavra desde então.
— Sei — Falo receosa, ainda com medo dele fazer algo comigo.
— Ainda bem então — Ele sorri e revela seus dentes totalmente afiados como de tubarão.
Me afasto encostando mais ainda naquele cogumelo enorme na tentativa de me proteger.
— Eu tô ficando maluca? Aquela fruta — Especulo — Ela deve tá me fazendo ter alucinações.
— Em vez de ficar falando sozinha por que não fala comigo? — Era ele de novo — O que uma criança como você está fazendo sozinha na floresta?
Ele tá brincando com minha cara? Esse garoto deve ter a minha idade, por que tá me chamando de criança?
— Eu não sou uma criança, eu tenho dezessete — Tento ficar de pé, mas caio com a força da gravidade me puxando.
— Me desculpe, você é pequena demais para uma elfa adolescente — Ele levanta e me dá a mão para me ajudar — Não quis te ofender ou algo parecido.
— Elfa? Okay eu tô alucinando por causa daquela fruta azul — Pego na mão dele e consigo ficar de pé — Olha, eu sou uma humana, não uma elfa, elfos nem existem.
Por um momento penso novamente naquelas feras se matando — NADA DISSO EXISTE — Meu grito não parecia nada com o som de tudo que existe aqui.
Eu não posso acreditar que eu acordei em um lugar totalmente maluco, eu não sei como vim parar aqui, mas quero ir embora agora.
— Olha, por que você não se acalma? Eu tenho certeza que assim tudo vai ficar mais nítido, não? — Ele parecia sentir empatia por mim, de verdade, então eu tento me acalmar, aliás, ele pode me ajudar a entender onde estou e o que aconteceu comigo.
Se isso for um sonho, uma alucinação, ou se eu realmente cai do nada em um mundo de conto de fadas como se fosse a coisa mais normal que pode acontecer com uma adolescente.— Okay, olha eu não sei onde eu tô, ou o que aconteceu comigo, eu estava andando na floresta quando desmaiei e acordei aqui — Tento lembrar o máximo de detalhes possíveis — Eu só quero minha casa, minha mãe e minha realidade, eu não pertenço a esse lugar, por favor.
Minha cabeça estava a mil, eu parecia mais ou menos calma por fora, mas por dentro eu estava surtando. A única coisa que eu queria fazer agora era gritar e chorar até milagrosamente eu acordar no meu quarto empoeirado e velho, mas isso parecia que nunca iria acontecer.
O garoto, ou sei lá o que seja ele, passa a mão pelo seu cabelo jogando ele para trás como se estivesse pensando sobre minha fala. Consigo reparar que suas orelhas eram gigantes e pontudas, será por isso que ele achou que eu era uma elfa? Achou que eu era igual a ele por eu também ter rosto de um humano.
— Você é uma humana? — Pela primeira vez eu vejo ele fazer uma expressão sem ser neutra — Okay, agora eu que estou alucinando, isso é impossível — Ele dá risada como se tivesse nervoso.
— Eu estou tão surpresa quanto você, na verdade até mais, EU estou em um lugar desconhecido, você tá em casa — Por algum motivo eu não tinha medo, não dele.
— Pra uma garotinha perdida você tá até que falando muito bem.
Não falo nada, até porque eu preciso dele se quiser ajuda de alguém, e ele não tem cara que me machucaria, mesmo tendo esses dentes horríveis e pontudos.
— Vai me ajudar?
— Conheço alguém que talvez possa ajudar você, mas só te levo amanhã.
— Okay, eu só quero ir embora.
Eu realmente queria ir embora, vou dormir aqui, e se for mesmo um sonho eu vou ter a felicidade de acordar em casa, se não, eu realmente estou vivendo um pesadelo sem explicação. Espero que seja a primeira opção.
— Já que vamos fazer isso só amanhã, vou te levar pra minha casa — Ele começa a andar mas para em seguida — Calma, você não vai tentar me matar ou me roubar durante a noite né? Sua história é mesmo verdade?
— Eu que deveria estar preocupada se você vai me matar, lembre-se que eu sou a humana indefesa nessa história.
— Hum, verdade — Ele coça sua barba imagina e então sorri, seus dentes me dão medo — Meu nome é Iston, o sábio, combina bem comigo né? — Okay elfos tem senso de humor.
— Clarise, só Clarise.
— Então vamos, só Clarise — Iston anda em direção a um caminho de pedras que vai para dentro da floresta sombria.
Tento acompanhar seus passos largos e rápidos mas não consigo, novamente me desequilíbrio por causa da gravidade estar me puxando cada vez mais para baixo com muita força, tenho certeza que não conseguiria nem dar um pulo caso necessário.— Ei, eu não consigo — Falo me apoiando em uma pedra enorme ao meu lado para não cair no chão.
— Hum — O garoto se vira em minha direção resmungando e pisando forte, como se fosse uma criança fazendo birra — Vem, sobe — Ele agacha já perto de mim e vira as costas, com muita dificuldade eu consigo subir em cima dele e Iston segue caminho como se eu não tivesse peso nenhum.
Me perco pensando em minha mãe, em como ela deve estar procurada comigo, e se sentindo culpada por ter mandado eu ir andar pela floresta. Fico o caminho todo pensando nela e em minha vó, em como a única coisa que eu queria nesse momento era estar abraçando elas e falando que eu estou bem e até ouvindo elas me dando uma bronca por ter sumido assim do nada.
Eu vou fazer de tudo para conseguir voltar pra casa, voltar para minha família, eu não sei como eu entrei nesse lugar, mas eu sei que de alguma forma eu tenho que sair.
— Não chora, tá molhando meu pescoço — Depois de algum tempo quieto ele decide falar de novo.
Não sabia quando comecei a chorar, mas meu rosto estava todo molhado, e consequentemente o pescoço e o ombro do meu novo companheiro de estrada também, ou sei lá como posso me referir a ele ainda, só sei que mesmo ele sendo diferente de mim, ele parecia ser bom.
— Desculpa — Falo tirando uma das mãos de apoio e esfregando em meu rosto — Não percebi.
— Não tem problema, e aliás — Ele para de andar — Chegamos, bem-vinda a minha casinha.
A casa dele era pequena, um tamanho dando a entender que ele morava sozinho, mesmo parecendo tão novo. Em volta estava cheia de plantas cercando e subindo pelas paredes de madeira da cabana.
Era um ambiente agradável, se eu não estivesse em um mundo totalmente diferente eu diria que adoraria morar nela.— Vamos, pode entrar, por enquanto a casa é sua também.
Olho para ele e sorrio ainda com meus olhos molhados, mesmo em meio a toda essa maluquice parece que posso ter feito um novo amigo.
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Sonho Azul
FantasyClarise era apenas uma adolescente que amava ler livros de conto de fadas, quando por acidente acaba caindo dentro de um mundo místico após comer uma fruta achada em uma floresta. Agora, em um lugar desconhecido e cheio de criaturas que ela achava...