Me and Him | jjk + pjm

Capítulo Único

Capítulo Único

"Na juventude, aprendemos; na maturidade, compreendemos."

Marie Eschenbach

Hoje durante a aula de literatura li uma citação que dizia que o amor era como um câncer. Eu odiei a comparação porque minha avó teve câncer e eu daria tudo para ela ter só se apaixonado. Se apaixonar não pode ser tão letal e horrível assim, algumas comparações são apenas estúpidas. Eu não contarei isso para minha mãe, embora todo dia eu conte tudo para ela, porque sei que ela ficaria triste e eu quero animá-la até ela decidir acordar. Hoje também faz 100 dias que ela está em coma, desde o acidente, e a última coisa que eu quero é fazê-la se lembrar da vovó sendo que ela morreu faz só um ano e eu sei que ela ainda chorava escondido por ela.

Minha mãe voltava do supermercado, depois de ter ido comprar chantilly e cobertura de bolo, quando aconteceu. Um caminhão perdeu o controle e destruiu a frente do carro dela. Desde então ela passou por quatro cirurgias e agora estava em coma e ninguém sabia quando ela acordaria. Todo dia eu saía do colégio e ia direto para o hospital. Meu pai desistiu de me impedir e apenas esperava eu chegar em casa à noite. Eu comia algo na lanchonete do hospital e fazia os deveres ali mesmo, para logo eu poder entrar no quarto dela, nas poucas horas de visita permitidas. Não era todo dia que eu podia vê-la, mas eu continuava ali. No início eu ficava apenas em silêncio, lutando para não chorar e repetindo um mantra mental de, "por favor, acorda". Depois que li que conversar com pacientes em coma poderia estimulá-los, eu lhe contava todo o meu dia, histórias que lia, cantava ou apenas chamava por ela baixinho. Tinha vezes que era doloroso demais, e outros em que eu tinha toda a esperança do mundo e falava até quase perder a voz. Hoje era um dos dias dolorosos.

A lanchonete do hospital estava fria e sem graça como sempre, mas parecia pior. Eu não tinha fome e tinha apenas pegado um copinho de café na máquina, e sequer havia dever ou trabalho para fazer, então eu poderia só ficar sentado, encarando o copo de isopor. A TV estava praticamente no mudo e passava alguma coisa desinteressante, o local estava bem morto. Normalmente ficava cheio até as 15h, quando eu poderia visitar minha mãe, mas era um dia anormalmente parado ali. Pelo fato de serem 100 dias já eu me sentia tão pequeno e ridículo que poderia passar a tarde abraçado à minha mochila, quieto, tentando não chorar e nem ir visitá-la. Ainda assim meus ombros pesavam e meus olhos ardiam um pouco pelo pouco sono que eu vinha tendo.

Um barulho na máquina de café chamou minha atenção, já que fora alto e algo a mais poderia ter acontecido. Olhei sem vontade para o lado, na parede onde a máquina estava encostada e vi um garoto apanhando da máquina. Parecia que ele nunca tinha mexido em uma antes e não sabia que botão apertar direito. Daí percebi que o café simplesmente não saía. Pisquei e já havia me levantado sem um motivo muito claro, andando em direção a ele.

Era menor que eu, mais franzino e ainda usava roupas que pareciam ser de um número maior. O cabelo castanho precisava de corte e estava bagunçado, quase da mesma forma que o meu e de todos os meus colegas de sala. Talvez adolescentes apenas fossem extremamente desleixados mesmo, uma moda natural nossa. A primeira coisa que reparei quando o alcancei era que suas mãos eram bem pequenas, quase escondidas pelas mangas do suéter grande dele. Seu indicador pairava sobre um dos botões, ele hesitava sem saber o que fazer e o copo estava vazio.

- Hm, precisa de ajuda? – perguntei, limpando a garganta. Ele levou um susto grande, se virando para mim e arregalando os olhos. Parecia tão mais novo que eu, mas eu poderia jurar que não era tanto assim.

- O-o café. – ele gaguejou inicialmente. Deus, se eu estava me sentindo inferior e um pouco miserável ele parecia pior do que eu. Não no sentindo de ofendê-lo, mas o mesmo parecia mais frágil que eu, inclusive sua pele estava um pouco pálida e sem cor.